Capítulo Vlll

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Sinto-me um pouco tediada, não há muita coisa pra fazer aqui. Resolvo limpar minhas gavetas e ver o que encontro de interessante. Algo escondido no canto da minha gaveta da cômoda chama a minha atenção.  Um álbum de fotografias.

Minha mente é invadida por memórias da minha infância e adolescência. Logo na primeira página vejo uma foto minha com meus pais, sorrindo e abraçados, quando perdi meu primeiro dente. Meu sorriso exibia uma janelinha imperfeita, recém formada. Motivo bobo para tirar uma foto? Talvez, mas essa bobeira me arranca sorrisos e boas lembranças.

Vou folheando o álbum lentamente, permitindo-me guiar pelas fotos, observando-as bem. Vejo fotos minhas com amigas de amigas de infância e me lembro da história de cada uma delas. Uma foto me é especial: Eu e Rachel, logo após nossa formatura, com os olhos cheios de lágrimas, sabendo que nossos dias de farra juntas haviam acabado. Ah, Rachel...

"Melhores amigas" é pouco perto de tudo em que a nossa amizade representava pra mim. Nossa amizade foi crescendo com o tempo. No início, éramos apenas amigas normais, sem muito apego emocional. Mas quando Jake se  foi, Rachel ficou do meu lado em todos os momentos que precisei. Ela era aquela que sabia tudo de mim, que sempre estava lá me ouvindo, e me dando seus maus conselhos sobre como lidar com determinada situação. Aprendemos juntas a ver a vida de um ponto de vista diferente do que a sociedade nos impunha. Por exemplo, na escola, as meninas viviam se importando excessivamente com a aparência, especialmente com o peso. Qualquer garota que tivesse uns kilos a mais era excluída. Nós simplesmente não nos importávamos com isso! Afinal, corpo não define caráter. Isso era um dos pontos que eu e Rachel tínhamos em comum, o que contribua para nossa amizade fluir.

Infelizmente as circunstâncias e as coisas nos separaram, seguimos rumos diferentes. Hoje não sei onde Rachel mora, não sei seu telefone... Apesar disso, ainda tenho guardados em minha mente as muitas conversas estranhas que tínhamos, as boas gargalhadas que dávamos de coisas inúteis, e não pretendo deixar essas memórias se dissiparem tão cedo.

Continuo folheando meu álbum, e chego numa foto que faz meu coração bater mais forte. Jake. Aquela foto tinha um significado especial pra mim, por que ela mostrava Jake como ele realmente  era. Nenhum de nós estávamos preparados para a foto, então ela saiu bem espontânea. Eu e Jake rindo de algo que não me lembro exatamente o que era.

Bom, minha amizade com Jake começou na escola. Ele havia acabado de chegar em nossa cidade, não conhecia nada na escola, então tomei coragem e fui falar com ele, apresentando a escola. Após conversarmos um pouco, fomos percebendo que tínhamos muito em comum. Ele era um garoto que, bem, era diferente. A maioria dos caras que conhecia eram superficiais, não sabiam conversar, e quando resolviam arriscar uma conversa decente, só falavam de si mesmos. Jake se destacava entre eles. Ele sempre se interessava em saber o que eu pensava sobre as coisas, procurava sempre saber o que eu sentia, tentava me agradar de todas as formas possíveis. Ele sabia exatamente o que fazer quando eu me sentia pra baixo, além disso, aguentava todos os meus dramas desnecessários. Me apeguei muito a ele, e ele a mim.

Ele me permitia conhece-lo de verdade. Eu amava isso. Amava saber o que ele pensava sobre as coisas, e ficava mais feliz ainda por saber que eu era a única que o conhecia daquela forma! Isso talvez soe um pouco egoísta, talvez possessivo mas... as coisas eram assim.

Fico me perguntando sobre o que seria de nós hoje, se ele estivesse vivo. Como será que 6 anos nos afetaria? Será que nos distanciaríamos? Ou não, será que nossa amizade superaria a barreira do tempo? Perguntas assim nem sempre tem uma resposta, infelizmente. 

Sinto fortes emoções tomarem conta de mim, e começo a chorar. Procuro me concentrar nas outras fotos, em vão. De repente, a campainha toca.

Se as estrelas falassem (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora