Preocupações

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Doomdanru foi a primeira coisa que Melvino viu. Ele estava ao lado de sua cama, no centro médico. E Doomdanru estava chorando. Melvino ficou chocado, totalmente chocado, por ver Doomdanru tão transtornado.

Acordou bem, gemendo e tentando se sustentar nos braços, e percebeu que estava completamente nu. Ficou envergonhado, sentiu dor, e depois viu a faixa branca na sua perna, fortemente amarrada.

- Acordou! - Doomdanru comemorou, demais, quando viu Melvino acordando e foi para o lado dele, respirando aliviado. Aquilo era medo. Muito medo. E Doomdanru sabia quando sentir medo. - Oh, Melvino! Você acordou...

- Eu... - Melvino olhou para a perna, confuso. - O que aconteceu? Por quê eu estou pelado?

- Houve um acidente, na sala de estudos. - Doomdanru disse, sorrindo, vendo que o menino parecia bem. - Você ficou preso na porta. Levou cinco pontos e teve várias escoriações na perna.

- A Ny...

- Ela está vendo a fita de segurança. - Garantiu. - Eu preciso saber o que falhou. - Confessou. - A culpa é minha, Melvino. Eu tenho que cuidar de vocês e garantir a manutenção de todo Habitat... e eu... eu sinto muito, meu menino.

A mão pesada de Doomdanru fez um carinho nas costas de Melvino e ele não se aguentou.

- Venha. - Doomdanru esticou os braços, com cuidado, cercando Melvino. - Deixe-me pegar você no colo. Deve estar com frio.

Ele não estava com frio, pois Doomdanru tinha esquentado a sala o suficiente para não ter choques com a perda de sangue que o menino teve. Porém, aquele colo, ele tinha que admitir, era mais para ele do que para Melvino. Por um breve período de tempo, mesmo que por um acidente, Doomdanru teve medo de perder o menino. E isso fez ele perceber o quanto era louco por aquelas crianças. Medo, era uma sensação muito real.

Doomdanru tomou cuidado com a perna do menino, mas pegou-o e o levou até o peito, apertando-o ali. Seu corpo contra o seu. E ele estava vivo e bem.

- Doom, eu to pelado. - Melvino disse, desconfortável.

- E qual o problema disso, hum? - Doomdanru foi deitando o rapaz no colo. - Eu já lhe vi assim, e pode ficar pelado comigo. Você está ferido, Melvino, e eu tirei sua roupa.

- Eu...

- Não tenha vergonha de mim. - Pediu Doom, com algum carinho. - Nós já passamos dessa fase, meu menino. Meu. - Doomdanru chegou a beijar os cabelos brancos de Melvino.

- Doom... você está bem? - Quis saber Melvino.

- Durma. - Ele ordenou. - Deixe que eu cuido de você.

- Mas a minha roupa...

- Durma. - Ordenou de novo. - Não há preocupações para você aqui. Você perdeu muito sangue hoje. Eu quero que durma. Pode dormir comigo hoje. - Flexibilizou. - Eu cuidarei de você.

- Está bem. - Assentiu Melvino, fechando os olhos, e forçando o corpo a deslizar. Ele confiava neles, e mesmo que Doomdanru estivesse estranho, era melhor obedecer.

Doomdanru sentou com o rapaz nu no colo e ficou olhando para ele. Imaginou, mesmo que por um breve segundo, o menino como um filho. Ignorou a ideia no momento em que lembrou-se da missão. Melvino era um de muitos meninos, e Doomdanru sabia que era temporário. Melvino tinha uma vida pela frente, e outros precisavam do lugar dele. De um lugar para viver.

A missão antes de tudo. Doomdanru tinha falhado com aquela porta. Era culpa dele. Ele tinha que revisar todos os sistemas, ele tinha que garantir que tudo estivesse travado. E não podia ser estúpido demais para falhar de novo. Nenhuma criança ia se machucar por sua culpa. Melvino começou a respirar mais pesado em seu braço e Doomdanru agradeceu por isso. Ele estava bem o suficiente para ficar consciente, mas também, tinha que descansar.

- Doom. - A voz de Ny entrou ali. - Como ele está?

- Bem. - Disse mostrando a criança sem roupas, como um presente, em seu colo. - Olhe só para ele. Dorme tranquilo agora.

- Eu já me limpei e já olhei o vídeo. - Disse Ny para Doomdanru.

- Descobriu a falha? - Quis saber.

- Sim. Um pino soltou. - A alienígena avisou, olhando para a criança ali, e se aproximando. - Quer me dar ele?

- Não. - Admitiu. - Quero que ele durma comigo.

Aquele comentário paternal e preocupado levou Ny a quase sorrir para Doom, mas ela lembrou-se que essa cortesia era desnecessária entre eles.

- Doom, eu acho melhor me dar ele. - Avisou. - Eu o coloco no seu quarto mais tarde, quando tudo acabar, ele está dormindo mesmo. Você tem outras coisas para tratar.

- Você pode tratar das crianças. - Doomdanru sugeriu.

- Eu vou cuidar de Lana. - Revelou.

- Ela está bem?

- Doom... eu acho que você precisa ver o vídeo de segurança. - Avisou, com o peito pesado.

- Foi grave? - Doomdanru começou a se levantar, com calma, com o menino nos braços. - Vai ajudar na manutenção?

- Não é a porta, Doomdanru. - Riaman-Ny falou séria. - A porta foi um acidente. Você precisa ver Ryan.

- Ryan? - Ele não compreendeu.

- Lembra que você me disse que era difícil entender ele? - Comentou de forma casual. - Estudamos o humor dessas crianças e seus comportamentos, mas até hoje nós não entendemos Ryan.

- Ele é difícil de ler. - Doom concordou, começando a passar o menino adormecido para o colo de Ny. - Nem todos reagem igual.

- Ele nunca reagiu igual. Nenhuma vez. - Ny falou.

- Está sugerindo alguma coisa. - Doomdanru disse.

- Eu mandei Ryan para seu quarto, Doomdanru. - Avisou. - Assista o vídeo de segurança e vá até ele. E... meu amigo... mantenha a calma.

Quando ele disse isso, Doomdanru percebeu a gravidade.

- Cuide dele. - Pediu, já pegando seu visor e saindo da sala. - Quero-o no meu quarto mais tarde.

- Ele está em boas mãos. - Ny garantiu. - E sei que Ryan também.

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