Todo mundo comia em silêncio. Meara não sabia onde enfiar a cara depois do show de horrores que tinha sido o dia anterior. Lana já estava ali, meio mole e sendo alimentada na boca por Doomdanru, mas estava ali. Ryan também, comia quieto.Pelo menos Meara fora poupada do banheiro coletivo naquela manhã. Ny deixou-a se banhar sozinha, no seu banheiro particular e Meara conseguiu usar o banheiro pela primeira vez de forma normal e calma desde que tinha chegado ali. Seu intestino estava até aliviado depois daquilo!
Estavam todos calados demais. Lana estava se recuperando, Meara sabia que seus companheiros haviam escutado ela chorando no dia anterior e Sheila tinha uma cara de poucos amigos.
- Nosso aquecimento quebrou em parte, como vocês perceberam. - Doomdanru disse, quebrando o silêncio quando ele ficou constrangedor demais.
- Isso explica esse frio. - Kennedy suspirou, com os olhos um pouco cansados.
E talvez explicasse porque a mais fraca ali, Lana, tivesse adoecido, pensou Meara, olhando para o mingau na sua frente e comendo outra colher.
- Os estudos hoje estão suspensos. - Ny avisou, rodando a mesa com atenção.
- Isso! - Tyrone quase comemorou demais.
- Vão ficar nos seus quartos, para combater o frio enquanto resolvemos isso. - Garantiu Doomdanru. - Porém, como Lana ficou doente, eu acho mais prudente examinarmos todos hoje.
Os queixos começaram a cair, e Chiara, imediatamente, começou a chorar, empurrando o prato com irritação. Todos pareciam intranquilos e Meara começou a temer o que isso significava.
- Todos vocês já passaram por isso e sabem que não é nada demais. - Riaman-Ny comentou. - Há um vírus solto por aí, e Lana está doente. E alguns de vocês estão com probleminhas físicos... - Olhou discretamente para Sheila e para Chiara.
- Vão terminar de comer, e vão todos para o corredor médico.
- ÓTIMO! REALMENTE ÓTIMO! GANHEI MEU DIA! - Chiara levantou-se, com raiva, batendo uma palma no ar, e saiu andando, simplesmente.
- Eu vou. - Ny suspirou, já que Doomdanru estava alimentando Lana na boca. - Ela vai primeiro, vou pegar ela.
Riaman-Ny saiu, devagar, indo atrás da menina. Sheila chegou até a soltar um risinho convencido demais, mas logo ficou triste de novo. Doomdanru suspirou também, irritado pela primeira vez honestamente e passou sua mão cinza na boca de Lana, limpando-a como um alien preocupado.
- Eu não quero saber de birras e de choro. - Ele falou sério, olhando para todos. - Qualquer um que tentar alguma gracinha, vai apanhar.
- Chiara tentou, aparentemente. - Sheila avisou, dando de ombros.
- Eu lido com ela, depois, Sheila. - Ele a olhou severamente. - E eu não quero choros da sua parte também só porque está com a vagina assada.
Sheila quase morreu do coração, quando todo mundo a olhou, com a exposição de seu problema como se não fosse nada. Como se ela fosse um bebê. Ela abaixou a cabeça, e segurou as lágrimas quando elas vieram com força. Agora todo mundo sabia que Doomdanru olharia ela ali, durante os exames gerais, e, mesmo ela sabendo que ele olharia todos, era vergonhoso saber que seus colegas iriam imaginar o problema.
- Eu quero uma fila fora do consultório. - Avisou. - Acabem de comer. Dois minutos.
Doomdanru levantou-se, pesadamente, com todo seu corpo maior do que o das jovens pessoas ali, e caminhou para fora quando os gritos fortes de Chiara invadiram o corredor.
- É tudo culpa sua. - Sheila olhou para Lana, triste, acusando, mas com dor no próprio coração. Ela começou a chorar de raiva. - Você tinha que ficar doente!
- Qual é, Sheila... - Kennedy a repreendeu quando Lana arregalou seus olhos claros.
- Aposto que estão loucos pra rir de mim! - Acusou, enchendo os olhos de lágrimas. - Não estão?!
- Ninguém está rindo, Sheila. - Melvino disse com a voz suave. - Não há motivos para se envergonhar de nada aqui. Sabe que Doom olha todos nós assim.
- É, Sheila. - Tyrone concordou.
- Calem a boca! Estão piorando tudo! Seus merdas! - Ryan levantou-se, com o peito estufado e acolheu a mocinha chorando.
- Pronto, meu amor... eles são retardados mesmo.
- EU VOU PRIMEIRO. - Sheila falou mesmo em meio ao choro. - EU QUERO PROVAR PARA DOOM QUE POSSO IR PARA ANDROMEDA.
Embora Melvino achasse melhor a menina se acalmar primeiro, não falou nada. Sheila não era exatamente uma amiga, e se ela queria ir primeiro, nervosa como estava, ele não ia se oferecer para ir primeiro no lugar dela. Sheila tinha que aprender também que amizade ali tinha seus benefícios, mesmo que ela achasse que tudo era um jogo que ela tinha que sair vencedora.
Não havia vencedores, haviam os que iam e os que não iam para Andromeda. E uma coisa não dependia da outra.
- Venha... vou te levar. - Ryan amparou a menina e saiu com ela pela porta da frente.
Sozinhos, mesmo sem Chiara ali, o grupo de amigos se olhou, preocupados.
- Lana e Meara vão por último. - Melvino falou, olhando pros amigos. - Combinado?
- Eu posso ir antes. - Kennedy falou. - Eu não tenho tanta vergonha assim deles.
- Posso ir depois. - Melvino considerou. - Não há nada aqui que Doom e Ny não tenham visto mesmo.
- Ok, então eu vou depois de você. - Tyrone estufou o peito, preocupado. - É melhor a Lana...
- Ela vai por último. - Meara defendeu a jovem ruiva, piscando para ela. - Ela merece.
- Tem certeza? - Lana olhou para Meara. - Eles vão examinar todos igualmente, Me. Não me importo de ir... você nunca foi.
- Somos amigas, não somos? Eu pago uma vergonha por você. - Falou preocupada com o exame. - E como você disse... eles vão nos examinar todos mesmo.
- Você é uma boa amiga, Me. - Melvino elogiou, fazendo um carinho nas costas da amiga de olhos brilhantes e diferentes. - Chiara vai precisar de nós hoje, sabemos disso, sabem como ela fica sensível quando Doom e Ny a olham assim.
- Ela nem está curada ainda. - Kennedy comentou.
- Um motivo a mais para Doom querer examinar ela. - Lana também comentou. - Sabemos que Chiara precisa... ela se corta menos quando eles estão em cima dela...
- Mesmo? - Meara começou a compreender a necessidade dos cuidados de Doom e Ny, pelo menos com algum deles.
- Mesmo. - Confirmou Melvino. - Vamos lá, Doom nos deu dois minutos, e não queremos nos atrasar.
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Aurora
Science FictionMeara Ablim nasceu na Terra com uma rara mutação genética - Heterocromia, que fazem seus olhos terem cores diferentes - um azul e um castanho. Abandonada ainda bebê por ser "imperfeita" por culpa da revolução genética, ela viaja até "Provenance" ass...