A coletividade

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Lana não apareceu para o jantar naquela noite, e nem Ny. Doomdanru vigiou-os no jantar, com seu olhar sério e disciplinador. Maeara observava todos, enquanto eles comiam sérios e sem muitas brincadeiras - talvez causadas pela ausência da ruiva, que era, com certeza, o elo mais delicado ali. Depois do jantar, todos foram para os seus quartos. Melvino e Meara conversaram um pouco. Falaram sobre Marte. Sobre as expectativas. Sobre o Habitat 32. E dormiram.

Apesar das novidades serem muitas, Meara estava cansada e não demorou muito para adormecer. Por sorte, conseguiu usar o banheiro privado naquela noite, e tudo foi calmo e tranquilo. Sonhou um pouco e não teve alterações durante a noite.

Quando a manhã veio, e o despertador tocou, Meara ouviu palmas no corredor, apressando-os de forma paternal. A voz de Doomdanru, não veio muito depois disso.

- Vamos lá, criançada. - Doomdanru disse batendo palmas no corredor, determinado. - Já está na hora!

- Só mais cinco minutos! - A voz de Tyrone, em um quarto perto dali, veio alta, com sono.

- Tyrone, saia da cama! Vamos lá!

- Meu Deus, isso é o acampamento militar. - Meara riu, virando-se para Melvino e vendo que o rapaz albino estava usando o mesmo pijama listrado azul de flanela do dia anterior, enquanto ela usava um camisão longo e branco. - É todo dia assim?

- Religiosamente. - Melvino brincou, já forçando o corpo a se sentar. - Doom é irritantemente pontual. E odeia que nós não sejamos também.

- Temos estudos hoje, eu imagino. - Meara já se sentiu ansiosa para começar.

- Sim, vamos nos arrumar. - Melvino se levantou e começou a separar escova de dentes, toalha, roupas limpas e colocar tudo dentro de uma delicada sacola que pegou ao lado da cama. - Está frio hoje... alguém deve ter mexido nos dutos de ar. É sempre difícil lembrar que estamos cercados por nada, não é mesmo? E que deve estar uns -70 graus lá fora.

- Nem me fale. - Meara sorriu, levantando também, sentindo-se descansada. - Vai usar o banheiro primeiro?

- Primeiro? - Melvino virou-se pra ela, e então, percebeu a inocência. - Meara... nós vamos usar o banheiro coletivo. Todos nós.

- Ao... mesmo... tempo?

- Sim... e Doom vai estar lá. - Ele viu ela ficando vermelha. - Todas as manhãs são assim, Me...

Meara ficou verde, roxa e depois horrivelmente vermelha com a ideia. Já não bastasse a fêmea ver ela nua, e tocar nela, agora isto. A ideia de todos ali irem ao banheiro juntos, acompanhados do ser enorme que estava no corredor fez Meara sentir-se tonta quase. Não podia ser! Era loucura demais!

- Eu quero este. - Ela disse olhando pro banheiro privado, quente e pronto para ela.

- Ei... escute só... - Melvino se aproximou dela, de forma carinhosa. - É vergonhoso para todos, está bem? Ninguém vai ficar te olhando, todos vão estar bem ocupados com suas próprias vergonhas.

- Eu.. eu não vou... - Meara falou encolhendo-se. - Eu não posso.

- Olhe pra mim, Meara. - Ordenou, sério. - Olhe pra mim, agora. - Esperou a menina subir o olhar. - Você vai comigo e sabe por quê? Porque se não for, Doom vai vir aqui te pegar e vai te levar mesmo contra sua vontade. É melhor ir com suas pernas, e se arrumar sozinha, está bem? Você não precisa dar um motivo para Sheila implicar com você.

O coração dela parecia que ia sair pela boca e ela sentia vontade de chorar, honestamente, só de chorar.

- Vem. - Melvino pegou ela pela mão. - O que quer levar? Escova... uma roupa? - Perguntou. - Eu pego. Uma calcinha limpa... um uniforme...

AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora