– Luke
Existem muitas razões para uma possível frustração. A minha, neste momento, era o som que o telemóvel de Nina emitia. Ambos continuávamos próximos um do outro, calados. Poderia ser um silêncio confortável, digo desde já, mas o irritante toque teve de estragar o momento de teatro. Não é que me importasse, obviamente...
Para uma pessoa, como eu, que dizia não ter sentimentos, algo fora do normal estava a acontecer. Nina estava-me a tornar num ser com humanidade, embora eu não quisesse. Eu simplesmente não conseguia ser rude ao lado dela, pois esta rapariga era uma boa humana, e qualquer um notaria nisso. Eu apreciava a sua presença, e não costumo apreciar nada. Era estranho eu gostar de algo, de alguém, mas era verdade. Tinha-me convencido a mim mesmo de que teria que me afastar de Nina, mas não conseguia. Os bons humanos não merecem desprezo. Nina não merecia desprezo. Nina era diferente. Não entendia o porquê de pensar nestas coisas. Nunca pensava nisto. Nunca pensava em raparigas. Só pensava em música e em matéria. Repetia letras de músicas e matérias na minha mente, para ver se as sabia de cor, mas, desde que Nina apareceu, e me fez ver parte da vida de outra forma, era ela que aparecia nos meus pensamentos. Os seus olhos verdes e o seu pequeno nariz, os seus lábios finos e o pequeno sinal que ela tinha na bochecha direita, que quase nem se via, mas eu conseguia reparar no mesmo. Reparava em cada pormenor que lhe pertencia, e isso assustava-me. Eu não queria desenvolver sentimentos em relação a ela. No máximo, uma amizade. Deveria considerá-la como uma amiga? Já lhe contei demasiadas coisas sobre mim, já desabafei com ela, e ela comigo, então, porque não? Nina era como uma amiga para mim. Não deveria negá-lo. Não se negam factos verdadeiros.
"Vais atender?" – acabei por perguntar, passado um tempo. Ela pareceu despertar do seu transe e um sorriso envergonhado curvou-se nos seus lábios. Assentiu e caminhou em curtos passos até à sua mala, retirando depois o pequeno telemóvel, que lhe pertencia, da mesma.
"Desligaram" – Nina falou, numa voz meiga, fazendo-me olhar na sua direcção.
"Quem era?" – questionei.
"Um anónimo" – encolheu os ombros, voltando para perto de mim.
Nina parecia tão... Pacífica. Os seus cabelos castanhos ondulados caíam perfeitamente sobre os seus ombros e a sua camisola estava ligeiramente descaída, fazendo com que um dos seus ombros se mostrasse. Por inércia, debrucei-me um pouco, ficando assim mais perto dela, ajoelhado. As pontas dos meus dedos viajaram até ao material suave da sua camisola, e puxaram a mesma para o lado, fazendo com que o seu ombro ficasse agora coberto. Os nossos olhares encontraram-se, e a sua expressão facial logo suavizou. A mão de Nina foi ao encontro da minha bochecha. Conseguia sentir que ela estava a tremer. Ela esfregou o seu polegar na minha pele, num gesto carinhoso, e, eu olhei para o chão, totalmente rendido. Senti-me arrepiado, e voltei a olhar para cima, encarando a angélica face de Nina.
"Porque me fazes isto?" – murmurei para mim mesmo, embora ela tenha ouvido.
"Faço o quê?" – a sua mão deixou de cobrir a minha bochecha, o que me fez estremecer.
"Menos flechas embatem no meu corpo quando estou contigo" – disse, com uma voz tremida.
"Flechas? Como assim?" – franziu a testa, confusa. Eu respirei fundo.
"Todos têm o seu escudo, Nina. Mas eu não. Eu não tenho um escudo. É como se as flechas fossem os problemas, e todas essas embatessem no meu corpo. Mesmo que sejam pequenas, causam sofrimento. E tudo se nota mais porque eu não tenho o meu escudo. Porque não me consigo proteger" – sussurrei, num tom audível. Nina pareceu ouvir-me com atenção, o que me fez suspirar.
"Porque não constróis o teu próprio escudo?" – a sua mão foi ao encontro do meu joelho.
"Não sei como o fazer. Não consigo" – desabafei.
"Consegues, Luke. Não digas que não" – Nina desenhou círculos imaginários com o seu indicador no meu joelho.
"Como?" – fitei os seus verdes olhos, que me fascinavam de alguma forma.
"Arranjaremos uma solução"
*
Às vezes gostava de sair de casa para ir caminhar, sozinho e ao ar fresco. Tinha-me habituado a fazer isso desde pequeno. Passeava pelo passeio de granito com os fones nos ouvidos, e escutava músicas. Variadas músicas, de diferentes géneros.
Era de noite, e era exactamente isso que eu estava a fazer. A caminhar. Encontrava-me completamente noutro Mundo. Esta era a única altura do dia em que conseguia pensar noutras coisas.
Às vezes, escapava para um lugar "mágico", que tinha encontrado há alguns anos. Eu dizia que era mágico devido ao seu bonito aspecto. Havia relvado à volta de um lago que continha a mais bela das águas. E o som, dava-me pura e simplesmente paz. O som das folhas a abanarem devido ao vento; dos grilos a respirarem. E, de vez em quando, o som das águas a remexerem-se sozinhas.
Agora encontrava-me apenas junto de casas, e algo captou a minha atenção, da forma mais esquisita de sempre. Alguém estava sobre um telhado, sentada no mesmo a ler algo. Com curiosidade, decidi aproximar-me. Semicerrei os olhos, tentando que a minha visão se tornasse mais apurada. Era Nina a rapariga que estava a fazer a coisa mais estranha de sempre. Ri-me para mim mesmo, fazendo com que um som se fizesse ouvir, por isso, ela olhou para mim.
Os seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo e um robe escondia o seu pijama. Os seus olhos verdes, mesmo assim, conseguiam-se ver no escuro da noite, devido à luz do luar que embatia directamente nos mesmos.
"Oh, olá Luke" – Nina falou, num tom alto, convidando-me depois a subir para cima do telhado.
"Não quero incomodar" – respondi ao seu gesto – "E olá" – formei um sorriso acolhedor.
"Vem, estão ali umas escadas" – ela ignorou completamente a minha frase, o que me fez suspirar. Mas a insistência dela não me incomodava nada.
Dirigi-me até às pequenas escadas de madeira e subi-as, degrau por degrau, com algum medo de cair. Assim que cheguei ao telhado vermelho escuro, debrucei-me, começando a andar pelo mesmo.
"Como subiste para aqui?" – perguntei quando estava consideravelmente perto dela.
"Da mesma maneira que tu" – riu-se. O seu riso ecoou nos meus ouvidos, como uma melodia.
"Oh, pois" – o meu olhar focou-se na lua cheia que predominava no céu azul-escuro.
"Estava a ler" – Nina declarou, apontando para a capa do livro.
"O que estavas a ler, Nina?" – inquiri, com curiosidade.
"A culpa é das estrelas. É um bom livro" – sorriu, como se estivesse feliz apenas por falar num conjunto de páginas com algo nelas escrito.
"Um dia quero escrever um livro" – deitou-se completamente no telhado, e a sua mão foi até ao meu peito. Puxou-me para trás, e deitei-me também, ao seu lado. Virei a minha cabeça para a direita e fitei-a. Observei cada detalhe do seu rosto, pela milésima vez, enquanto ela, provavelmente, fazia o mesmo.
"Irás ter sucesso, certamente" – murmurei, olhando-a directamente nos olhos.
"És precioso, Luke"
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Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]
Fanfiction☪ ☪ ☪ ❝ Eram um pouco diferentes. Dançavam na rua, perto do lugar onde tudo estava a decorrer. Contudo, conseguiam ouvir a música perfeitamente. A grande mão de Luke descansava sobre a anca da rapariga perante si, enquanto que a outra era...