Era um novo dia e Sebastian se encontrava acordado, olhando para sua esposa. Ele tinha um grande sorriso em seu rosto e acariciava os cabelos de Laura. A moça dormia serenamente. E Sebastian não parava de pensar na noite que haviam tido. O casal tinha se amado pela primeira vez. O homem que estava deitado naquela cama, não era mais o mesmo com quem Laura tinha casado; ele havia mudado muito e para melhor. Percebeu que podia de fato ser feliz.
- Bom dia meu amor. – Pronunciou Laura, ao abrir seus olhos azuis.
- Bom dia, minha linda. – Ele sorriu.
- Eu ainda não acredito nisto. Parece um sonho. – Ela disse.
- Se for um sonho, espero nunca acordar dele.
- Agora que estamos juntos realmente, você pode se mudar para o meu quarto...
- Pensei que eu teria de lhe perguntar isso. – Sebastian riu e seus pensamentos o levaram a outro universo.
- Você ficou calado de repente.
- Eu quero lhe perguntar algo.
- Prossiga.
- Você...quer... ter filhos? – Ele havia passado algumas horas pensando neste assunto, durante a noite. Laura não havia lhe mencionado nada a respeito a filhos.
- Sebastian...eu acho que um casamento não é real se não tiver frutos. E eu sempre quis ter filhos. Quero crianças correndo nesta casa e enchê-la o máximo possível. – Laura tinha um sorriso no rosto e mais uma vez seu marido estava surpreso.
- Você quer ter filhos comigo?
- Se não for com você, não há de ser com ninguém mais.
- Mas...o que elas hão de pensar sobre mim?
- Que você é o melhor pai do mundo. – Laura se pôs sentada na cama. – Nunca duvide disso.
- Você é incrível, meu amor.
- Eu me tornei uma pessoa muito melhor depois que lhe conheci. E principalmente, depois que me apaixonei.
Sebastian beijou Laura e ficaram assim por quase toda manhã.
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Logo depois do almoço, Laura arrumou as roupas de seu marido no quarto. E ela o fez com muita alegria e amor. Em seguida, resolveu pegar um papel e escrever uma carta a seus pais.
"Mamãe, papai e Hermínia,
Estou muito feliz. A guerra terminou, Sebastian conseguiu um documento para poder trabalhar como médico no Brasil e finalmente, consegui o amor dele.
Sinto que agora, seremos imensamente felizes.
E como vocês tem passado? Estou com saudades e espero que me visitem logo.
Abraços de Laura."
Laura colocou o papel dentro de uma carta, pegou uma bolsa e saiu de seu quarto.
Encontrou com Teresa na sala de estar.
- Teresa, por favor, avise meu marido que vou aos correios enviar uma carta a minha família.
- Sim senhora. – Atendeu prontamente.
- Teresa? Apesar de eu ser a esposa de seu patrão, prefiro que continue me chamando pelo meu nome.
- Está bem. – Ela sorriu e Laura saiu pela porta da frente.
Andou um pouco e chegou ao seu destino. Pagou uma taxa para enviar a carta e foi embora.
Quando estava rumando para casa, ela infelizmente encontrou Madeline, a costureira de língua solta.
- Cher Laurra! Que ótimo lhe ver. Como passas? – Laura pensou. Talvez não seria tão ruim ter a encontrado.
- Olá senhora Madeline! Estou muito bem, obrigada.
- A última vez que soube sobre ti, tinha ido visitar a cadeia.
- Foi apenas um engano. – Laura disse, tentando conter sua falsa estima pela senhora.
- Cher, eu também soube que seu marrido é médico.
- Sim. Ele agora pode exercer sua profissão, sem medo de Hitler.
- Ele se escondia do ditador?
- Sim. Meu marido contrariou suas ordens de não ajudar judeus. Por isso tem aquelas marcas. – Laura sabia que Sebastian não queria que ninguém soubesse. No entanto, ela fazia aquilo pelo bem estar dele. Sabia que ele não poderia ter sucesso nenhum com aquela sociedade preconceituosa.
- Oh mon Dieu! Coitado! – Ela se espantou. Mas logo mudara de assunto. – E como está seu matrimônio?
- Muito feliz! Já estamos a pensar sobre nossos futuros filhos.
- Que marravilha, cher!
- Preciso ir. Mas prometo ir lhe fazer uma visita em sua loja.
- Obrigada, cher! Estarei a sua esperra.
Aquele comentário sobre sua possível visita iria fazer com que aquela senhora, contasse a todos sobre Sebastian. E com certeza, aumentaria o caso. Laura já podia imaginar, que logo seu marido seria reconhecido por tamanho heroísmo.
Laura voltou para sua casa e foi até o escritório de Sebastian.
Ele estava sentado em sua poltrona, lendo alguns papéis. Andou até ele e o beijou.
- Enviou a carta?
- Sim, meu amor. – Laura se sentou em seu colo.
- Tenho uma ótima notícia para você.
- E o que seria?
- É sobre o orfanato.
- O padre não irá mais vendê-lo? – Estava cheia de esperanças.
- Ainda será vendido, meu amor. – Logo seu sorriso desmanchou. – Eu só estive pensando...esta casa é grande a demasia, somente para nós. E se, nós a transformasse no lar Rosenstock para crianças órfãs?
- Você realmente pensou nisso?
- Sim. Eu também adoro aquelas crianças e pode ser um ótimo trabalho.
- Mas...é certo?
- Sim. Osório já pediu os documentos necessários há alguns dias. E logo as crianças hão de estar conosco.
- E podemos...ensiná-las a tocar piano e pintar!
- É uma grande ideia.
- Estou muito feliz! – E Laura beijou seu marido apaixonadamente. "Ele é incrível". Pensara.
Duas semanas depois...
Laura estava inquieta, pois o dia das crianças irem para mansão já podiam ser contados.
A casa tinha passado por algumas reformas e recebido muita mobília e brinquedos.
O quarto onde Sebastian habitara sozinho por muito tempo, era do casal.
O quarto onde Laura usou por algum tempo, seria o quarto de crianças com 3 à 5 anos.
O próximo quarto, habitariam as meninas de 6 à 10 anos. Logo mais, os meninos da mesma idade.
E o quarto mais longe, seria o aposento das moças. Não haviam meninos com mais de 10 anos.
Franco e Teresa se encontravam muito contentes pela mudança. Eles hão de continuar com suas funções e ambos, haviam sido nomeados como braço direito do casal. Era totalmente certo que o padre José continuaria a ajudar as crianças e a irmã Ana, que também tinha cuidado do orfanato por longos anos, continuaria fazendo-o.
- Laura! – Gritou Sebastian, de seu escritório. E a moça se pôs a correr.
- O que está acontecendo meu amor? – Ela estava assustada. Seu marido nunca ficara exaltado assim.
- Laura, você está sabendo o que estão falando pela cidade? – Ela negou com a cabeça. – Que eu fui o maior herói na guerra. Você revelou isto a quem?
- Não hei de mentir. Disse a senhora Madeline.
- A costureira de língua solta?
- Você aprendeu muito bem as expressões daqui. – Laura tentou sair do assunto, sem sucesso.
- Laura...eu não queria que tivesse dito nada. Eu já havia lhe falado isso.
- Eu sei, meu amor. No entanto, achei que seria bom. Pois com essa fama, você poderia trabalhar em paz.
- E eu tenho que lhe agradecer. Foi por esse pensamento que o prefeito aceitara minha decisão de montar este lar. E sabe o que mais? Ele vai oferecer um jantar para mim, como membro da paz, junto com mais outras pessoas que lutaram na guerra e se machucaram.
- Que notícia maravilhosa! – Laura se alegrou, indo até seu marido, o beijando. Ele abraçou sua cintura fortemente. Parou de beija-la e foi até a porta, trancando-a.
- Estou com medo...- Laura disse, risonha. Sebastian a beijou novamente. E sussurrou em seu ouvido.
- Te amo e quero ficar em seus braços pela eternidade.
..............
Laura e Sebastian estavam deitados no chão do escritório, abraçados.
- Você sabe que quando nossas crianças chegarem, teremos de parar com esses hábitos.
- Me recuso. – Ele respondeu. – Podemos ser discretos.
TOC TOC
- Quem é? – Perguntou Sebastian.
- Senhor, sou eu, Teresa. Desculpe interromper, mas...a senhora Laura tem visita.
- Diga que já irei atender.
Os dois se vestiram e saíram do escritório, rumando até a sala de estar, que havia sido completamente mudada, com a reforma.
- Elisa? – Laura a indagou, quando a viu sentada.
- Minha amiga Laura! – A moça elegante, levantou e abraçou a amiga.
- Que maravilha lhe ver aqui! – Laura afirmou, alegremente.
- Olá, Sebastian. – Elisa o cumprimentou e ele fez o mesmo.
- Que mala é aquela? – Laura a perguntou, olhando para o objeto.
- Eu deixei minha casa.
- Mas...porque?
- Eu estava farta de viver com Elena. Ela não me deixava fazer mais nada. Não queria que eu saísse de casa, não queria que eu convivesse contigo. Elena tem uma personalidade muito forte, não consigo mais lidar com ela. Vocês deixariam que eu ficasse aqui por uns dias?
Laura olhou para Sebastian e ele deu um sorriso.
- Minha amiga Elisa, óbvio que pode ficar conosco! Será um prazer enorme.
- E a senhorita pode ficar o tempo que quiser.
- Obrigada! Vocês são maravilhosos!
- Mas...Elisa, aqui será um lar para crianças...- Laura disse.
- Eu fiquei sabendo e poderei ajudá-los no que precisarem. Estou disposta a cuidar daquelas crianças.
- Ótimo ouvir isto, Elisa.
E as moças se abraçaram.
Dois dias depois, as crianças chegaram muito alegres naquele lar. E foram recebidas com muito amor por todos que ali moravam. Laura e Sebastian ficaram mais do que satisfeitos com o feito. E a partir dali, as crianças foram se desenvolvendo muito bem. Sebastian era professor de piano e Laura, professora de artes.
Elisa havia se oferecido para ser professora de balé. Franco continuava como motorista e Teresa como cozinheira; o padre José continuava a ensinar a palavra divina das escrituras e irmã Ana cuidava do desempenho das crianças na escola.
Todos que trabalhavam no lar eram amados pelas crianças e vice-versa.
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Marcas da Guerra
RomanceSinopse O que você faria para apagar as marcas de uma guerra? Sebastian nunca pensou que perderia o controle de sua vida, nunca pensou que chegaria em tal situação, mas sua mera realidade lhe mostrou que, independente do que aconteça, o que realment...