Ir antes de Lana tinha sido a ideia mais estúpida da vida de Meara. E ela olhava para todo aquele salão médico com olhos mesclados de medo e pudor. Ela tinha imaginado sua vida em Marte totalmente diferente. Tinha imaginado finalmente controle sobre sua vida e sua condição. Seus olhos viviam a traindo, e agora, por causa deles, ela estava ali, e iria um dia para Andromeda. Aceitar o fato de que seu próprio povo não a queria era tão difícil quanto encara o rosto diferente demais de Riaman-Ny e Doomdanru. Eles eram alienígenas, e cada vez mais Meara dava-se conta de como era mais fraca e mais dependente.O Habitat 32 não era mais uma escolha - era uma realidade. Era sua casa e ela não tinha, honestamente, para onde ir. Fora dali, o terreno inóspito e as temperaturas extremamente negativas, assim como a radiação, a matariam. Não matariam Doomdanru, ou Riaman-Ny, mas, a matariam. Ela estava presa nas paredes sem cor. Presa naquela condição de aprendiz naquele centro. E tinha que agradecer por ter pessoas como ela, com medo e com desejos distantes.
- Não tenha medo.
Riaman-Ny encostou a mão no seu ombro, e Meara olhou para suas orelhas quase pontudas e seu couro cabeludo de fios ralos demais. Ela não era bonita, mas era tão gentil que Meara começou a desenvolver um certo apreço por ela ali. Ny tinha a levado depois da surra de Doomdanru, e cuidado dela, mesmo contra sua vontade. E, de novo, estava ali, como um balsamo, para oferecer tudo que ela precisasse. Meara sentiu vontade de agarrar nela, de pedir algum tipo de calor, mas também não queria parecer tão idiota por causa de um exame médico.
- Não estou. - Mentiu, engolindo seco quando Doomdanru lhe ofereceu um olhar preocupado anotando coisas em seu visor.
Pessoas haviam gritado ali. Muitas haviam gritado de forma implacável, inclusive Melvino. Havia algum tipo de vergonha ali, e Meara sabia disso, e deu-se conta de como seu corpo estava presente, e vivo - e que eles a olhariam.
- Eu... terei que ficar sem roupa. - Era para ser uma pergunta, mas não foi.
- Eu vou te ajudar. - Ny disse, puxando Meara de frente para si.
Era melhor que ela ajudasse a menina, já que era sua primeira vez e Meara era, na medida do possível, uma menina forte e inteligente. Meara olhou para Riaman-Ny e abaixou a cabeça quando ela começou a desabotoar sua blusa. Adiantava falar que ela não queria? Teria alguma salvação?
Meara decidiu que se ia fazer aquilo, ela podia se sentir como quisesse se sentir, começou a chorar, um choro baixo e sentido, mas começou a entender que não era inteligente segurar Ny.
- Eu sei que é difícil, mas se me ajudar, quem sabe não te damos mais um ponto? - Tentou negociar a enorme fêmea, com um meio sorriso nos lábios. - Isso ia ser bom, não acha?
Meara passou uma mão no rosto vermelho quando Ny tirou sua blusa pelos ombros, deixando seus seios já de fora. Levou a mão ali, mesmo que Ny tivesse olhado de leve já, e os cobriu com calma. Eles tinha que pelo menos entender a vontade dela de se cobrir.
Ny abaixou-se quando a menina fez isso, e puxou-lhe as calças para baixo, mesmo quando Meara se cobriu na parte feminina.
- Balança. - Pediu Doomdanru sem olhar diretamente para Meara.
- Vamos, minha menina.
"Minha menina", pensou Meara enquanto Ny a dava um tapinha leve nas nádegas nuas e a ajudava a subir na balança de piso. Ny tinha a chamado de novo de sua. E, mesmo que Meara não quisesse ser dela, como iria dizer que não era depois de dormir nos braços daquela fêmea?
- 60. - Disse Ny acariciando as costas de Meara que ainda chorava.
- Bom peso para a altura dela. - Concordou Doomdanru.
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Aurora
Science FictionMeara Ablim nasceu na Terra com uma rara mutação genética - Heterocromia, que fazem seus olhos terem cores diferentes - um azul e um castanho. Abandonada ainda bebê por ser "imperfeita" por culpa da revolução genética, ela viaja até "Provenance" ass...