Sherlock se sentou na beirada da cama, olhou ao redor de seu velho quarto, lembrava de cada momento que viverá naquele lugar.
Era uma despedida, resultado de sua paixão incontrolável e misteriosa de resolver crimes que nenhuma pessoa no mundo era capaz de raciocinar tão rápido para desvendá-los. Partiria naquela manhã para São Paulo atraído por mais um mistério, só que este era especial.
Tiraria-o do conforto de sua casa, das regras impostas pela família e, o principal, de sua tão amada região Sul, que até então, era a única que conhecia, graças a educação restrita dos pais que o obrigavam a seguir os métodos tradicionais de uma família inglesa apenas para manter uma tradição, já que seus pais eram britânicos e nunca se acostumaram com a cultura brasileira.
Eram 7:30 de uma manhã fria com precipitação de geadas, visto que estavam no mês de Junho e as temperaturas não ultrapassavam os 16°C.
Sherlock se levanta e anda meio cambaleando até a janela, devido à noite mal dormida atormentada por pensamentos, deixando-o apreensivo e ansioso para as novas descobertas que encontraria em São Paulo, e ao mesmo tempo, o constante frio na barriga de deixar seu lar. Porém esses sentimentos só podia ser notados por ele mesmo, já que se mostrava sempre orgulhoso, construindo um escudo que o impedia de demostrar qualquer forma de carinho ou sentimento em público, sempre afirmando ser um Sociopata Altamente Funcional.
Puxou a cortina branca, que cobria parcialmente a janela, possibilitando a entrada de um pequeno fecho de luz.
Abriu o vidro totalmente transparente, devido à limpeza exagerada das empregadas e levando em conta que sua mãe também não gostava de nada, absolutamente nada, sujo.
Apoiou os cotovelos na borda de madeira, já bem desgastada pelo tempo. Colocou parte do rosto para fora, sentia a brisa gelada e úmida acariciando seu rosto e bagunçando ainda mais seus cachos que lhe cobriam metade do olho azul esverdeado.
Olhou para o céu durante alguns segundos, ainda tinha que terminar de arrumar a mala, não que fosse muito vaidoso, mas já que se tratava de uma viagem mais do que especial, precisava estar preparado para tudo.
Virou-se rapidamente para pegar a mala que estava em baixo da cama, mas acabou tropeçando em seus chinelos, seu pé ficou enrolado sob o enorme tapete que cobria todo o chão do quarto, como estava meio sonâmbulo, não conseguiu ganhar equilíbrio, caindo diretamente com a cara nos livros e objetos que estavam espalhados pelo quarto.
– Ah! – o grito de Sherlock veio acompanhado com um enorme barulho dos objetos que cairam da mesa de cabeceira, enquanto tentava se segurar em algo.
– Sherlock! Está tudo bem? – perguntou sua mãe, que passava no corredor e se assustara com o estrondo vindo do quarto do filho.
– Sim, está. – respondeu alguns minutos após se recuperar da queda e voltar para si. – Não precisa se preocupar comigo. – Disse levantando-se ainda tentando recuperar o equilíbrio.
– Já arrumou a mala? – sua mãe disse ainda na porta.
– Está parcialmente pronta. Já disse, não precisa se preocupar comigo. – ele respondeu indo em direção ao relógio que estava na cabeceira da cama.
Já passavam das 7:45 e seu vôo sairia as 8:30, estava mais do que atrasado, vendo que de sua casa para o aeroporto demoraria cerca de uma hora, nem mesmo se cortasse caminho chegaria a tempo.
Mesmo com a hipótese de se atrasar e não conseguir pegar o vôo, colocou o relógio de volta no lugar, foi até seu guarda roupa e rapidamente pegou duas camisas sociais e um terno que faltavam para completar a mala.
Deu meia volta, pegou a mala ao lado da cama e guardou as roupas junto com sua micro lupa, que foi encontrada em baixo da cama no momento de sua queda. Pegou o longo sobretudo preto que se encontrava em um cabide exclusivo no meio de seu quarto e o vestiu em menos de segundos, o que o deixava com uma aparência bem atraente. Se olhou no espelho e deu uma leve batida em seus cabelos, pegou a mala e seu cachecol dirigindo-se imediatamente para a saída da enorme casa.
– O café está na mesa. Fiz o seu preferido, panquecas caramelizadas e uma ótima xícara de chá. Falam que em São Paulo é muito comum tomar café. – Disse sua mãe enquanto Sherlock descia as escadas com duas malas na mão e seu cachecol quase caindo do pescoço. – Sei que você não gosta muito de café. Como vai viver nesse lugar?
– Você não sabe do que eu gosto, afinal, a cafeína é um bom remédio e te deixa preparado para viver em uma cidade grande como Sampa. – Afirmou colocando as malas no chão e checando as mensagens no celular.
– Sampa? Mas você não ia para São Paulo?
– Vou. – Respondeu, ainda conferindo as mensagens. – Sampa é como os paulistas chamam a cidade. Acham que se ela receber esse nome ou um apelido qualquer irá se tornar mais atrativa. Pena que acabam por estragar o nome de origem. Isso acontece em quase todo lugar, acaba se tornando um ciclo entediante, só fazem isso para dizer que são criativos.
– Tenho que ir. – Sherlock arrumou seu cachecol e pegou as malas, mas antes de conseguir chegar a porta de saída da sala, sentiu uma mão tocar seus ombros e puxá-lo para trás.
– Aonde pensa que vai irmãozinho? Já dispensei o taxista que estava chamando, você vai com meu helicóptero para São Paulo. – Mycroft o segurava com determinada força que era quase impossível que o mais novo concluísse o caminho até a saída, fazendo Sherlock se render e olhar para o rosto do irmão.
– Acho que já estou grandinho demais para ter uma babá, muito menos ser rastreado. – retrucou o mais novo.
– Todo cuidado é pouco se tratando de Sherlock Holmes. Além disso não está preparado para os costumes desse país, muito menos ir para uma das grandes metrópoles brasileiras atrás de diversão. – Mycroft o encarava com um ar de reprovação.
– Vocês me entendiam, isso impossibilita minha capacidade de raciocínio.
– E precisa ir tão longe para provar suas incríveis habilidades de dedução? – continua o mais velho.
– Bem... – Sherlock fez uma pausa - São Paulo é o melhor lugar para matar o tédio. Temos trens, trânsitos, pessoas correndo a todo momento lutando contra o tempo, como se algum dia fossem ganhar dele, e essa disputa acaba resultando em uma depressão profunda o que leva à morte de grande parte da população. Vejamos... – continuou seu raciocínio encarando firmemente o irmão – E... há! Centenas de moradores que não possuem nenhum bem material e por isso, são vistos como invisíveis e sem valor útil pelas pessoa, transfomando-os em uma grande ameaça para os paulistas.
– O que essas pessoas insignificantes tem de tão perigoso para gerar medo? – questiona Mycroft, estendendo a mão para o mordomo que trazia seu chá e as panquecas de Sherlock.
– A resposta está na própria descrição. NADA! NOTHING!! – permaneceu intacto observando a face do irmão.
– Ora ora, então você também fala inglês? – ironizou Mycroft, levando a xícara a boca e bebericando um gole de chá. – Pensei que tivesse esquecido de suas verdadeiras origens. – solta uma leve risada.
O mais velho observou um pequeno furo no braço do moreno. – Já está se preparando para a vida paulistana, mas vejo que de um modo radical. Injetou cafeína novamente. Não foi? – Mycroft sacou um olhar sínico para o irmão.
– Me ajuda a organizar planos noturnos. As noites se tornam entediantes se você não tiver criatividade para vivê-las.
– Geralmente as pessoas dormem durante a noite. – repreendeu o mais velho.– Porque são idiotas. E perdem um terço da sua vida apenas em seu ato mais idiota, "To Sleep".
Sherlock pega um pedaço da panqueca, que agora se encontrava sobre a bandeja em cima da mesa da sala de visitas. Morde um pedaço e da meia volta, fazendo com que a barra de seu sobretudo batesse no rosto de Mycroft.
– Pelo menos me leve até o aeroporto, levará apenas 20 minutos e dará tempo de fazer o check-in. – falou ele passando pela porta e com a boca cheia de panqueca.
– Eu já fiz. – gritou Mycroft indo de encontro ao irmão. – Sabia que iria recusar minha oferta.
– Ótimo, você é mais inteligente do que eu pensava, economizamos 10 minutos. – o Holmes mais novo gritou já na parte externa da casa.
– 8:11, estamos um minuto atrasados. – Sherlock informou o irmão enquanto despachava suas malas.
– Esse país está acabando com minha pontualidade britânica. – Respondeu Mycroft descendo as escadas do helicóptero.
– Você nunca foi pontual. Chega sempre quando os crimes já foram resolvidos – Disse o mais novo já indo em direção a sala de embarque. – Não sabe o que é diversão. – Virou-se para dar uma olhada no irmão. – Ou melhor... se diverte comendo rosquinhas, acho que engordou um quilo essa semana.
– Perdi um quilo e meio. – retrucou o Holmes mais velho. – Mas pelo menos apareço para te salvar, se não fosse por meus cuidados não estaria vivo.
– O governo britânico e parte do Brasil também agradecem sua proteção. – falou o mais novo já entrando no enorme corredor do aeroporto, seguido pelo mais velho.
– Adeus irmãozinho, nos vemos quando eu estiver em apuros. – Sherlock bateu no ombro do Holmes mais velho.
– Com quem vai morar lá? – gritou Mycroft, que agora via apenas a silhueta preta que se afastava cada vez mais, marcada pelo balançar do grande casaco de Sherlock.
– A pergunta é, quem iria querer morar comigo?
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O Mistério está em Sampa
FanfictionSherlock é um brasileiro que mora em uma pequena cidade do interior da região Sul junto de seus pais, que vieram de Londres. Ao receber uma carta para a resolução de um caso, é atraído para uma das grandes metrópoles brasileiras, São Paulo, ou mais...