Capítulo 17

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O padre ficara surpreso com a pergunta de Laura. Provavelmente, uma das crianças teria dito à ela.
- É verdade sim, Laura.
- Mas por que padre? – Ela perguntou, tristonha.
- Não é segredo para ninguém que o governo não nos ajuda. O orfanato sempre sobreviveu às custas da igreja e de doações. No entanto, as finanças estão insatisfatórias.
- Tão de repente? – A voz de Sebastian penetrou na conversa.
- Não. Já estávamos rumando para este caminho há tempos.
- O senhor me permite averiguar a questão? Sou ótimo em contas. – Disse Sebastian.
- Sim, padre. Talvez meu marido possa resolver o problema. – Sebastian olhou para Laura, surpreendido por ela ter dito "meu marido". Ele notara que foi a primeira vez que a jovem dissera tais palavras.
- Está bem, Sebastian. Mas eu digo que não tem jeito. O orfanato está arruinado.
Depois destas palavras, o padre havia pegado os documentos essenciais para Sebastian e em seguida, o casal foi embora.
- Se as dívidas forem poucas, poderá pagar por elas, meu marido? – Sebastian abriu um pequeno sorriso por ouvir aquelas palavras novamente.
- Possuo uma fortuna imensa. Quaisquer que forem o preço, pagarei.
- Sabia que não negaria este tipo de coisa! – Laura ficou alegre e mais aliviada com a resposta.
- Eu gosto muito daquelas crianças. – Ele respondeu.
- Eu concordo. Elas são minha vida.
Logo, eles chegaram em casa e Laura deu boa noite a Sebastian, dizendo ir dormir. O mesmo foi até o escritório e começou a analisar os papéis. O homem não tinha ideia de que as dívidas poderiam ser tão grandes...
..........................
O sol já havia aparecido no céu e Sebastian se encontrava em seu escritório há tempos, analisando as contas. Até que Laura apareceu em sua frente, segurando sua linda gata Emma.
- Bom dia Sebastian. – Cumprimentou Laura.
- Bom dia. Finalmente essa gata voltou para casa. – Ele disse, não se recordando da última vez que a viu.
- Você tem de estipular regras nela, Sebastian. Se não, você será vovô. – Laura riu e Sebastian fez uma careta a ela.
- Como posso ser avô de um gato?
- Você não se considera pai dela? – Indaga.
- Não. Somente dono. – Laura percebe que ele está sério.
- Você está olhando as finanças do orfanato?
- Sim. Eu não imaginava, mas as dívidas são muitas e altas, sem tirar os juros.
- Mas você ainda pode ajudar não é? – Laura pergunta quase que num sussurro.
- Infelizmente, não. Quanto mais eu pagar as dívidas, outras mais vão aparecer.
- Como é possível, ter tantos gastos?
- Laura, um orfanato precisa de muitos cuidados. São vestuários, calçados, roupas de cama, material de escola, uniformes, alimentação, higiene, entre outros. – Laura bufou e soltou Emma.
- Aquelas crianças são tudo para mim, Sebastian. O que vou fazer?
- O máximo que você pode fazer, é tentar arrumar bons lares para elas. – Sebastian suspirou.
- Obrigada, por tentar ajudá-las.
- Eu vou levar os documentos de volta para o padre e aproveitar para ir até o escritório de Osório. Vou ver se ele poderá nos ajudar nesta questão.
Laura acenou e Sebastian foi até ela, depositando um beijo em sua testa, no intuito de acalmá-la. Quando ele percebeu o que fez, logo se arrependera.
Tinha medo de dar falsas esperanças a ela. Mas não seriam tão falsas, porque afinal, ele a ama. Só tem medo de se entregar verdadeiramente.
Assim que Laura ficou sozinha, ela foi até a cozinha e contou tudo a Teresa.
- Que pena, Laura. Você gosta tanto delas...
- Sim. Não imagino o que pode acontecer com elas.
- Imagine que vão encontrar pais em outra cidade e serão felizes.
- Você tem razão.
TINDOM
As moças ouviram a campainha tocar e Laura foi até a porta, dizendo a Teresa para continuar em suas tarefas.
Laura teve uma ótima surpresa, quando viu seus pais.
- Papai! Mamãe! Que alegria em vê-los! – Laura esbanjou felicidade, abraçando-os. – Entrem!
Eles a seguiram até a sala.
- Viemos ver se está bem. Soubemos do tumulto que envolveu você e Elena. – O pai explicou.
- Não foi nada demais. Só uma briga.
- Laura! Esta não foi a educação que lhe demos. – Repreendeu a mais velha.
- Sei disso. Lamento pelo ocorrido, mas eu não poderia deixar Elena falar mal de minha irmã e meu marido.
- Sabemos dos boatos que correm pela cidade. – Manoel dissera. – Todos os boatos sobre seu casamento, a morte de sua irmã.
- Estamos muito triste, minha filha. Não por você ter dado a lição que a sua falsa amiga merecia. Ela já havia me insultado algumas vezes.
- Sua mãe tem razão, Laura. Por isso, decidimos ir embora do Rio de Janeiro.
- Como? – Laura ficou boquiaberta.
- Este lugar tem nos trazido muito sofrimento. – Replicou Joana. – Será melhor assim.
- E para onde irão?
- Vamos para França. É bem longe daqui. Poderemos recomeçar a vida lá.
- Mas e a guerra papai?
- A guerra não está acontecendo no território francês. Poderemos morar tranquilamente.
- E levaremos Hermínia. Não posso viver longe de minha amiga.
- Nós só vamos partir, por saber que não estará só. Terá seu marido junto.
- Sim, pai. Ele é o melhor marido que poderia ter pedido.
- Eu sabia que tinha feito uma boa escolha para ti. – Disse Emanoel.
- Hão de partir quando? – Perguntou Laura.
- Em dois dias. Ficaremos bem. – Falou Joana com um sorriso terno.
- Sentirei saudades. Mas não poupem papéis para me escrever.
- Garanto que estaremos sempre em contato. – Disse o senhor.
.......................
Laura estava sentada em seu quarto desde que seus pais haviam voltado para casa. Podia ver lágrimas fazendo um caminho em seu rosto.
TOC TOC
- Entre. – Disse Laura, para quem batia em sua porta.
- Olá. – Disse Sebastian, ao entrar. Ele andou até a moça e sentou-se de frente para ela. Passou seu dedo indicador pelo rosto suave, na tentativa de seca-lo.
- Não chore.
- Você já sabe? – Sebastian confirmou com um leve aceno de cabeça.
- Sim. Teresa me falou. Mas não se preocupe. Eles hão de ficar bem. E sempre terá a mim.
- Sempre? – Ela questionou.
- Sim. Sempre.
Laura deixou a cadeira que estava sentada e o abraçou fortemente, se rompendo em choro. Agora, ela não chorava mais pela partida de seus pais e sim, pelo fato de que Sebastian ficaria ao seu lado para sempre. Depois de tantos dias, ela finalmente se encontrava feliz.
Sebastian virou o rosto dela para si e suas testas se encostaram, suas bocas ficando apenas centímetros de distância.
O homem contemplava a beleza de sua esposa e Laura olhava para seus olhos azuis, se perdendo no brilho que emitia.
Quando finalmente suas bocas se tocaram, um misto de sentimentos eram descobertos. Paixão, desejo e encanto foram revelados.
Sebastian ansiava por aquele beijo, desde o dia que a conheceu. E agora, ele acontecia com vontade. Aos olhos dele, era um sonho.
Para Laura, aquele beijo era uma certa urgência. Ela havia perdido a esperança de que este dia chegaria. A moça podia sentir realmente, que seu marido a amava.
Assim que o beijo terminou, Sebastian olhou para Laura por algum tempo.
- Por favor, não diga que isto foi um erro. – Quase que num sussurro, ela suplicou.
- Não direi. Porque não foi. – Ela sorriu e o abraçou mais uma vez.
- Você não sabe o tanto que ansiei por isto.
- Faço minha suas palavras. – Ele disse e passou sua mão no rosto de Laura, em forma de carinho.
E a beijou novamente. Dessa vez, sem pressa; como se o tempo tivesse parado ali.
Sebastian encerrou o beijo alegando que tinham de se recolher.
- Passe a noite ao meu lado. – Pediu Laura. Ele ficou sem reação no momento. Logo mais, arranjou as palavras.
- Tudo no seu tempo, minha amada. – Ele se levantou e saiu do quarto.
Laura estampou um sorriso enorme em seu rosto. Sebastian havia lhe chamado de "minha amada", haviam se beijado. E mesmo que ele não passasse a noite ao seu lado, sabia que estava perto desse dia chegar. Ele havia dito "tudo ao seu tempo."
- Finalmente, ele entendeu que o amo. – Laura disse para si mesma. Estava mais do que contente pelo acontecido.
E provavelmente, ela não conseguiria dormir aquela noite.

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