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– Luke

 

    Existe uma solução para tudo, pelo que dizem. Porém, já tinha feito mil planos na minha mente que envolviam Nina e um bom futuro, e quase nenhum parecia dar resultado. Eu necessitava dela. Talvez este sentimento fosse temporário, talvez não, mas neste preciso momento, ele existia. E, eu sabia que não me iria arrepender de nada. Porque, se em algum momento fiz algo, foi porque o quis fazer. Agora, só me apetece pegar em tudo e voltar para a minha cidade. Tentar entrar noutra Universidade mais perto de casa e ficar com a rapariga por quem estou perdidamente apaixonado. Contudo, esta minha decisão não é uma decisão fácil de tomar. Parece que sim, certo? Mas cada acto tem uma consequência, que pode não parecer de grande importância ao início, mas que daqui a uns anos tem um imenso impacto nas nossas vidas.

    Era completamente difícil descobrir o que seria o mais acertado a fazer sozinho. Eu precisava de ajuda. Precisava de alguém que me compreendesse.

  Pela primeira vez em dois dias ia sair de casa, do apartamento. Já tinha feito uma visita à Universidade, e a primeira coisa em que reparei assim que lá meti os pés foi a personalidade e a maneira de agir das pessoas que me rodeavam. Senti que não pertencia àquele sítio.

    Passeava pelo passeio feito de granito enquanto ouvia uma certa música melancólica. Retirei o meu telemóvel do bolso das calças e diminuí o volume do som. A minha foto de fundo distraiu-me por breves segundos. Eu e Nina estávamos ilustres na mesma. Ela com a sua mão no meu peito e o olhar focado em mim enquanto ambos sorríamos. Nina era a única pessoa que conseguia roubar sorrisos de mim. Tinha tantas saudades dela...

    O meu polegar deslizou pelos nomes dos contactos permanentes no meu telemóvel. Parei de andar quando um nome familiar captou a minha atenção. Hospital da Avó.

    Decidi clicar no botão verde, colocando de seguida o objecto perto do meu ouvido. Se tivesse alguma sorte, talvez a avó se lembrasse de mim.

    "Boa tarde, enfermeira Helen ao seu dispor" – ouvi de súbito uma voz doce. Tossi um pouco antes de falar.

    "Olá, quero dizer... Boa tarde" – saudei – "Queria saber se é possível falar com a Senhora Hemmings, a minha avó. Penso que está neste momento no quarto 206"

    "Espere só um pouco" – fez uma breve pausa – "Sim, ela acabou de almoçar. Vou passar-lhe o telemóvel. Tenha o resto de um bom dia" – houve silêncio durante algum tempo.

    "Quem fala?" – a minha avó perguntou. Um pequeno sorriso curvou-se nos meus lábios.

    "Olá, avó. É o seu neto, Luke. Lembra-se de mim?" – mordisquei o meu lábio inferior.

    "Ah, Luke!" – o seu tom de voz subiu – "Sim, sim, lembro-me, felizmente, como estás?"

    "Eu estou mal, sinceramente, avó" – suspirei pesadamente.

    "O que te aconteceu, neto?" – ela pareceu preocupada.

    "Bem... Lembra-se da Nina? A minha... Namorada?" – sentei-me num banco de madeira.

    "Da última vez que falei com ela, ainda não namoravam! Parabéns, Luke, ela é o tipo de rapariga que deves manter na tua vida. Oh, se visses a forma de como ela falou de ti... Ela admira-te" – a minha avó disse baixinho. Sorri tristemente, passando uma das minhas mãos pelos meus cabelos despenteados.

    "Aconteceu uma coisa, avó..." – murmurei quase inaudível.

    "O quê? Oh, tu não me digas uma coisa dessas! Não a deixaste, pois não?" – respondeu-me, num tom preocupado. Engoli em seco.

    "Literalmente, sim" – respirei fundo – "Sabe, avó... Aceitaram-me numa Universidade e a mãe quis que eu fosse. Estava mesmo orgulhosa de mim. E senti-me obrigado a ir. Agora, estou aqui, a centenas de quilómetros longe de Nina. E sinto-me tão mal..." – senti um nó na garganta.

    "Oh Luke..." – ouvi um suspiro – "Às vezes, temos que tomar decisões que irão afetar o nosso futuro. Por exemplo, neste caso, tens duas hipóteses; ou ficas aí e dás o teu melhor, arranjas um bom trabalho e vais esquecendo as pessoas que fizeram parte da tua adolescência; ou voltas para casa, passas um bom tempo com Nina e todos os teus amigos, estudas, arranjas outro emprego e entregas-te à vida, aceitando que se algo aconteceu, foi porque teve que acontecer"

    "Por vezes pergunto-me como continua tão sábia depois de tudo" – soltei um curto riso.

    "Segue o teu coração, querido" – e, depois da sua última frase, ouvi o irritante barulho que sinalizou o final da chamada.

    Um longo suspiro caiu dos meus lábios, – pela milésima vez hoje. Levantei-me e continuei a caminhar, agora um pouco mais lentamente. Passei pela entrada da Universidade e recebi alguns olhares indiscretos, o que me fez revirar os olhos. Enfiei as mãos nos bolsos e encarei o chão. Esperava que quando voltasse a olhar para a frente, Nina estivesse perante mim de braços abertos, pronta para me abraçar. Mas, infelizmente, isso só poderia acontecer se voltasse para casa. E, sinceramente, estava disposto a fazê-lo.

Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora