Capítulo V

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- Se eu tivesse de morrer de fome tinha morrido, não é Grace? - diz Celine, revirando os olhos.

- Primeiro: para de drama. Segundo: você não morreria. Terceiro: eu estava fazendo uma boa ação - respondo com um ar de superioridade. 

Celine é, de longe, a pessoa mais dramática que já conheci em toda minha vida. A conheço desde a época de escola, e ela nunca mudou, mantém seu 'espírito de adolescente', por assim dizer.

- Tá bom, vamos logo, antes que eu morra mesmo - diz ela, enquanto fuça em alguma coisa no porta luvas - Abriu uma Starbuck no shopping, ficou sabendo?

- Não, abriu?

Ela começa falar algo que não consigo dar muita atenção. Fico pensando na minha conversa com o Michael. Ele parece ser uma pessoa legal, engraçada (acho que nem é necessário mencionar esse ponto). O que pode ter levado Michael a querer mudar? Talvez sua insatisfação com a vida, ou outra coisa?

- Grace? Grace! Você não ouviu nada do que eu disse? - repreende Celine, me tirando do meu devaneio.

- Me desculpa, só estava pensando uma coisa aqui. O que você disse?

- Nada importante, deixa pra lá. Mas você tá muito dispersa, aconteceu alguma coisa?

- Não, nada. Chegamos - procuro uma vaga e estaciono meu carro.

Caminhamos em um silêncio desconfortável pelo shopping, até que Celine resolve quebrar o gelo.

- E as aulas, como vão indo?

- Você sabe, eu amo o que faço, mas tenho poucos alunos - respondo com um sorriso, tentando não deixar a conversa morrer.

- Quantos alunos você tem?

- Até agora, três. Hoje mesmo vou ir na Hannah, mas ela já está acabando. Então logo terei apenas dois alunos.

- Ah sim. Se eu ficar sabendo de alguém interessado eu te aviso.

- Vou te dizer que isso é realmente difícil, ninguém gosta de estudar mais nada além do que se estuda na escola - sorrio - mas ainda assim, obrigada.

Fazemos nossos pedidos e começamos a conversar sobre os planos do fim de semana. Celine começa a me falar sobre o Adam, e perco as contas de quantas vezes eu reviro os olhos, rindo. Eles tem passado mais tempo juntos, e estão saindo bastante.

Após um período, o rosto de Celine perde a cor.

-Celine, está tudo bem? - meu tom de voz soa alarmante.

- A-acho que minha pressão caiu um pouco.

A guio rapidamente até o banheiro e ela entra em uma cabine imediatamente, perdendo praticamente tudo o que havia acabado de comer.

Quando ela sai, caminha para a pia, lava a boca e olha seu próprio reflexo no espelho. Seus olhos estão marejados.

- Já é a segunda vez que isso acontece essa semana Grace - ela sussurra - O que você acha que isso significa?

A ficha cai.

- Não, não pode ser Celine. Você não toma anticoncepcional?

- Tomo. Mas ele tem 99% de eficácia, lembra? Existe aquele 1% - ela começa a chorar.

A puxo em um abraço, tranquilizando-a.

- Se acalma... é só uma possibilidade. Vamos fazer o teste?

Ela concorda com a cabeça.

Saímos do shopping e seguimos em direção ao hospital Harborview, próximo a minha casa. Celine prefere fazer o exame de sangue para ter mais certeza. 

- Celine Taylor, você pode me acompanhar até a sala por favor? - a enfermeira chama, nos guiando até a sala do médico.

Nos sentamos nas duas cadeiras a frente do Dr. Charles. Seu rosto está sereno, livre de qualquer emoção perturbadora.

- Bem Celine... os resultados dos exames foram bem conclusivos - ele faz uma pausa - parabéns, você está realmente grávida.
Vamos começar o acompanhamento na próxima segunda, e poderemos te dar mais detalhes, como de quanto tempo você está e também a saúde do feto.

Olho para o lado. Celine está segurando as lágrimas. Meus próprios olhos também estão marejados. Eu sei bem o que isso significa para ela. Vai ser muito, muito difícil.

Deixamos o consultório em um silêncio quase acusatório. Quando chegamos no carro, Celine desata a chorar.

- Grace... Não pode ser - ela diz, soluçando - Como vou contar isso para o Adam? Ele nem pode saber disso! Ele vai ficar muito... nem sei como ele reagiria Grace!

- Se acalma Celine - olho para ela, sentada no banco ao meu lado, encarando suas mãos - A gente vai dar um jeito. Agora essa é sua situação, nada vai mudar isso. Vamos apenas tentar fazer as coisas do modo certo.
- Qual modo certo Grace? Eu estou grávida! Eu não poderia estar grávida! - ela se encontra em total desespero.

- Fala com o Adam, seja aberta e diga como as coisas serão. Ele ao menos já deu indício de querer algo mais sério com você?

- Ele me fala algumas coisas que me deixam na dúvida, mas até hoje tentei encarar tudo como só uma forma de diversão! Você sabe que eu não queria me apaixonar! - Celine diz em um só fôlego - Mesmo que isso tenha acontecido...

Sorrio.

- Ah, então você gosta dele?

- Gosto, mas cansei de sofrer Grace. Venho tentando ocultar isso e tirar essa idéia da cabeça... Amar não vale a pena.

- É fácil pensar assim depois de tudo que aconteceu com você Celine - me esforço para ser compreensiva - Mas... nem todas as pessoas são como o Brice. Nem todas vão te fazer sofrer como ele. Dê uma chance a isso. Conversa com o Adam sobre tudo.

- Vou tentar - ela diz, enxugando uma lágrima, agora mais calma.

- Qualquer coisa, estou aqui - a abraço de novo.

- Obrigada - sua voz sai levemente embargada.

Dou partida no carro e sigo em direção a casa de Celine.

Se as estrelas falassem (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora