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–  Luke

 

    Acordar de manhã era um enorme sofrimento, para mim. Desde o momento em que a luz saía por entre os buracos dos meus cortinados até ao momento em que me sentava para ter a primeira aula do dia. Hoje não havia excepções; seria a mesma rotina e a mesma tortura pelo facto de eu não ser uma pessoa matinal. Eu não queria descer as escadas para tomar o pequeno almoço, não queria andar pelos corredores da nossa escola e ser olhado de lado pelo grupo dos que tinham a mania. Não queria passar uma hora sentado a ouvir falar sobre gramática. Mas não havia nada que pudesse fazer contra isso. Eu tinha mesmo que sair da minha cama e aguentar o que se ia suceder.

    Arrastei-me até à casa-de-banho e olhei-me ao espelho. Por baixo dos meus olhos estavam círculos negros. O meu cabelo estava despenteado, mas isso não seria problema. Coloquei a minha mão por baixo da torneira, fazendo-a deitar água. Seguidamente, passei as pontas dos meus dedos pelos meus cabelos, dando um jeito nos mesmos. Lavei a cara e os dentes, e vesti-me. São as coisas normais que uma pessoa faz quando acorda. A camisa que tinha sobre o meu corpo era aos quadrados vermelhos e azuis escuros. As habituais calças pretas, ligeiramente justas, estavam nas minhas pernas. Ainda não me tinha calçado. Deixei isso para depois do pequeno-almoço.

    Quando desci as escadas, deparei-me com a minha mãe a beijar um homem que era desconhecido para mim. Cerrei o maxilar e tossi propositadamente, fazendo-a virar na minha direcção.

    "Oh, desculpa teres que descobrir desta forma, querido" – ela disse. Forcei um sorriso, examinando o homem ao seu lado, que me metia nojo, honestamente. Ele tinha uma mão pousada sobre o rabo da minha mãe, e isso causava-me náuseas.

    "Este é o George, o meu namorado" – falou, após perceber que eu não estava a responder. O humano ao lado da minha mãe estendeu a mão na minha direcção, e eu não a apertei. Que me chamem mal-educado, mas eu não era um fã dele.

    "Ele vai ficar a viver aqui?" – perguntei, desviando o olhar para a parede.

    "Vai, filho, mas vocês vão-se dar bem, não te preocupes" – após a sua frase, senti um sentimento denominado de raiva a percorrer pelas minhas veias. Andei num passo acelerado até ao corredor, calcei os meus vans pretos, e saí disparado da minha própria casa, sem comer.

    Há muito tempo que não sentia raiva, desilusão ou decepção, e era novidade para mim estar a sentir tudo isso de uma vez agora. Uma pessoa pode chorar porque está com raiva, com medo, decepcionada, magoada, feliz... O choro de uma pessoa pode ser um desabafo, um pedido, uma chantagem, um modo de se expressar. Pode chorar por estar sensibilizada diante de uma situação de sofrimento alheio, pode chorar pelo seu próprio sofrimento. E eu estava agora a chorar. Sentia-me fraco, sentia-me um falhado. Sempre me tinham dito que os rapazes não choravam, mas eu estava com tanta raiva que as lágrimas tiveram que escapar dos meus olhos. Eram tão quentes que pareciam ser capazes de queimar a minha pele.

    Parei no meio do pavimento por onde estava a andar e levei as mangas da minha camisa aos olhos, limpando-os, para que ninguém percebesse que estivera a chorar. Chamar-me-iam de cobarde, possivelmente.

    Não entendia o porquê de isto me afectar tanto. O meu próprio pai tinha-me deixado, a mim, e à minha mãe, mas eu continuava à espera dele. Não queria que houvesse alguém a tentar substituí-lo.

    Tentei concentrar-me apenas no barulho que os meus ténis faziam ao embater no chão. Não queria pensar em assuntos que me deixavam mal. Não me queria sentir vulnerável mais uma vez. Afinal de contas, eu convenço-me a mim mesmo de que não tenho sentimentos, então, porquê chorar?

Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora