30 - Debra

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Esperei tantos anos para ouvir aquelas palavras, mas agora pareciam lâminas. Senti-me culpada de lhe ter tirado a oportunidade de ter conhecido o filho em bebé e de o ter visto crescer saudavelmente, de não ter visto os seus treinos, de ter perdido todas as conversas sobre o amor que nutre pela escolhida, ter perdido a sua primeira luta como caçador, ter perdido a evolução dos poderes e não ter a oportunidade de lhe dar amor paternal. Se eu soubesse, nunca teria levado Cloud naquela noite.

Depois daquele beijo avassalador, eu não o procurei mais naquele dia. Precisava de tempo para pensar em tudo o que fora dito por cada um. Ele lutou a vida inteira contra os sentimentos que nutria por mim e não sei o que dizer sobre isso. Não sei se estou feliz ou magoada por saber agora que ele me ama.

Virei-lhe as costas depois da conversa e vim para o acampamento. Precisava de pensar e olhar para aqueles olhos penetrantes não me era nada favorável. Cloud precisava da minha calma e capacidade para criar boas estratégias de guerra.

Estou na tenda há 20 minutos, a pensar no maldito beijo desta manhã. Não me consigo concentrar de maneira nenhuma e preciso regressar à normalidade, antes que alguém repare.

Mas porque raio fui eu aceitar aquele beijo? Isto não podia ter acontecido, não numa altura destas. Mas aconteceu.

Aquele beijo foi maravilhoso, foi arrebatador. Esperei tantos anos por este beijo, que nem sei o que devo fazer. O coração está fora de si, porque Dante não me sai do pensamento.

Tento focar-me no trabalho que tenho para fazer, tento focar-me nas equipas responsáveis pelas buscas do esconderijo de Jaden (que acredito que não seja aqui, na Austrália). Tento, mas não consigo.

Ando às voltas, completamente extasiada. Beijei o homem que amo e que também me ama! Senti-me egoísta por me sentir feliz pela primeira vez.

Sinto as faces aquecer. Melhor! Sinto-as arder só de pensar na sorte que me caiu do céu.

Estou a voar nas núvens. Pareço uma adolescente. Agora entendo como se sente Cloud em relação a Maggie.

- Posso entrar, Diretora? – ouvi a voz da pequena Marlow à entrada da tenda. Assustou-me.

Marlow não tem mais de 1,60m, tem cabelos ruivos maravilhosos, que lhe chegam a meio das costas. É determinada, tem a cara carregada de sardas de diversos tamanhos, tem olhos castanhos enormes e bastante expressivos. Tem a língua afiada, pois diz sempre o que pensa no momento em que encontra algo que está mal e não olha a meios quando o faz. Ela traz o cabelo preso numa trança bem feita e está com o fato de cabedal de combate.

- Entra, querida. Há novidades? – perguntei, depois de lhe dar permissão para entrar.

- O conde pediu que fosse ao Castelo, juntamente com Cloud. Parece que recebeu uma chamada da escolhida. – respondeu. – Está tudo bm consigo? Parece distante e perturbada com algo.

Perspicaz, como sempre. Adoro-a por isto mesmo. Ela é o que mostra, sem qualquer filtro. Está sempre disposta a ajudar quem ama, mas é a primeira a apontar os erros de cada um, se os encontrar.

Nunca falhou uma missão, mesmo quando esta possa parecer impossível e é capaz de encontrar forças nas piores alturas.

Marlow é um pequeno furacão.

- Não te preocupes, não é nada grave. O mais importante é sabermos o que disse a princesa nessa chamada. Cloud deve querer saber como ela está e o que pode fazer para a trazer de volta a casa e não o que me pode estar a passar pela cabeça. – respondi calmamente.

O Caminho para a EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora