O Bosque Dourado

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   Kraller nos ajudou a fugir, era a única coisa que podíamos fazer, ele sabia do que estava por vir, me culpei pelo que estava acontecendo com Clare também.

   — Acabei te envolvendo nisso tudo — diz a olhando com medo do que iria acontecer a partir dos dias que viessem depois.

   — Olha agora você pode se sentir mais tranquilo.

   — Por que tranquilo? Com tudo isso que está acontecendo conosco?

   — Você não é louco, nunca foi, o que te aconteceu agora é a prova disso, precisamos dar um jeito de fugir disso tudo. 

   Eu queria manter minha amiga protegida disso tudo, a queria ver longe desse inferno todo que poderíamos enfrentar caso eu continuasse a seguir em frente com tudo isso, mas sentia que ela iria comigo mesmo que eu não quisesse, ela sempre foi uma pessoa determinada.

   Ela me lançou um olhar convencida de que iria até o fim comigo.

   — Irei com você até o fim, vamos encarar isso juntos e de frente.

   — Eu gostei dela, ela é diferente daquela imbecil que você sente. . . — não deu tempo dele terminar pois dei-lhe um soco no ombro dele.

   Clare riu, continuamos a conversar, o duende me aconselhou o que deveria ser feito agora que as coisas estavam em seus eixos, deveríamos ir para uma pequena casa abandonada no meio da mata, essa ideia me pareceu estúpida e fiquei relutante, mas acabei perdendo contra eles, fomos até essa casa.

   Clare nos emprestou seu carro, para mim tudo isso era um completo absurdo, não fazia o menor sentido continuar com tudo isso, não chegaríamos em lugar algum. Depois de um longo caminho finalmente chegamos até aquela casa que o Kraller nos disse, era uma casa velha de madeira e abandonada no meio do nada, engoli em seco assim que nos aproximamos dela, fomos andando lentamente até chegar nela, era quase noite quando lá chegamos, acendemos algumas lanternas, a cada passo dado a impressão que tinha era que a noite iria nos devorar, que ela se transformaria naquele ser disforme.

   Subimos as escadas de madeira corroída, a cada degrau a madeira podre rangia, me fazendo ficar apavorado, vi olhos nos encarando, Kraller tocou em minha mão.

   — Você precisa se acalmar meu jovem, esses olhos estão a nos encarar por que sabe o que irá acontecer a partir de agora.

   Aquelas palavras não me acalmaram, piorou minha situação, eles continuavam a nos olhar, subi as escadas veloz, a frente de todos, eles me encararam e seguiram meus passos, procuramos por qualquer sinal sobre um portal, mas nada encontramos, ficamos por horas procurando. Até que as Trevas chegou novamente, ela invadiu a casa destruindo tudo ao nosso redor.

   Corremos desenfreados e assustados na busca de encontrarmos o carro de Clare, ele era a nossa única salvação naquele exato momento, meu medo era tanto que eu não conseguia ver nada a minha frente, tudo estava turvo e confuso pra mim, vi toda aquela escuridão engolindo tudo e não conseguia me mover um centímetro de quer até que Clare me empurrou e com isso fomos todos correndo até seu carro, entramos lá assustados.

   Clare demorou para conseguir ligar o carro.

   — Vamos Clare! Eles vão nos pegar, rápido — bradei totalmente ensandecido.

   — Eu estou tentando, está difícil — o som do molho de chaves com as tentativas dela de colocar a chave no buraco próximo ao volante me faziam suar do lado de trás do carro.

   Tudo estava escuro e quando vi que o carro seria tragado pela escuridão Clare conseguiu dar partida nele e finalmente conseguimos sair dali, tomados pelo pânico fomos correndo sem rumo em busca de uma maneira de sair dali, quando esse tormento iria acabar eu não sabia, mas tudo que queria era que essas coisas confusas parassem de acontecer comigo. Dormimos na estrada mesmo, assim que paramos próximos a um posto.

   Quando abri os olhos estava deitado na grama, procurei por Clare e Kraller, mas nenhum sinal deles. Olhei ao redor e vi que se tratava de um local todo dourado, até mesmo as árvores eram douradas, se travava de um bosque dourado, um local que me fez sentir alegria, tranquilidade e serenidade, andei por todos os lados ali, sentindo-me mais leve do que nunca, uma paz forte me fazia querer continuar ali pra sempre.

   Uma fada veio em minha direção, ela estava tranquila e isso me deixou curioso, assim que se aproximou o bastante podemos nos falar.

   — Eu sei o que procuras! Posso ajudar, mas para isso você precisa estar disposto a receber essa ajuda! — diz num tom de calmaria que me fez sentir novamente uma paz que há tempos não sentia, minha vida virou do avesso com a chegada disso tudo, mas esqueci tudo isso agora.

   — Como irei conseguir ir para o Limbo? Onde encontro uma passagem? — indago, mas a mesma me lançou um olhar sério dessa vez.

   — No momento certo terá suas respostas, em breve saberá o que tanto procura saber — diz a fada, pouco depois vou sentindo que estou acordando.

   Acordo dentro do carro, infelizmente estava ainda no meu mindinho patético no qual minha vida não tinha sentido algum, pelo menos nos meus sonhos me sentia melhor, a melancolia não me dominava lá, muito pelo contrário me fazia querer ficar preso naquele local eternamente, Kraller se aproximou de mim.

  — Jonny você teve de novo mais um sonho?

   — Tive, dessa vez foi com um Bosque Dourado, muito grande, até mesmo as árvores eram douradas, eu me senti muito em paz ali, nunca pensei que encontraria novamente uma paz assim — ele me olhou pasmo.

   — Você sonhou com o Bosque Dourado? Tem noção do que isso significa?

   — Não! — não entendi o por quê dessa reação, foi apenas um bosque.

   — O Bosque Dourado é o lar dos Seres de Luz, eles são os magos e feiticeiros mais sábios do mundo, lá existe uma forte harmonia, esse bosque foi criado por quatro Guardiões, Malker, Carla, Isis e Jahi, eles o criaram para que todos encontrasse um local de paz e meditação — diz, seus olhos brilhavam e eu consegui finalmente entender o por que dele estar tão empolgado com meu sonho.

   — Nossa nunca pensei que isso tudo poderia ser real.

   — Mas é! O Bosque Dourado é o portão de entrada para quem entrar no Limbo, pena que você não sonhou com algo mais específico — diz pensativo.

   Senti dentro de mim que agora eu mudaria minha vida por completo e que eu estava seguindo um caminho sem volta que não poderia voltar atrás, era tudo ou nada, essa era a minha jornada, agora passei a entender por que para mim a vida que levo aqui nos Estados Unidos é tão fora de eixo e sentido pra mim, por que essa não é a vida que eu nasci pra viver, eu não sou desse mundo, sou de um mundo completamente diferente desse e que agora iria finalmente voltar para lá. . . . . .

Presos no Limbo II: O Devorador de Almas Onde histórias criam vida. Descubra agora