Capítulo 12: O dia seguinte (Rafael)

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- CARALHO! QUE PORRA É ESSA? – Gritei enquanto a Liz chorava desesperadamente. Eu sei que o meu papel seria buscar o autocontrole e tentar amenizar a situação, mas eu também estava em pânico.

Só alguém muito desgraçado para fazer algo de tanto mau gosto.

Encarávamos aquele objeto que nos remetia a um passado não muito distante e que poderia ter me levado à morte. Eu sabia que ela também se questionava que merda era aquela, mas apenas respirávamos pesadamente, sem conseguir verbalizar.

O presente de grego era um boneco Rafael “El Toro”, do UFC. Não que eu não me sentisse honrado por ser um astro do MMA e ter uma coleção para chamar de minha, mas alguém usou minha própria imagem contra mim. Foi feito um “vodu” meu, que retratava exatamente a minha situação na UTI depois do acidente. A miniatura estava coberta por mini faixas e curativos em todos os locais que eu havia machucado. Não que eu me lembre ou tenha me visto no espelho, isso é óbvio, mas também não é necessário ser muito inteligente para fazer essa conexão.

Voltei meu olhar para Liz, que esteve lá comigo, que acompanhou de perto a fase mais crítica, e vi a dor que ela estava sentindo ao ter que reviver aquele momento traumático.

Engoli várias vezes, para ver se o caroço que estava entalado na minha garganta descia, e percebi que minha menina se contorcia de tanto chorar.

Muito nervosa, tentou balbuciar alguma coisa que não consegui entender e apontou para outros detalhes que, devido à raiva que me cegava, tinha deixado de ver.

Quem poderia ter feito uma porra dessas? Isso é coisa de profissional, um amador nunca conseguiria fazer isso! Era algo tão perfeito e retrava com tanta riqueza de detalhes o que eu havia passado que estava me causando náuseas. Parecia que eu tinha recebido um golpe baixo durante a luta e estava no chão, urrando de dor e hiperventilando.

Ao olhar mais minuciosamente, reparei que o boneco havia sido pintado de roxo em alguns locais nos quais, à época, eu provavelmente tinha hematomas. A caricatura também tinha desenhos que simbolizavam os cortes - com linhas cruzadas e pontos - mas o mais intrigante, na realidade, era a existência de uma atadura no peito, porque eu não tive qualquer lesão na região torácica.

PUTA QUE PARIU, com certeza tiraram uma foto minha no hospital. Quem teria feito isso? A troco de que? De dinheiro? Até que ponto vão a ganância e a falta de caráter?

Transtornado pelo ódio, comecei a desenrolar a faixa e me deparei com algo ainda mais macabro: havia um coração solto, como se tivesse sido arrancado e um buraco no peito do boneco. Dentro dessa abertura, que estava coberta por tinta vermelha assim como o coração, havia um bilhete.

Abri descoordenadamente o pedaço de papel e li:

“Há mais de uma forma de desestabilizar um homem”.

- NÃOOOO!!! – Gritou Liz. Eu nem percebi que ela lia o conteúdo da mensagem comigo.

Permaneci mais alguns momentos em silêncio. Nunca fui violento fora do octógono, mas naquele momento eu não responderia por mim se eu me deparasse com o responsável por aquilo. Eu o aniquilaria sem piedade.

Minha linda poderia ficar ainda mais em pânico se imaginasse o turbilhão que meu peito e meu cérebro estavam. Eu não sabia o que pensar, como agir, mas como o homem da relação eu precisava fazer alguma coisa.

- Isso não pode ser verdade, meu Deus! – Soluçava horrorizada, balançando a cabeça em negação.

Aninhei meu amor no peito e a consolei, deixando aquele pedaço de maldade de lado, pelo menos por um tempo.

Transformados pelo amor (Livro 1: Tinha que ser Você) -  disponível até 30/09Onde histórias criam vida. Descubra agora