Era estranho, de fato, ver quem Ryan eram pela primeira vez, e Doomdanru percebeu isso. O rapaz, antes tão certo de si, e cheio de razão, tinha conseguido esconder sua personalidade, e Doomdanru só se perguntava porquê. O menino estava nu, sentado em cima de uma enorme almofada no quarto de Doomdanru enquanto ele o olhava de forma assustada.
Ryan não era um rapaz tímido, pensou Doomdanru, ou era? Como ele tinha conseguido manejar sua timidez, de forma tão falsa? Será que humanos pareciam, de uma forma, com o povo Geka? Podiam ser desprovidos de sentimentos e emoções complexas? Ryan chorava ainda, com o rosto todo riscado e com os ombros encolhidos enquanto o alienígena grande separava pomadas e mais pomadas para passar no bumbum judiado dele.
- Ryan... você já foi perdoado.
Quando Doomdanru disse isso, achando que isso consolaria o menino, ele chorou mais ainda. Isso fez o homem cinza, enorme, virar-se para ele, com um pote de pomada nas mãos e o olhar curioso demais.
- O que há? - Quis saber.
- Eu estou chateado, está bem? - Ryan declarou, meio malcriado. - Perdi muitos pontos hoje, Sheila vai perder pontos... e estou preso nesse... lugarzinho...
- Sheila já perdeu muitos pontos, Ryan, e com certeza vai perder mais alguns, quando eu conversar com ela. O que vai acontecer muito em breve. Porém, esse "lugarzinho", como você chama, é seu lar, Ryan. Seu lar. Te acolhemos aqui, e por mais que você esteja ansioso para sair, Ryan, isso aqui não é um jogo e nem uma corrida. E você é meu. Meu, Ryan, para eu criar como eu quiser.
Ouvindo isso, o menino chorou ainda mais, e Doomdanru percebeu que tinha sido duro. Ele estava perdoado, não estava, então, Doomdanru tinha que fazer por onde também. Ele foi até Ryan, que cobriu o pênis rapidamente quando o alien se abaixou na sua frente e pegou de leve sua coxa macia, olhando naqueles enormes olhos que enxergavam mal.
- Ryan, isso não pode continuar assim. O que é que nós podemos fazer para melhorar isso?
- Você não é nada meu! - Ryan acusou. - Não é! Não pode falar assim! Você não entende como eu... eu não tenho nada! E você me tirou Andromeda hoje!
- Andromeda nunca foi sua. - Doomdanru lembrou o rapaz choroso. - E como pode dizer que eu não sou nada seu? Ou que Ny não é nada sua? É isso que você pensa? - Perguntou. - Que somos... seus líderes, nesse jogo?
- Vocês não nos querem.... são como os outros. Uma porra de uma casa de passagem!
Doomdanru tomou isso como pessoal, compreendendo parte da raiva de Ryan.
- Ryan, eu posso não ter sentimentos complexos e posso deixar passar muita coisa aqui, e eu sei que deixo, mas eu não sou alheio ao seus sentimentos e ao das outras crianças aqui. - Declarou, apertando mais a coxa do rapaz. - Eu te amo, Ryan.
A surpresa, definitivamente surpresa, fizeram Ryan olhar para Doomdanru, segurando um pouco o choro. O alienígena tinha uma expressão neutra demais, como sempre tinha.
- Não está dizendo isso só porque os livros de psicologia mandam? - Ryan quis saber, fungando o choro para dentro.
- Eu não leio exatamente todos os livros de psicologia que Riaman-Ny manda eu ler. - Ele sorriu, contando uma piada que para ele, deveria ser hilária. - Eu amo todos vocês. E ficamos tristes, quando vão embora.
- Parece que eu não vou a lugar algum por um tempo... - Ryan disse tremendo um queixo. - Então, não há motivo para tristeza, da sua parte...
- Ryan. Olhe pra mim. - Doomdanru segurou o queixo dele, e o levantou para olhar para ele. - Eu ficaria profundamente honrado se você fosse meu.
- Não ficaria não. - Ryan bufou.
- Ryan... olhe pra mim. - Ele ordenou. - Você gostaria que eu entrasse com um pedido de guarda para você?
Ele chocou-se. Chocou-se mesmo. Doomdanru o queria?
- Eu e Riaman-Ny entramos com um pedido de guarda para Lana. - Admitiu. - Vamos admitir, ela não está aprendendo muita coisa...Imaginei que talvez... você quisesse ficar aqui, conosco.
- Pra sempre? - Ryan chocou-se, até porque ele nunca tinha considerado a ideia. Nem do Habitat 32, e nem de alguém o querer. - Mas Andromeda e... Sheila....e...
- A escolha é sua. - Ele falou. - E eu sei que você dorme com Sheila. - Admitiu também. - Sabe que isso é terrivelmente contra as regras, não sabe?
Mas Doomdanru não o repreendeu.
- Você e Ny não são um casal.
- Não, mas podemos ser pais. Para você. E certamente seremos para Lana.
- Lana....aceitou isso? - Ele quis saber.
- Lana não sabe. - Doomdanru admitiu. - Ela não sabe, mas ela precisa. E ela ama Ny como uma mãe. Sabe disso.
Ryan começou a morder os lábios, pensando na tentadora proposta, quando Riaman-Ny trouxe Melvino, totalmente nu no colo, semi-acordado.
- Oh... desculpe... - Ny sorriu para Ryan cobrindo o pênis e chorando ainda. - Que chorinho é esse, meu menino?
"Meu", pensou Ryan. Ela sempre o chamava de "Meu".
- Ele está bem. - Doomdanru disse, limpando o rosto de Ryan. - Não está? Só estávamos conversando... nós dois...
- Sobre o quê?
Ryan olhou para Ny deitando Melvino nu na cama, e viu que o menino estava tão mole que não se cobriu da visão de todos ali. Certamente ia dormir ali, pensou Ryan. Era o que acontecia quando eles estavam muito machucados ou doentes, ou chateados. Iam para o quarto dos tutores, e dormiam ali, muitas vezes, nus.
Haviam um certo conforto em saber que alguém o queria, mas abrir mão de Andromeda era duro, amargo. Ele tinha perdido muitos pontos. Sheila também perderia, e Doomdanru não estava mais alheio à situação. Ele sabia de tudo, das mentiras, da agressividade, e mesmo assim... ele o queria. Ninguém nunca o quisera. E mesmo sob aquelas situações horríveis, e com Melvino desmaiado de dor, ele o queria.
- Eu quero. - Ryan disse, virando-se para Doomdanru, mordendo os lábios.
- Quer o quê, querido? - Ny perguntou, esticando seu corpo enorme.
- Prepare mais alguns daqueles papéis que assinamos para Lana, Ny. - Doomdanru sorriu, se segurando para não abraçar o menino. - Nós dois ganhamos um filho homem.
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Aurora
Science FictionMeara Ablim nasceu na Terra com uma rara mutação genética - Heterocromia, que fazem seus olhos terem cores diferentes - um azul e um castanho. Abandonada ainda bebê por ser "imperfeita" por culpa da revolução genética, ela viaja até "Provenance" ass...