Ouvi um barulho de espirro e abri os olhos. Eu estava deitada na cama no meu quarto do palácio e Kaden estava numa cadeira ao meu lado.
- Me desculpe, não queria te acordar.
- Não... não tem problema - me sentei na cama e me espreguicei. - Há quanto tempo você está aqui?
- Desde que o doutor Philips disse que você poderia vir para cá.
Fui até a janela e abri as cortinas, vendo um céu alaranjado.
- E isso foi quando? - perguntei, meio confusa por causa do entardecer.
- Na hora do almoço, mais ou menos.
- Meu Deus, eu dormi tanto tempo assim?!
- Você estava cansada. É normal.
Senti que Kaden queria dizer algo a mais, então falei primeiro.
- É... Você espera eu tomar um banho para depois conversarmos?
Ele assentiu.
- Vou esperar lá fora - se levantou e saiu.
Depois de tomar banho coloquei um vestido bem solto, fiz um rabo de cavalo no cabelo, arrumei a cama e abri a porta. Ele estava lá, com as mãos atrás das costas e a cabeça abaixada. Quando Kaden levantou a cabeça, ele olhou para mim como se fosse a coisa mais bonita que já tinha visto na vida.
Eu devia estar horrível, com os olhos inchados de tanto dormir, pálida por causa dos dias que me alimentei mal, o verde dos meus olhos devia estar apagado e se duvidasse minhas sardas deviam ter sumido.
Me repreendi por estar pensando nisso. Minha autoestima não ficaria baixa de novo.
Ele entrou no quarto e ficou de pé. Eu disse que poderia sentar na cama. Ele se sentou na ponta oposta da cabeceira e eu me sentei na ponta da cabeceira.
Ele soltou um suspiro e passou a mão no cabelo, me olhando.
- Desculpa - falei, por fim.
Ele pareceu confuso.
- Desculpa pelo o que, Nina?
- Por sumir por tanto tempo e não dar explicação.
Ele balançou a cabeça de um lado para o outro, com os olhos arregalados.
- Não foi culpa sua! Eu que tenho que pedir desculpa por tudo que aconteceu com você. Não pensei que... que eles poderiam fazer isso.
- Kaden - toquei a mão dele. - Seria muito difícil impedir algo assim. Foi tudo muito planejado.
- Mas como aconteceu? Minha mãe tinha me chamado e quando fui te procurar você não estava mais lá...
- Assim que você saiu - comecei - senti algo batendo em mim, abaixei para ver e vi alguém parando a minha frente, mas quando levantei a pessoa tinha saído. Ignorei e peguei o copo e tomei um gole, tinha um gosto meio estranho. Um cara ruivo, que acho que era Nichol, apareceu na minha frente de novo e disse que aquilo era sonífero.
"Eu apaguei e acordei numa cela, com as mãos amarradas. Nichol estava na minha frente e começou a falar algumas coisas, mas uma delas me interessou. Ele meio que disse que minha mãe está viva. É muito estranho, eu sei. Mas então me lembrei que algumas se encaixavam, como o fato de minha mãe se chamar Mariana, e a letra inicial ser M. 'Prisioneira M'", fiz aspas com os dedos. "E também não podemos ver o corpo da mamãe quando ela tinha morrido. É porque ele não estava lá. Apesar de tudo ninguém me explicou nada concreto. Cassemeck, por mais estranho que pareça foi bom comigo. Ele tirou minhas algemas e assim eu fiz uma faca com a minha máscara. Todo dia um cara chamado Susen levava chá e algumas torradas para o dia inteiro. Depois de um tempo Cassemeck disse que eu teria uma chance para fugir, mas seria só essa. Quando Susen e um outro garoto foram me levar até 'ela', eu... eu fugi" poupei os detalhes.
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A Oito
FanfictionMelina vive nas margens da sociedade de Hondurágua, numa vida onde o melhor que ela pode fazer é tirar proveito de qualquer chance que imaginar. Com uma irmã gêmea e um pai, todos dão duro para sobreviver à consequência de sua geração de casta Oito...