Capítulo 16

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Em outros tempos, se alguém dissesse que Laura estaria em uma cela de prisão, provavelmente, ninguém acreditaria.
Mas estava acontecendo. Laura estava em uma cela, enquanto Elena, estava em outra, de frente para a jovem.
- Eu não acredito que estou aqui! – Reclamou Elena. – Eu sou uma dama! Não frequento este tipo de lugar. – Elena falava com nojo.
- Não reclame Elena! – Disse Laura, revirando seus olhos. – Se não fosse por você, não estaríamos aqui.
- Você deve estar contente, Laura. Agora sim, acabou com minha reputação!
- Não se faça de vítima, Elena. Você mesma acabou com ela sozinha. – Laura estava calma. Havia recuperado sua sanidade depois da briga.
E no momento, apareceu Elisa.
- Minha irmã...- Ela falara, no entanto, Elena não a deixou continuar.
- O que está a fazer aqui Elisa? Este não é lugar para você. E aliás, devia falar com Edgar sobre o que aconteceu.
- Então...é isso que vim fazer. Fui na casa dele. Porém, a empregada disse que ele fora viajar para São Paulo. E só volta em três dias.
- Irei ficar neste lugar asqueroso três dias? Me tira daqui Elisa! – A moça estava alvoroçada e a coitada de Elisa não sabia o que fazer.
Um policial apareceu e foi direto abrir a cela, onde Laura estava trancafiada.
- Senhora Laura Rosenstock, está livre.
- Obrigada senhor policial.
E a moça foi acompanhada pelo policial até a recepção da delegacia. Até que avistou o advogado Osório.
- A senhorita está bem? – Ele perguntou.
- Sim, Osório. Muito obrigada por me livrar desta.
- Não precisa agradecer. Precisa de mais uma coisa?
- Na verdade, sim. Livre a Elena da cadeia. Sei que foi a própria que começou tudo. Mas não merece ficar aqui.
- Sim, senhorita. O Franco está a lhe esperar lá fora. – Laura acenou e logo viu seu fiel chofer que logo a levou para casa.
Assim que chegou, Teresa avisara que Sebastian a esperava no escritório.
Laura sentia um pouco de medo. Uma vez seu marido lhe falou que não queria escândalos no nome dele. Ela não parava de pensar nesta questão. Agora que estava quase ganhando o coração de seu amado, tinha uma chance de perder.
- Laura, que bom que você chegou! Fiquei preocupado. – Disse Sebastian, indo até a jovem.
- Desculpe ter lhe dado este trabalho, só que...eu não poderia deixar Elena falar mal de você e minha irmã Catarina.
- Minha querida Laura...não precisava me defender. Mas mesmo assim, não deveria ter feito o que fez.
- Sim, agora todos vão falar de minha imagem. E o pior: irão falar de você. Todos já sabem sobre sua aparência.
- Laura, eu não me importo com nada disso. Eu só não queria que você fosse a uma delegacia. Lá não é lugar para uma dama como ti.
- Obrigada pela consideração e pela ajuda.
- Sou seu marido. Meu dever é lhe ajudar. – Sebastian estava quase segurando as mãos de Laura, quando ela hesitou.
- Estou suja de terra e tinta. Melhor não me encostar. – Ela sorriu.
- Sabe...essa Elena bem que mereceu levar uns bons tapas.
- Saiba que eu não só bati, como deixei a sua cara arranhada e quase a descabelei inteira.
- HAHAHAHAHA. – Sebastian deu umas risadas bem altas, sendo acompanhadas por Laura.
- Preciso tomar um banho.
- Pode ir, minha Laura.
E ela rumou até seu quarto, com um sorriso enorme no rosto. Sebastian encontrava-se mais carinhoso com sua amada, após a pequena peça de teatro feita pelas crianças do orfanato. E no atual presente, a chamava carinhosamente.
Laura sabia, que era questão de tempo, tê-lo para si.
.............
O relógio já anunciava ser mais de seis horas da noite, quando a campainha soou. Laura se encontrava na sala, participava de mais uma aula de piano ao lado de Sebastian.
A jovem ficava um pouco confusa, não entendia a teoria e suas mãos se embolavam na prática.
- Patrão...- Falou Teresa. – O doutor Osório está aqui para vê-lo.
- Laura...importa-se de terminarmos a aula mais tarde? – Indagou Sebastian.
- Não. Fique a vontade. – Teresa voltou para cozinha enquanto Laura, subiu um pouco as escadas e se escondera. Queria saber o assunto dos dois.
- Então...ficou tudo certo quanto a fiança de minha esposa?
- Sim senhor. E da outra moça também. – Sebastian não entendeu. – A sua esposa me pedira para ajudar a moça.
- Entendi. E os papéis do soldado? Trouxe?
- Sim, senhor. Como sempre pede. E dei uma lida, está muito bom.
- Ótimo que compartilhamos o mesmo gosto. – Disse Sebastian, alegremente. E recebeu o envelope do advogado.
- Tenha uma boa noite, senhor. – E o mesmo saiu. Antes que Sebastian percebesse, Laura já estava na frente dele.
- Que envelope é esse? – Ela perguntou. – Por favor Sebastian, não me diga que está a armar contra Hitler? Você não percebe que é perigoso?
- Do que está falando Laura?
- Desse envelope. Já ouvi uma conversa de vocês, sobre um tal soldado.
- Agora entendi. – Sebastian abriu um pequeno sorriso. – Laura, neste envelope, tem uma história em quadrinhos. É como se fosse um livro, só que o enredo continua em outras edições.
- Não entendo. – A jovem coça a cabeça. Sebastian abre o envelope e retira de lá, uma revista fina.
- Nesta revista, conta a história de um rapaz que desejava servir seu país e lutar contra guerra. Mas como ele era muito magro e pequeno, não o aceitavam. No entanto, um belo dia, um cientista fez uma experiência com ele, transformando-o num super soldado. Dando à ele, condições de lutar pelo seu pais, à fim de acabar com a guerra. Ele é conhecido como o Capitão América.
- Uma história de herói? – Perguntou Laura.
- Sim. E eu peço a Osório, todos os meses, que me traga a revista.
- Entendi. Achei que você estava implantando uma conspiração. – Ela riu.
- Nunca meu amor. Até que tenho vontade. Só que...não posso contra ele, então, prefiro ler esta revista que me trás um pouco de paz.
- Sou mesmo uma boba.
- Senhores...o jantar está servido. – Anunciou Teresa.
.............
Depois do jantar, Laura encontrava-se em seu quarto, pintando um quadro de sua irmã Catarina. A jovem queria ter algum retrato dela, não queria se esquecer de seu rosto.
TOC TOC
Bateram na porta de Laura.
- Pode entrar. – Ela respondeu e logo, Sebastian se apresentou na frente dela.
- Está a pintar sua irmã?
- Sim. O que acha? – Laura usava seu avental e segurava um pincel consigo.
- Está ficando lindo. Agora que entrei aqui, me recordei que até hoje não me ensinara seu passatempo.
- Posso ensinar agora, se quiser. – Laura sorriu.
- Adoraria. – Laura pegou um avental que estava guardado e colocou no próprio. Ela fez questão de amarrar o vestuário em Sebastian e aproveitou para sentir o cheiro maravilhoso de seu perfume.
Laura deu um quadro limpo a Sebastian, pincéis e tinta.
- O que eu posso desenhar? – Ele perguntara.
- Qualquer coisa que te inspire. Pode ser um céu, uma casa, até mesmo uma pessoa. No entanto como é iniciante, duvido que consiga fazer o retrato de alguém.
- Duvida? Eu não falaria isso. – Ele desdenhou.
- Então me mostra.
Sebastian se posicionou e começou a desenhar uns gravetos e por cima uma bola. Trocou de cor e fez algo amarelo saindo da bola. Como se fosse uma água, só que de outra cor.
- O que desenha?
- Você. – Ele respondeu.
- Por um acaso sou feita de gravetos? E nem um cabelo tão grande assim. – A jovem cruzou os braços. Sebastian riu, entregou o material a jovem.
- Já desistiu?
- Não tenho jeito como pintor. Me saio melhor como pianista.
- Nisto, eu tenho de concordar. – Laura riu e chegou mais perto de Sebastian. Seus narizes se encostavam e a moça podia sentir o hálito fresco do seu amado.
Mas logo, Sebastian desviou seu rosto e mudou de assunto.
- Na verdade, eu vim aqui lhe chamar para ir comigo até a igreja.
- A esta hora?
- Sim. Preciso urgentemente me confessar.
- Fez algo de errado?
- Absolutamente não, Laura. O que eu poderia fazer? – Laura deu de ombros.
- Me espere lá embaixo. Já desço.
Passado algum tempo, o casal já se encontrava no local religioso.
- Meus jovens! – Disse o padre. – Que prazer lhes ver.
- Boa noite padre José. – Disse Laura com um sorriso meigo.
- O que fazem aqui?
- Vim me confessar, padre. – Anunciou Sebastian.
- Que ótimo meu jovem! Venha, vamos ao confessionário.
- Padre, posso ir até o orfanato?
- Sim, Laura. Fique a vontade.
O padre José levou Sebastian até o local certo e ficaram em seus lugares. Sebastian podia ver por uma janelinha, a sombra do rosto do padre.
- Então meu jovem, o que lhe traz aqui?
- Ah padre. O senhor não sabe como tem sido minha vida nestes últimos tempos. – Ele suspirou.
- Pensei que estivesse feliz ao lado de Laura...
- E estava padre. Mas...eu a amo tanto, estou ficando louco com este amor e desejo. Sabe...antes de Catarina falecer, Laura havia me tentando.
- Tentando como?
- Me seduzir. E de todos os jeitos, tentei me livrar dela.
- Se vocês são casados e sentem o mesmo um pelo outro, não há pecado meu filho.
- Mas para mim é. Como ela poderia amar um monstro como eu?
- Meu jovem, tu não é monstro. Pelo contrário, é um rapaz de bom coração.
- Ela está carente, padre. O grande amor da vida dela não sou eu. Ele está na guerra.
- Talvez, Laura tenha percebido que este sentimento não lhe convém mais e se apaixonou por ti.
- Acho difícil padre.
Antes que o senhor pudesse respondê-lo de volta, Laura voltou afoita.
- Padre! É verdade que hão de fechar o orfanato?
Sebastian ficou paralisado, junto ao padre. Enquanto Laura, não sabia se sentia raiva ou tristeza.

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