Capítulo Quatorze

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Já havia passado dois dias desde o enterro de Catarina. Não pegaram o culpado e provavelmente isso não aconteceria. Não tinha pistas e muito menos provas; Joana e Emanoel já tinham se conformado com a nova vida. Já Laura, passara os últimos dias trancada no quarto; Triste, com olheiras, deixando sua beleza e vaidade de lado.

O único que ela permitiu que a visse era Sebastian. Ele estava cuidando dela há dias. Parecia até uma boneca, não se mexia, não emitia sons e às vezes, ele achava que ela nem estava lá.

Sebastian ficava mais preocupado a cada dia que terminava. Aquele que um dia fora médico, estava com medo de sua amada estar desenvolvendo uma doença muito comum no último tempo. Ainda não tinha nome, mas todos que tinham aqueles sintomas, eram internados em hospícios, por serem diagnosticados loucos.

Óbvio que Sebastian acreditava, que era apenas uma doença dos nervos. No entanto, os outros não pensavam de tal maneira.

Foi então, que ele pensou em algo que poderia fazer Laura voltar a "viver".

- Teresa! – Sebastian chamou por sua empregada.

- Senhor?

- Por favor, eu vou sair. Fique com Laura e assim que o relógio soar às três horas, arrume-a. E depois chamarei vocês.

- Aconteceu algo senhor?

- Não. Mas vai acontecer. Vou tirar Laura da tristeza. – Sebastian saiu, convicto de que sua ideia daria certo e Teresa ficou alegre.

Logo, ela apareceu no quarto da patroa. Que estava entregue á lamentação.

- Finalmente recebi ordens de poder vê-la. – A moça não reagia. – Laura, você é tão linda. Não deveria estar deitada nesta cama. Você não sabe o quanto tem preocupado a todos.

Teresa sentou-se na cadeira ao lado da mesa e ficou em silêncio, tentando pensar no que dizer. Até que lembrou alguns versos que ela tinha lido há um tempo.

"Nos piores momentos, lembre-se:

Quem é capaz de sofrer intensamente, também pode ser capaz de intensa alegria."

- Clarice Lispector. – As duas haviam falado juntas e Teresa sorriu.

- Laura, perdoe minhas palavras, mas está a parecer com uma morta-viva. Tem de se animar. Sair deste quarto, respirar ar puro.

- Não sei se tenho vontade Teresa.

- Não faça isso por você e sim, por seus estimados pais. Eles não aguentariam perder mais uma filha.

A moça não falou mais nada. Até que o relógio soou três horas. Teresa se pôs de pé e forçou sua patroa tomar um banho. Enquanto isso, ela preparou um dos vestidos que ela mais gostava de ver em Laura, ele era vermelho e com muitos botões, seu comprimento até o joelho e servia para todas ocasiões. Quando Laura saiu do banheiro, entrou em uma pequena discussão com a empregada, dizendo que não queria usar aquela roupa. Mas Teresa tem um grande poder de convencer as pessoas e conseguiu o que pretendia.

Escovou os cabelos dela; tentou passar um batom, mas fora impedida.

- Teresa! Traga Laura até aqui embaixo! – Gritou Sebastian.

- Vamos Laura. – E a moça pegou na mão da outra jovem.

- O que vocês estão fazendo?

- Nem eu sei de nada Laura. Juro.

Saíram do quarto, desceram as escadas e se encontraram na sala de estar. Laura nem acreditou no que estava vendo. Perguntou se era um sonho. Abriu os olhos algumas vezes e percebera que não.

Laura estava a ver todas as crianças do orfanato na sala, inclusive Isabel. Elas estavam fantasiadas e tinha um palco com algumas cortinas e em cima do palco, havia móveis em miniaturas, quase tão pequenos quantas as crianças.

Sebastian subiu ao palco sorrindo.

- Boa tarde senhoritas! Hoje iremos assistir a uma peça feita por nossas lindas crianças. Veremos Cinderela, o Conto-de-fadas existe.

Laura estava estupefata com aquela situação e Teresa estava surpresa. Nunca vira tanta criança antes.

Tinha duas cadeiras no palco, onde estava sentados, Isabel e um menino, chamado Erick.

Uma voz ao fundo começara a falar. Laura reconheceu esta voz sendo de Franco.

- Um belo dia, em um reino muito bonito e habitado por pessoas boas e simples, estava a acontecer uma festa. O reino todo estava comemorando o nascimento da pequena Aurora, a primeira filha dos reis.

E assim, foi contando a história, enquanto as crianças encenavam nos fundos.

Antes que pudesse chegar no final, Isabel pôs a falar.

- Laura, precisamos que você seja a Cinderela. – E outras crianças puxaram para o palco. A moça representou muito bem, aliás conhecia aquela história de cor e sorteado.

Laura fingiu se espetar e caiu deitada no chão do palco. Na hora da princesa ser despertada por um beijo, levaram Sebastian até ela, que relutara muito, mas fez seu papel. Deu um rápido beijo na pequena boca de Laura. Fazendo-a abrir os olhos para ver quem teria feito isso. E ela, ficou surpresa ao vê-lo ali.

- E assim, a Cinderela foi feliz para sempre com seu príncipe. – Disse Isabel e todos aplaudiram.

Laura deu um abraço em cada criança. Estava quase chorando de felicidade, por ver o quanto era querida por essas crianças.

- Laura...nós fizemos essa encenação pra te animar. Sabemos o que aconteceu e tio Sebastian estava aflito, querendo te fazer sorrir.

- Elas estão certas, Laura. – Confirmou Sebastian, com um sorriso tímido. – Teresa, tem alguns doces na cozinha, que comprei. Pode trazê-los? – Ela disse que sim e foi atrás das guloseimas.

Depois de uma hora, todos estavam satisfeitos.

- Franco e Teresa, podem levar as crianças de volta? Já está tarde.

- Sim, senhor, faremos isso. – Respondeu Franco. – Vamos meninada, vamos andando.

Quando deixaram o casal sozinho, Laura começou a falar.

- Obrigada, Sebastian. Você foi maravilhoso. Eu...não tenho palavras.

- Não precisa agradecer Laura. Você já fizera muito por mim, era minha vez de retribuir.

- Prometo que tentarei voltar ao normal.

- Eu sei que vai.

- Sobre o beijo...

- Foi atuação. – Ele disse.

- Será? – Perguntou Laura. – Eu adoraria que ele fosse de verdade.

- Laura...não vamos voltar neste assunto.

- Sei que gosta de mim. Não teria feito algo deste escalão só para me animar, se não me amasse. – Ela concluiu com um sorriso no rosto.

- E quem disse que não a amo? – Sebastian falou seriamente.

- Então, por que você não me mostra esse amor?

- Porque você não me corresponde. E eu te entendo. Quem amaria um ser como eu? Sou horrendo, um monstro, praticamente.

- Pode ser por fora, mas por dentro, é um príncipe.

Ele se levantou indo direto para seu quarto.

- Eu sempre soube que me amava, Sebastian. – Laura disse a si mesma. – Só falta eu saber, como irei te provar meu amor.

Sebastian estava em seu quarto e pegou sua gata Emma no colo, sentando-se na poltrona e fez carinho nela.

- Emma...ela não pode estar apaixonada por mim. Isto não é um conto de fadas. Será que ela seria de fato, capaz de amar um monstro como eu? Só o tempo há dizer. 

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