- Capítulo 3 -

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Aquilo não podia estar acontecendo de jeito nenhum. Um castelo não era o meu lugar. Era o de Marina. Ou seja, meu pior pesadelo tinha acabado de começar.

O telefone começou a tocar e papai foi atender. Ele olhou sério para nós como se falasse "se uma encostar na outra, as duas estão ferradas". Marina me olhou com o olhar mais frio e cortante do mundo, mas cheio de mágoa, como se aquilo fosse minha culpa. Uma lágrima escorreu de seu olho e ela foi direto para o nosso quarto. Caí no sofá com a mão nos olhos. Minha garganta estava queimando por tentar segurar o choro. Apertei um lugar perto da sobrancelha com a unha para me segurar e não chorar. A Sra. Sachreave estava falando algo sobre como nossas vidas iriam mudar totalmente e essa seria a melhor fase delas. ATÁ.

Papai estava falando o endereço da casa em que estávamos no telefone. Aliás, como eles conseguiram o número do telefone? Eu não tinha colacado no formulário.

Ainda estava apertando a sobrancelha quando papai saiu do telefone e me olhou com compaixão. Ele foi para o quarto falar com Mari e não consegui ouvir muita coisa.

- Isso não é justo, papai! Era pra ser eu! É meu sonho - ela dizia.
- Mas as coisas são assim. Às vezes não era para ser. A culpa não é da Melina.

O diálogo foi quase o mesmo - nas partes que eu consegui ouvir - intercalados de soluços. Papai saiu de lá uma hora depois, quando o Jornal já estava acabando. Ele se sentou ao meu lado.

- Como você está? - ele perguntou.
- Nã... Não sei - disse em um sussurro, deixando um soluço escapar.
- Eu sei que vai ser difícil. Você nunca pensou nessa possibilidade, mas vai aproveitá-la não é?

Eu não queria desapontá-lo.

- Sim - respondi, era uma mentira.

Eu nunca tinha mentido para papai. Uma lágrima caiu, uma lágrima de culpa. Ele me abraçou e eu me derramei em lágrimas.

- Você é tão doce e tão forte. Merece ser muito feliz.

Ele saiu da sala e foi para o quarto dele. Eu com certeza não conseguiria dormir no meu quarto. Fui lá só para pegar meu travesseiro e saí. Marina já tinha dormido. Fui para a porta, e do lado de fora dela tinha uma maçã. Peguei-a e comi. Lá naquele corredor estava muito frio, e só então percebi a manga molhada grudando no meu braço, eu não estava com força de vontade suficiente para trocá-la, então não o fiz.

Não fazia ideia para onde ir, então fui para o orfanato. Eram quase nove da noite, as meninas não deveriam estar dormindo ainda. Bati na porta com o travesseiro numa mão e a maçã na outra. Quem abriu a porta foi Lena. Abri meu melhor sorriso.

- Posso dormir aqui hoje? - perguntei.

Lena me abraçou e disse que sim. Mal consegui passar pela porta e todas as garotas já vieram me abraçar dizendo que eu era uma Selecionada. Preferi não falar que eu não queria realmente ir.

- Calma gente! Assim nós vamos esmagar ela - disse Liza.
- A gente já estava indo dormir - disse Amanda revirando os olhos.
- Mas por que você quer dormir aqui? - perguntou Liza.
- Deu saudade - respondi dando de ombros.
- Ah, tudo bem então. Mas não deixa a Venice saber. É melhor você dormir no quarto das menores.
- Tá.

Elas começaram a me guiar esacada acima, o que acabou virando um tour por todo o orfanato.

- Você vai deitar comigo, né? - disse a menininha de maria-chiquinhas do outro dia, quando chegamos ao quarto delas.

Tinham muitas camas com colchas azuis, travesseiros brancos e bichinhos de pelúcia.

- Claro - respondi bagunçando o cabelo dela.

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