O susto desta manhã ainda mexia com o meu sub-consciente, estava completamente distraída e nem consegui manter longas conversas com a Yumi.
Tinha sido bonito ela ter-me acalmado, mas isso não alterava nada do que eu sentia dentro do meu coração por não saber o motivos dos meus treinos.
Estávamos há quase três horas em viagem e eu só queria chegar. Chegar ao meu misterioso treino... Senti um aperto no peito, porque me estava a custar a acreditar no que tinha lido no meu espelho. Tudo parece cada vez mais estranho e difícil de aguentar.
- É a primeira viagem que fazemos, em que não falas nada. Para além do espelho, aconteceu mais alguma coisa? Mags, sabes que podes contar comigo. – Ouvi a voz de Yumi quebrar o silêncio existente entre nós. Hoje nem as músicas que davam no rádio me animavam. – Queres falar do tal vulto que achas ter visto?
- Desculpa, mas hoje não estou bem... – só consegui responder desta forma. Sentia-me demasiado cansada e não me apetecia falar. O vulto de ontem, o pesadelo, a discussão com a minha mãe e a ameaça no meu espelho estavam a ser demais para a minha mente, que não encontrava um pingo de paz. Conversar não era o que mais me apetecia naquele momento.
- Já conseguiste que a tua mãe te contasse algo sobre a tua vida? – tinha que me tocar na minha ferida... Perspicácia era o que melhor a definia, depois do mistério. Isto ainda despertou mais esta raiva que tenho sentido desde que acordei.
- Não. Mas isso tu já sabias, não é? – senti raiva de novo. Isto não era nada bom. Precisava urgentemente de algo que me acalmasse, antes que perdesse o controlo sobre as minhas palavras novamente.
Olhei para a paisagem. Adorava ver as árvores que cresciam selvagens, ao longo do nosso caminho. As árvores sempre me transmitiram calma, serenidade, paz... Hoje, não me mostravam mais nada, apenas vazio e silêncio.
- Sabes bem que não me cabe a mim dizer-te quem és ou não! Não concordo com o que a tua mãe e o teu pai estão a fazer, mas não os posso trair... Devo-lhes muito. – Yumi estava demasiado simpática hoje. Não estava a gostar nada desta sua simpatia repentina.
- Porque estás a ser tão simpática comigo? Não somos amigas... Tu és apenas a misteriosa treinadora que os meus pais arranjaram para substituir o meu antigo treinador que, também misteriosamente morreu. –Hoje eu não estava mesmo amiga de ninguém. Nem da loira misteriosa, que conduzia o carro pelo caminho, para o início deste tormento!
Antes dela, era o Sr Douglas que me treinava. Gordo, alto, quase careca. Apesar desta aparência, era forte e rápido, raramente o conseguia ganhar numa luta de corpo a corpo. Era um bom professor, sempre me deu bons conselhos e soube ser meu amigo. Foi com ele que aprendi algumas artes marcias e comecei a usar algumas armas brancas nas nossas lutas. Lembro-me quando me dizia que, até a pessoa mais forte precisa de alguma ajuda extra contra inimigos que não jogam limpo. Talvez por isso, nunca tenha percebido como morreu num assalto, como me disse a minha mãe, semanas antes de me apresentar a Yumi. O meu primeiro treinador sempre me disse para nunca me deixar iludir pelas aparências, pois são elas que mais nos enganam.
Os meus treinos começaram com aquele homem sério e amigável, aos 6 anos. Estava assustada, mas o Sr Douglas arranjou uma forma de me acalmar. Pediu que fechasse os meus olhos e me imaginasse a voar pelos céus, por cima de um belo jardim cheio de flores. Em poucos segundos, aquele medo desaparecera. Sentia saudades daquele treinador, que sempre me ajudou e tinha os melhores métodos para combater a minha ansiedade e medo. Um dia, irei descobrir como ele morreu.
Olhei para a minha atual treinadora, com aquela raiva ainda a comandar todo o meu corpo. Estava atenta à estrada e ao caminho que seguiamos até ao acampamento que usamos desde que ela me treina.
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O Caminho para a Escuridão
VampireMaggie, mais conhecida por Mags, foi treinada durante anos sem sequer saber porquê. O seu primeiro treinador desapareceu misteriosamente e depois passou a ser treinada por Yumi, uma rapariga muito misteriosa. Um dia, de um momento para o outro, apa...