F A V O R I T I S M O

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Pela primeira vez em muito tempo, estou tomando chá, sentada no sofá da sala, enquanto na tv passa um documentário sobre Chernobyl.

As pessoas corriam em direção aos ônibus em busca de sobrevivência, mas sem desespero, era nítido o quão pouco elas sabiam da situação, o quão pouco elas estavam preparadas para deixarem tudo que tinham e nunca mais voltar.

Começo a pensar se eu veria esse prédio como um Chernobyl no futuro, um lugar para o qual eu nunca mais pudesse voltar.

Não quero ser pessimistas, as pessoas odeiam isso, mas vem tão natural quanto a tentativa soviética de esconder um desastre que poderia acabar com toda a Europa.

No caso, La Vie En Rose é a União Soviética e eu sou a Europa?

Balanço a cabeça negativamente na tentativa de expulsar esses pensamentos, acho que documentários me deixam meio paranoica. Na verdade eu mesma sou a causa da minha paranoia.

Na TV uma sessão de documentários sobre radiação passam gloriosamente, enquanto tento entender por que estou sozinha na minha sala, tomando chá, as 3 da manhã. Essa é a pior hora do  dia, a hora em que você se lembra que está realmente sozinha, porque pelas horas seguintes você tem que viver em sociedade e as pessoas - mesmo que você não as conheça -, estão ao seu redor.

Quando eu era adolescente meu maior desejo era ficar um pouco sozinha, nunca imaginei que me arrependeria tanto por um desejo.

Coloco minha caneca, já vazia, sobre a mesa de centro e me deito no sofá. 

Já passou da hora de você dormir, Selena.

  ▪▪▪  

Acordo com o interfone tocando freneticamente, enquanto uma luz fraca, invadia a sala pela brecha da cortina e a TV ainda ligada, em um comercial.

Me forço a levantar, desligando a TV e indo até o interfone que não parava de tocar nem por um misero segundo.

 — Eu vou te matar, Cameron. — Digo antes de, finalmente, atender o telefone. — Você sabe que horas são? 

  — Bom dia pra você, também. — Cam, diz sarcástico. — Uma de suas amigas está aqui, eu já deixei ela subir, só to ligando pra você acordar, mesmo. Ah, e esconde essa bagunça na sala, não é legal as pessoas verem que você dorme no sofá da sua própria casa, como se houvesse algum problema com a sua cama.. São 9:26am. 

 — A minha sala não está bagunçada. — Retruco mas, ele já havia encerrado a ligação. — Não hoje!

Coloco o interfone no gancho e olho para o sofá com cobertas e travesseiros e a mesinha de centro com uma caneca vazia e lenços de papel. 

A casa é minha, se eu quiser durmo até no banheiro! - Dou de ombros, prendendo meu cabelo em um coque, enquanto, ia até a mesinha de centro e para pegar minha caneca vazia e os lenços, quando a campainha toca.

Na noite passada, eu havia mandado uma mensagem para Taylor, pedindo pra ela vir conversar sobre, seja lá o que ela quisesse falar pessoalmente. Hoje, não queria ter mandado aquela mensagem. 

 — Bom dia! — Taylor diz me puxando para uma abraço assim que eu abro a porta.  

— Oi! — Murmuro entre o abraço.

Okay, não estou tão arrependida quanto pensei.

— Como foi de viagem? — Ela diz me soltando para entrar.

— Foi... Não sei. — Digo tentando encontrar alguma definição plausível enquanto fecho a porta. — Boa... Eu acho. É relativo! 

— Como assim? — Taylor diz parecendo confusa. — Você não gostou?

Photograph •JelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora