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–  Luke 

  

    É esquisito pensar no quanto a minha vida mudou simplesmente por conhecer uma rapariga; simplesmente por conhecer Nina Stevens. Não é que nunca a tivesse visto antes, mas desde que começámos a falar, algo pareceu despertar em mim. Algo que antes nunca tinha despertado em mim. Vontade. Eu nunca tinha vontade para fazer nada, mas agora parecia ter, e era uma boa sensação.

    Afinal uma pessoa consegue mudar-te, se lhe deres possibilidade para tal. Não me arrependia de ter mudado num certo sentido. Mas, só me sentia diferente e agia diferentemente ao lado de Nina.

    Hoje seria o dia da apresentação das peças de teatro. Sim, isso mesmo. Iríamos atuar em frente da escola toda e de pais. Sentia-me nervoso, sem sombra de dúvidas, talvez por ter um dos papéis principais. Costumava, nos outros anos, ter um papel secundário. Ninguém reparava em mim e estava feliz com isso, sem nervosismos, mas agora não. Não sabia o que havia de fazer quando a cena do beijo chegasse à tona, mas, um momento de cada vez, certo? Não me deveria preocupar isso. Tudo iria correr bem.

    "Luke, Nina, vocês vão entrar em cena daqui a dois minutos" – um professor avisou-nos. Estávamos ambos numa sala, já vestidos e maquilhados, (embora eu não tivesse muita maquilhagem posta, porque, sim, sou um macho). Nina não parava de roer as unhas e de bater com o pé inúmeras vezes no chão.

    "Vai correr tudo bem" – assegurei-a, olhando os seus olhos. Ela estava incrivelmente bonita. O seu cabelo encontrava-se preso num rabo de cavalo bem feito, e os seus lábios rosados estavam mais sobressaídos hoje. E porque é que estou a reparar nisto? Nem eu sei.

    "Não és tu que vais cantar, Luke" – ela suspirou, e eu arregalei os olhos. Nina iria cantar.

    "Vais fazê-lo bem, apenas respira fundo" – retirei as mãos dela de perto da sua boca e formei um pequeno sorriso, dando-lhe motivação.

    "Nina, Luke, entrem agora" – uma voz avisou-nos, e assim o fizemos.

    Percorri o palco enfeitado com vários acessórios e sentei-me numa cadeira, observando Nina, como era pedido. Assim que chegou perto de mim, retirou o longo casaco de malha que usava, ficando com os ombros descobertos. Engoli em seco. Não tinha a mínima noção de que isto iria acontecer. Nina deu dois passos na minha direcção e um amável sorriso aflorou-se nos seus lábios. Sentou-se depois ao meu lado, na cadeira de madeira, e olhou em frente, vendo o público todo. Sem ninguém reparar, dei-lhe um pequeno aperto de mão, e ela respirou fundo, preparando-se para cantar.

    A rapariga de cabelos castanhos claros entreabriu os lábios e uma perfeita e melodiosa voz saiu dos mesmos, deixando-me boquiaberto. Cantava tão bem. Eu estava rendido a ela, que me olhava nos olhos enquanto as palavras escapavam da sua boca. Fitava-me como se eu fosse a única coisa que importasse naquele momento, como se não houvesse mais ninguém à nossa volta. Não me atrevi a desviar o olhar da sua figura feminina sem imperfeições. Uma data de sentimentos percorria a minha mente inexplicável.

    A sua voz era tão doce, tão suave, tão meiga. Fazia-me querer levantar e abraçá-la com toda a minha força. Nunca pensei que ela pudesse cantar assim. Mas, também nunca me tinha atrevido a perguntar-lhe para o fazer. Não me arrependia por não o ter feito. Tinha sido apanhado de surpresa, e, meu Deus, não poderia querer outra coisa neste momento.

    Assim que terminou de cantar, foquei-me nas palavras que tinha a dizer.

    "Hm..." – tossi, para aclarar voz – "Sabes..." – eu disse – "Eu salvar-te-ia de qualquer perigo, independentemente de qual fosse, até o mais perigoso"

    "Não és assim tão forte" – ela respondeu e soltou uma pequena gargalhada.

    "Eu tornar-me-ia forte para tal" – declarei, calmamente.

    "E se fosse tarde?" – olhou-me nos olhos.

    "Eu faria com que fosse rápido" – encolhi os ombros.

    "Mas poderia não ser rápido o suficiente" – Nina afirmou, com tristeza na voz – "E se fosse algo mais grave? E se eu morresse?" – elevou o seu tom vocal.

    "Mesmo assim eu não desistiria" – abanei a cabeça negativamente.

    "Irias ao meu funeral?" – questionou.

    "Jamais" – abanei a cabeça, mais uma vez, em jeito de reprovação.

    "Porquê?" – inquiriu, intrigada.

    "Porque eu nunca me vou despedir de ti e é para isso que os funerais servem..." – disse confiante e com certeza, fazendo depois uma breve pausa – "Para nos despedirmos"

    "Irias sofrer muito?" – perguntou, em tom solene.

    "Todos os dias da minha vida" – respondi, com uma voz triste.

    "Isso é muito tempo" – calou-se durante poucos segundos – "Em um ano já nem te lembravas de mim"

    "Achas mesmo?" – encarei os seus belos olhos esverdeados.

    "Tenho quase a certeza" – disse ela, numa voz um tanto tremida.

    "Então não fazes ideia do que eu faria por ti"

    "O que farias?" – engoliu em seco, examinando cada detalhe da minha face.

    "Eu lembrar-me-ia de ti todos os dias" – passei as mãos pelo meu cabelo, nervoso – "Todas as vezes, quando amanhecer. Todas as vezes antes de ir dormir. Todos os minutos, horas ou segundos e assim, sucessivamente, até ao resto da minha vida" – Nina assentiu, ouvindo-me com atenção. Passado um minuto, voltei a falar.

    "Pensando melhor... Já cometi o maior perigo por ti" – aproximei-me dela.

    "E, então, qual foi?

    "Ter-me apaixonado por ti" – proferi, com um brilho nos olhos – "O amor é o maior perigo, e eu não me arrependo de o ter cometido. E por ti cometia-o vezes e vezes sem conta" – finalizei, e os nossos rostos aproximaram-se ainda mais. Senti a sua fresca respiração a embater na minha, e tudo pareceu estar a acontecer em câmara lenta.

    O espaço que estava entre nós deixou de existir quando acabei por juntar os nossos lábios suaves. Os meus olhos fecharam-se rapidamente, assim como os de Nina. A minha mão, que estava a tremer, cobriu a bochecha dela. Ela estremeceu ao meu toque e as cortinas vermelhas fecharam-se, enquanto o bater de palmas se ouvia. Os nossos lábios continuavam ainda encaixados um no outro. Foi um pequeno e calmo beijo, sem movimento. Mas, mesmo assim, eu apreciava o que tinha acabado de acontecer. Afastei-me muito lentamente, depois, e encostei as nossas testas, abrindo os meus olhos azuis para poder ver o esbelto e angélico rosto de Nina.

    "Fizeste um bom trabalho" – murmurou, ainda com os olhos fechados, e um genuíno sorriso esboçou-se na minha face.

    "Tu também, Nina"

    Muitos acontecimentos podem decorrer em pouco tempo, e, agora, eu tinha a certeza disso.


Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora