Capítulo 19

161 18 0
                                    

Sebastian havia acordado fazia tempo. Mas ele não pôde deixar de contemplar o rosto de Laura. Ela dormia serenamente.
- Deus, como ela é linda! – Ele pronunciou, em um tom baixo.
Alguns minutos se passaram e ele resolveu levantar, mas não sem antes depositar um beijo na testa de Laura.
Ele saiu do quarto sem fazer barulho e rumou para o seu, no final do corredor. Começou a se arrumar, sem deixar de pensar uma única vez, a noite que teve. Apesar de não ter acontecido nada, ele se encontra satisfeito, por ter dormido ao lado daquela que amava.
No entanto, Sebastian queria uma prova de amor da moça. Ele não poderia viver em paz sem esta prova.
.................................
Laura passou suas mãos no outro lado cama, procurando por Sebastian. Quando não o-encontrou, ela abriu os olhos e olhou por todo quarto. Ela pensou que poderia ter um sonho.
Mas ela sentiu o cheiro dele pelos lençóis.
- Não foi um sonho. – Ela concluiu para si mesma. Se pôs de pé e foi até o banheiro fazer sua higiene. Depois de pronta, saiu de seu quarto e desceu as escadas.
Olhou o grande relógio da sala e percebeu que já passava das nove da manhã. Laura foi direto para sala de jantar e sentou-se na mesa.
- Bom dia Laura! – Teresa começou a servir o café da manhã.
- Bom dia! Onde está meu marido?
- O patrão foi até a casa do advogado Osório. Pediu perdão por não lhe esperar.
- Tudo bem. Você já tomou o seu café?
- Não.
- Então, sente-se comigo. Você é minha convidada.
- Que honra. - As moças riram. Laura aproveitou que estavam a sós e confidenciou tudo a serviçal o que acontecia. – Eu já havia notado que vocês estavam se tratando de outro jeito. Logo, o patrão deve ceder.
- Espero que sim. Obrigada pela companhia, Teresa. Vou tocar piano.
- Disponha.
Laura se retirou e foi para sala de estar, onde poderia tocar piano e treinar seus mais novos conhecimentos.
Assim que começou a tocar, a campainha soou.
- Eu atendo Teresa! – Laura gritou. Quando abriu a porta, teve uma grande surpresa. – Miguel?
- Olá Laura. – A moça ficara sem reação. Será que ela via um fantasma ou uma pessoa de verdade?
- Você...está vivo?
- Surpresa por isso?
- Mas é óbvio! – Laura foi tomada pela emoção e o abraçou fortemente. Com isso, ela pôde perceber que ele realmente estava vivo. – Entre! – Ela foi até a sala e Miguel a seguiu.
- Você está mais linda do que antes. – Ele a elogiou. Laura percebeu que o rapaz continuava do mesmo jeito. Com os cabelos penteados de uma forma rebelde e vestia sua jaqueta preta de couro inseparável.
- Por que você não respondeu minhas cartas ao longo desses anos? Fiquei preocupada.
- Sinto muito Laura. Eu trocava de endereço o tempo inteiro. Não conseguia receber carta nenhuma.
- Então, por que não mandou uma explicando sua ausência? Achei que você...tivesse partido deste mundo.
- Me perdoe. Sei que o que você e minha mãe passaram foi minha culpa. Mas também não tinha tempo.
- Você está inteiro? – Laura perguntou.
- Sim. Não falta nenhuma parte. – Ele riu, a mostrando seus dentes brancos.
- A guerra acabou ontem. Você já estava a voltar mesmo antes?
- A guerra foi declarada como terminada ontem, mas isso já havia acontecido há dias. Muitos soldados já estão voltando.
- Penso eu que você deve ter perdido muitos amigos.
- Sim. Da leva de soldados que foram comigo, somente mais dois estão vivos. E um deles, perdeu o braço esquerdo.
- Isso é terrível!
- Não tem ideia do quanto, Laura...e o cenário era um caos total.
- Nem posso imaginar. – A moça olhava para o chão. E Miguel a olhava a todo instante, admirando sua beleza. Um silêncio se espalhou.
- Eu soube o que aconteceu com Catarina. Sinto muito.
- Obrigada.
- Soube também que seus pais foram morar na França. Mas saiba que não está sozinha. Estou aqui para você.
- Obrigada Miguel. Agradeço sua amizade.
- Laura? – Miguel ficou confuso. – Amizade? Como assim?
- Se você não percebeu, estou casada agora...não posso ter mais nada com você além disto.
- Mas somos namorados desde muito jovens...
- Éramos, Miguel.
- Olha, eu sei que você deve ter se cansado de me esperar, eu te entendo. No entanto...fiquei sabendo que você se causou por necessidade. Minha mãe me disse tudo. Até os boatos que correm.
- Esses boatos não são verdadeiros! – Laura se pôs de pé.
- Eu sei. Não acredito em nenhum deles meu amor.
- Não me chame de meu amor. Não sou mais seu.
- Laura, você casara com um monstro. Pelo que eu soube, ele tem marcas horríveis no rosto.
- Você não o conhece para dizer que ele é um monstro! – Laura estava exaltada.
- Não me diga que ele é um bom homem? Pessoas que fazem este tipo de proposta, não servem para alguém como ti.
- Essa proposta veio de meu pai. Ele não queria que eu ficasse sozinha. Você não voltava e eu me recusaria a casar. Foi o único jeito que ele encontrou. E hoje, eu o agradeço.
- Se você fala essas coisas, achando que não vou aceitá-la por já ter se entregado a ele, eu não me importo.
- Do que você está falando? – Laura já não entendia nada.
- Vamos fugir. Para um lugar bem longe, onde ele não possa te encontrar.
- Você enlouqueceu? Eu nunca fugiria com você e nem deixaria Sebastian! – Ela gritou bem alto.
- Laura, eu te amo! Eu não te esqueci, te juro.
- Miguel....- Laura falou, calmamente. – Eu também não te esqueci. Nós tivemos uma história. Mas você partiu e não tive garantias de que você voltaria. Sebastian apareceu e me apaixonei por ele.
- Não acredito que se apaixonou por... um monstro.
- Se você apareceu para ofender meu marido, vá embora! – Laura fez um sinal para a porta.
- Como você mudou. – Ele disse, indo até a porta.
- Mudei sim. Agora você...eu nunca notei que era de tão péssimo caráter.
- Quando você se cansar do monstro, não venha correndo até mim. Eu irei rir de ti. – Laura suspirou.
- Não se preocupe. Isto nunca há de acontecer. Mas se quiser chorar nos braços de sua mamãe, quando me ver feliz ao lado de meu marido, só sentirei pena. Adeus Miguel. – Ela o acompanhou até a porta e fez um barulho estrondoso quando a fechou.
- Idiota! Quem ele acha que é para ofender a Sebastian? Ele nem me conheceu de verdade. Se tivesse o feito, saberia que nunca deixaria meu amor. – Laura lembrou de Sebastian e deu um sorriso. – Você sim, Sebastian, me conhece. E eu te amo.
Laura disse para si mesma. Ela resolveu ir para seu quarto descansar. Depois de toda aquela discussão, havia ficado com dor de cabeça.
Ela ao menos reparou, que Sebastian se encontrava no corredor. Ele tinha ouvido toda a conversa e estava sorrindo. Dessa vez, era um sorriso largo que mal cabia no rosto.
....................
O dia havia transcorrido rapidamente. Laura não tinha dito nada sobre sua visita inesperada a Sebastian e ele, não comentara nada. Fingiu não saber.
Laura devolveu-lhe seu livro de poesias.
- Você me recomendaria outro livro deste autor? – Ela perguntou.
No mesmo momento, Sebastian olhou para sua estante, procurando por um livro.
- Aqui está. Chama-se Sentimento do Mundo. É ótimo.
- Você entende mais de livros brasileiros do que eu. – Laura riu.
- Passei tanto tempo escondido nesta casa...eu tive de arranjar um passatempo.
- Agora você não precisa mais se esconder...
- Não.
- E Osório, conseguiu o tal documento?
- Está quase. No entanto, não sei se alguém se consultaria comigo.
- Se eles soubessem sobre a sua vida na Alemanha...- Sebastian a cortou, antes que pudesse continuar.
- Prefiro que não saibam. – Laura ficou sem reação.
- Se as crianças não fossem embora, você poderia ser o médico delas. – Sebastian deu um sorriso.
- É uma boa ideia.
Laura voltou para seu quarto, no intuito de ler o livro. Ela estava um pouco triste. Sebastian tinha razão, ninguém se trataria com ele. Mas talvez, as crianças de rua, sim.
Era mais de nove da noite e Laura ainda se encontrava sentada em sua cadeira, lendo o livro. Vez ou outra, ela elogiava a escrita.
TOC TOC
- Entre. – Sebastian adentrou no quarto, segurando uma bandeja. Nela continha chá e biscoitos. Depositou na mesa e sentou-se de frente para a jovem.
- Achei que você poderia estar com fome.
- Obrigada pelo gesto. – Laura deixou o livro de lado e começou a colocar chá na xícara.
- Não está muito frio para a janela ficar aberta? – O inverno havia chegado naquelas semanas.
- Não acho que está frio. E também, às vezes sua gata aparece aqui.
- Aquela gata desnaturada...não sei mais o que fazer com ela.
- Meu amor, os gatos não foram feitos para ficar ao seu lado o tempo todo. Os cães fazem isso.
- Talvez eu tivesse adotado um. – Sebastian riu e Laura mordeu o biscoito graciosamente.
- Por que me olhas assim?
- Vou lhe dizer a verdade. – Laura sentiu um pouco de medo. Afinal, que verdade ele teria de contar? – Eu vi que Miguel veio lhe visitar. – Laura ficara pálida e um pouco pasma.
- Ah. Eu...eu...não devia ter deixado entrar em sua casa. Sinto muito. Mas você não havia saído?
- Eu cheguei quase no mesmo momento que ele. Esperei que o atendesse para ver quem era. E eu ouvi a conversa.
- Sebastian...eu...
- Você não tem nada a dizer, meu amor. Eu a vi mandando ir embora. Nunca pensei que faria isto.
- Eu confesso que durante um tempo tive medo dele voltar e os sentimentos se acenderem novamente. Mas não aconteceu Sebastian. Só senti carinho e felicidade, por estar vivo.
Ele ficou de pé e foi até Laura a colocando de pé também.
- Laura...você me deu a prova de amor que eu precisava.
- Prova?
- Sim. Eu tinha um medo terrível de que ele voltasse e você partisse. E você disse que não faria algo assim e que me amava. E me defendeu.
- Ah Sebastian...se fosse outra época, ficaria chateada contigo por querer uma prova de amor. Mas hoje não penso assim. Eu entendo o medo que você sentia.
- Agora, posso me entregar completamente a ti. Eu lhe amo Laura, quero ficar ao seu lado para sempre.
- Eu também lhe amo. Quero ficar com você por toda minha vida.
Sebastian segurou o rosto de Laura e a beijou apaixonadamente, sem medo do entregue. Ele segurou sua cintura e Laura passou as mãos por seu pescoço acariciando-o.
Sebastian começou a desabotoar os botões do vestido de Laura. Assim que o terminou, o vestido caiu no chão, revelando seu lindo corpo e ele o admirou por um tempo.
Depois, foi a vez de Laura desabotoar a camisa de Sebastian. Quando ela retirou a camisa dele, viu que o lado esquerdo de seu corpo inteiro, era coberto por marcas, como seu rosto. Cicatrizes e queimaduras habitavam em sua pele. Ele havia as escondido muito bem.
- Desistiu? – Sebastian perguntou, vendo que Laura havia ficado parada e calada.
- Nunca. Só não sabia que seu corpo seria assim...tão bonito. – Ele riu. – Sabe por que eu acho bonito? – Ele negou com a cabeça. – Porque você carrega marcas de um herói que você foi na guerra.
Sebastian a pegou no colo e a levou direto para cama, a depositando ali. Eles se beijaram mais vezes, enquanto Laura passava suas mãos pelas costas, barriga e braços de seu amado. E ele segurava seus cabelos loiros e também a acariciava. A moça se sentia nas nuvens com aqueles toques e podia sentir que Sebastian não estava lhe entregando apenas seu corpo, mas sua alma e coração juntos. E ela os guardaria com muito amor dentro de si.
E Sebastian achou que nunca sentiria tanto amor vindo de outra pessoa. Ele jamais havia se apaixonado antes e sentia que aquele amor tinha chegado na hora certa. Mesmo se nada acontecesse a ale na guerra, ele ainda seria infeliz. Pois não teria conhecido Laura e se apaixonado. O Homem estava completamente entregue, quando sua amada sussurrou em seu ouvido:
- Sebastian Rosenstock, prometo lhe amar, ser fiel e ficar com você na alegria, tristeza; na saúde ou na doença. Por todos os dias de minha vida. – Laura estava fazendo os votos de matrimônio. Ele ficou imensamente feliz em ouvir isso.
- Laura Sampaio, prometo lhe, ser fiel e ficar com você na alegria, tristeza; na saúde ou na doença. Por todos os dias de minha vida. – Ela sorriu. – Você me faz o homem mais feliz do mundo.
- E você me faz a mulher mais feliz. – Laura falou, mais ele já a fazia feliz há muito tempo.........



Marcas da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora