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–  Luke 


    Ela era alta e elegante. Parecia feita de uma beleza exótica natural. Brilhava no meio do escuro da noite, e distraí-me dos meus pensamentos. Era estranho o facto de não me conseguir concentrar nos meus próprios pensamentos, apenas ao ver alguém. Uma rapariga. Era estranho o facto de Nina ter esse efeito em mim. Eu não me sentia apaixonado, mas sentia-me esquisito, num bom sentido, desde que tinha começado a falar com ela. Havia algo naquela rapariga que me fazia querer contar-lhe sobre mim, sobre parte da minha vida, e eu não me arrependia disso. Era estranho. Mesmo muito estranho. Mas era verdade. E era claro que eu iria ter que deixar algumas coisas apenas para o meu saber. Os meus pequenos segredos e mistérios que não tencionava espalhar.

    Algo me perturbava desde a primeira noite que tinha passado aqui, nesta tenda. Eu pensava em demasia. Pensava, às vezes, em coisas que não faziam o mínimo sentido. Mas, eu era assim, e não havia nada a fazer.

    O meu subconsciente insistia em dizer-me que eu tinha "ciúmes" quando observava Nina e Ashton juntos. Mas eu não tinha. Irritava-me, de certa forma. Eu não queria que Nina acreditasse nas bonitas frases que Ashton lhe dizia. Não queria que ela fosse mais uma das suas vítimas, porque tudo o que ele sabia fazer era usar. Usar as raparigas, e, depois, deixá-las. Deixá-las de coração partido e fazê-las esperar por um rapaz que estivesse disposto a juntar todos os pedaços do seu coração.  Nina não merecia esse tormento. Só esperava que ela fosse diferente – num bom sentido, – ao ponto de não se deixar ir pelas falinhas mansas de Ashton. Eu não gostava dele, e não era só por essa razão. 

    Há dois anos atrás, Ashton costumava humilhar-me em frente a "toda" a gente da escola. Insultava-me, chamando-me dos piores nomes que possam existir.  Para me ver sofrer, pediu a uma rapariga que fingisse gostar de mim. Eu acreditei, infelizmente.

    Quando descobri, gozaram-me mais uma vez. Sentia que já não me importava com nada. Passei a odiar tudo, a refugiar-me no meu próprio Mundo. E esse meu Mundo era uma "casa na árvore" que tinha feito quando era pequeno. Essa pequena casa de madeira, era, e continua a ser o único sítio onde encontro paz.

    Acabaram por deixar de me humilhar quando repararam que já não havia nenhuma reacção da minha parte. Eu odeio-os. Odeio os humanos. Odeio o que a maioria deles faz. Caos. Atormentam as pessoas, os animais, a Natureza... Mas, felizmente, ainda existem bons humanos. São raros. São excepções.

    Serei eu um bom ou um mau humano? Não sei. Apenas sei que nada sinto. Não tenho sentimentos. Ou pelo menos convenço-me a mim mesmo de que não os tenho. Espero que, algum dia, alguém me faça voltar a sentir algo.

    "Nina...?" – sussurrei, no meio deste silêncio que predominava entre nós.

    Estávamos ambos deitados na nossa tenda, pois já era de noite. Faltavam apenas mais dois dias e uma noite para sairmos deste parque de campismo, e depois voltaríamos às nossas vidas normais. 

    "Sim?" – ouvi a sua voz meiga e baixinha. Observei o seu rosto iluminado pela luz de uma lanterna situada no meio dos nossos corpos.

    "Arrependes-te de algo que já fizeste?" – questionei. O silêncio instalou-se de novo durante alguns segundos, até ela acabar por o quebrar.

    "Sim... E tu?" – entreabriu os seus lábios, espontâneamente, após falar.

    "Acho que não" – respondi – "Porque naquele momento, se fiz algo, é porque o queria..." – desviei o meu olhar para o tecido da tenda que nos mantinha seguros.

Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora