Capítulo Três

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Olá pessoal! Desculpem a demora para postar, estou um pouco desligada pelo fato de estar de férias. Aproveitem o capítulo e não esqueçam de votar, comentar e compartilhar a história. Feliz Ano Novo pra vocês e bjs!!!! 


Podia-se contemplar uma linda tarde de quinta-feira em São Paulo. O céu estava limpo e não estava tão quente como costumava ser.

Porém, para a jovem Laura, era um dia triste. Hoje ela irá assinar o contrato de casamento com seu futuro marido; além da ansiedade tomar conta de seu corpo, o medo também estava lá. Ela pensava: "Será que esse casamento dará certo?", "Como ele será?" Essas e outras perguntas rondavam sua mente. A moça ouvira o barulho da campainha e pensou que deveria ser ele, mas preferiu ficar no quarto até sua mãe aparecer, chamando-lhe. E isso não demorou muito para acontecer. — Filha, ele chegou. — Joana olhou para filha e viu uma expressão indecifrável em seu rosto. — Por favor, Laura, comporte-se. — Onde está Catarina? — Perguntou pela irmã mais nova. Talvez ela pudesse confortá-la. — Está na aula de balé. Vamos, filha, tenha coragem. Não esqueça que fora você que pediu que este cavalheiro viesse. Laura suspirou e levantou da cadeira. Joana foi andando na frente, enquanto ela deixava seus aposentos. Laura desceu as escadas e rumou até a sala. Viu o advogado - que já era conhecido -, e um homem com uma postura elegante, usando um terno preto e um chapéu coco. Sua cabeça estava inclinada para baixo, sem deixar seu rosto aparecer. Laura ficou no centro da sala e Emanoel começou as apresentações. — Senhor Sebastian Rosenstock, esta é minha filha, Laura. Com toda sua elegância, Sebastian levantou-se e foi até a jovem que ele estava a admirar a demasia. Para ele, nunca tinha visto moça mais bela do que ela. Quando chegou perto dela, sem ainda a mostrar seu rosto, Laura ofereceu sua mão para beijá-la, como forma de cumprimento. E no mesmo momento, Sebastian levantou seu rosto, tirando seu chapéu. Laura rapidamente abaixou sua mão e ficou intrigada com sua aparência. Á direita de seu rosto, haviam muitas cicatrizes e marcas de queimaduras; a metade de seus lábios pareciam ressecados e não tinham vida; sua sobrancelha faltava uma parte; seu olho tinha um rastro de corte. Apesar de sua íris ter um lindo azul, aparentava tristeza e ódio; seu nariz e cabelo eram normais. E a parte esquerda não aparentava nenhum sinal de marca. Se ele se apresentasse somente com esta metade, não a assustaria tanto. — A senhorita me fez algumas exigências. E uma delas já está sendo cumprida. Podemos assinar o contrato? Laura estava em choque. Ela nunca havia visto um homem assim. Na mente dela, ele não era um homem e sim um monstro. Laura estava a sentir medo. Seria ele capaz de cometer algum ato terrível com ela? — Laura, o senhor Rosenstock fez-lhe uma pergunta. — Emanoel disse, tirando Laura de seus devaneios. — Si-sim. O advogado tirou os documentos de sua maleta e entregou a Sebastian, junto de uma caneta. Ele foi o primeiro a assinar e depois foi a vez de Laura. Ela relutara um pouco; no final, acabou assinando e seu mais recente noivo ficou admirado com sua coragem, pois uma mulher querer se casar com um homem como ele era raro. Mas ele conseguia ver nos olhos da bela moça que não estava contente com seu ato. — Pois bem. — Irrompeu a voz do advogado na sala. — Eu já comecei a tratar os documentos para o casamento civil. Em uma semana será realizado o matrimônio. — Por que tanta pressa? — Perguntou Laura, ainda extasiada com o choque que levou. — Nós estamos afundados em dívida, minha filha. — Explicou Emanoel. — Quanto antes acontecer o casamento, mais rápido estabeleceremos nossa situação. Assim que os papéis de casamento forem assinados, meu patrão dará o dinheiro prometido. — E mais uma coisa que eu esquecei de deixar claro. – Disse Sebastian, com uma voz grossa. — Não quero festa. — Não se preocupe. — Laura tratou de responder. — Eu também não quero. — Então, estamos conversados. Nos veremos no dia em questão. — Disse Sebastian, que saiu sem cumprimentar sua noiva. O advogado deu um breve adeus e também se fora. Laura caiu sentada no sofá. Não estava a chorar. Ela aguentaria. — Emanoel, é com este homem que você vai casar nossa filha? — Perguntou Joana. — Não temos outra solução. Mas ele é um bom homem. — E o que aconteceu com ele, meu pai? — Disse Laura. Ela não estava com raiva deste senhor, apenas com dó. — Sinceramente, eu não faço ideia.................................... Elena e Elisa haviam marcado de se encontrar na casa de Laura, assim que o sol estivesse se pondo. Quando as amigas chegaram, Laura tratou logo de contar nos mínimos detalhes como era seu futuro marido. Elisa ficou chocada e não disse uma palavra. Já Elena, dissera todas as coisas ruins que poderiam vir a sua cabeça. — Que horror, Laura! — Respondeu a jovem de olhos castanhos, se abanado com um leque florido. — Se eu não estivesse tão apaixonada pelo meu encomendador, o cederia a você, minha querida. — Laura suspirou, sabendo que isso não era verdade. Porém, sua amiga queria lhe acudir. — Você imagina o porquê dele ter ficado assim? — Indagou Elena. — Não. A única coisa que sei é que ele é alemão. — Meu Deus! Seria ele um dos homens de Hitler? — Se fosse, porque ele teria ficado com essas marcas e por que teria vindo para o Brasil? — Dessa vez, quem perguntara foi a doce Elisa. — Talvez ele tenha traído Hitler e o próprio o torturou, e tenha vindo fugido para cá. — Sugeriu Elena. — Ou talvez ele tenha sido mandado para nos vigiar. Alguns falam que nosso presidente apoia esta guerra. — Elena sussurrou. Se alguém a ouvisse falar tamanha acusação, seria presa. — Ou ele pode ser judeu. — Sugeriu Elisa. Elena a olhou com um olhar furioso. — O que eu mais achei estranho foi o fato deste cavalheiro falar muito bem o nosso idioma. — Laura falou. — Eu já disse, ele pode estar disfarçado a mando de Hitler. Minha amiga, se Miguel não vir logo atrás de você... estará condenada a viver com um monstro pelo resto da vida. Laura suspirou e Elena percebeu já ter ficado de noite. — Elisa, vamos para casa. Já é tarde. — E as moças ficaram de pé. — Sim, minha irmã. — Meus pêsames pelo casamento, Laura. – Elena disse e se retirou, enquanto sua irmã mais nova ainda estava na sala dos Sampaio. — Não dê ouvidos a minha irmã, Laura. — Mas ela tem razão, Elisa. – A mocinha de olhar meigo segurou o rosto de sua amiga, aflita. — Nunca julgue um livro pela capa, minha amiga. Lembre-se que, ás vezes, achamos um livro muito lindo por fora e, por dentro, tem um conteúdo tenebroso. Mas também podemos nos surpreender. A capa pode ser feia, mais ter um belo recheio. Eu torço para que tudo dê certo. — Obrigada, Elisa. E sua amiga foi embora, deixando Laura sozinha. Seria ela uma pobre dama ou uma dama de sorte pelo marido que conseguira? Isso só o tempo dirá. Na mansão Rosenstock, Sebastian estava a conversar com Osório em seu escritório. — Já está tudo certo em relação ao dinheiro do senhor Sampaio? — Sim, senhor. Está tudo guardado dentro de uma maleta em seu cofre. E o cartório já está com a data marcada. O senhor realmente quer fazer isso? — Eu já disse, Osório. O senhor Emanoel é um homem bom, precisa de ajuda. Eu lhe daria esse dinheiro sem hesitar, mas ele só aceitaria se esse casamento se realizar. — Eu não entendo. Por que dá sua filha em troca? — O senhor Emanoel me disse que sua filha está apaixonada por um rapaz que foi para guerra. E tem medo dele não voltar mais e sua filha ficar solteira. Sabe como o mundo é maldoso com mulheres solteiras. — Sim, mas penso no senhor. — Disse Osório. — Essa dama é muito bonita e bondosa, pelo que ouço falar. E o senhor... — Sim, estou propenso a me apaixonar por ela, se é que isso ainda não aconteceu. — E se ela te magoar? Tenho muita consideração pelo senhor. — Eu sei, Osório, e obrigado por se importar comigo. Mas saiba que nada dói mais do que essas marcas que a guerra me deixou. Voltando para a mansão Sampaio, Laura estava em seu quarto, olhando suas recordações com Miguel que havia guardado em uma caixa. Nela, tinha muitos poemas escritos pelo próprio, um cordão que recebeu de presente dele e algumas poucas cartas que ele havia escrito em quatro anos fora do Brasil, na guerra. E junto, olhava os quadros que havia pintado dele. Traços que Laura fazia questão de gravar. Seus cabelos loiros rebeldes, olhos azuis tão limpos como o céu, usando uma jaqueta preta; uma moda que ela achava estranha, mas nele, caía muito bem. Em um dos quadros, ele segurava um cigarro. O rapaz era de um caráter impecável, pelo menos para sua amada, ela o achava extremamente bondoso e honroso. Todos na cidade sabiam que o amor dela por ele era cego; ela não enxergava seus defeitos. Elisa nunca quis alertá-la, para não magoar sua amiga. Já Elena, tinha inveja do rapaz mais cobiçado pelas jovens ter dado seu coração a sua amiga. Emanoel e Joana o achavam bom, mas temiam que ele não voltasse da guerra. Apesar de Miguel não ser tão generoso, ele nunca mentira em relação a Laura; sempre foi apaixonado por ela e entregou seu coração a ela quando crianças. E foi muito difícil de se separar dela. Laura não tinha notícias de seu amor, só queria que ele lesse sua carta o mais rápido possível e viesse buscá-la. Se não, em sua concepção, ela seria a esposa mais infeliz que já existiu no Brasil.

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