Nesse ínterim de lavar o rosto pra ninguém saber que eu estava chorando e atender a porta, tropecei no tapete da sala, que o fez levantar e derrubar um banquinho rústico que uso para por livros. Eu já tinha demorado demais lavando o rosto e não podia parar pra esticar o tapete, levantar o banco, recolher os livros e papéis que caíram de dentro deles e arrumá-los.
Estranhamente eu desejei que fosse o Michael tocando a campanhia. Estranhamente porque não teria porque ser ele ou porque eu querer que fosse ele. Na realidade, nem sei porque lembrei dele.
- O-oi, senhor Edward. - Ninguém mais, ninguém menos que o síndico, profissão que começa com a letra s de sonso e termina com o de ogro. Nada seria mais apropriado.
- Olá, Grace. Você não pagou a conta de luz, novamente. Está tendo algum problema?
Sim, esquecimento. Mas eu não podia dizer isso a ele. Quando se é jovem, fazemos o máximo possível pra mostrar que somos responsáveis, porque na verdade, pessoas mais velhas não esperam isso de nós. Então me desculpei e disse que iria pagar no mais próximo estabelecimento.
Fecho a porta e fico ali parada de costas pra ela, lendo e relendo minha conta, como se eu entendesse algo mais que: meu nome, meu endereço, o valor e a data de vencimento. Em menos de 30 segundos a campanhia toca.
Ainda abrindo a porta, pergunto:
- Que outra conta não pag... Michael? V-você... Precisa de algo?
- Boa noite, Grace. Na verdade, sim. Eu moro no apartamento em frente. E você sabe, sou novo na cidade, e preciso pagar meu boleto do cartão de crédito. Resolvi bater na porta em frente pra pedir informação. Não imaginava que você morava logo de frente.
Tá, eu sempre me perguntei se eu era a única pessoa no universo que pagava as contas da forma "convencional". Nessa época da tecnologia todo mundo paga direto do celular ou computador. Bom, obtive uma resposta.
- Mas como você sabia que eu vinha falar sobre pagamentos? - Michael interrompeu meus pensamentos.
- Não sabia. O síndico acabou de sair daqui. Veio me lembrar de pagar uma conta, e logo em seguida você tocou a campainha, achei que era ele novamente.
- Entendi. Eu sei que é vergonhoso procurar bancos pra pagar contas enquanto todo mundo usa a internet pra isso, mas se você puder me dar as coordenadas, eu chego lá. Ou se quiser me ensinar a pagar pela internet, estou disposto a adotar um novo estilo de vida. - e riu.
- Eu não pago pela internet. Também pago no banco. São 21h17. Acha que dá pra ir agora?
- Claro. Vamos lá. É longe daqui?
É minha vez de rir.
- Não, Michael. A cidade é pequena demais pra ter algo longe. Só espera eu pentear o cabelo, não posso sair com ele assim.
- É, não mesmo, caso contrário, vão te obrigar a pagar contas sem sair de casa. - e continuou rindo.
Ele entra, e vê os livros no chão e o banquinho. Não sei se dou explicações ou se finjo que não o vi ver. Escolho a segunda opção.
Quando volto do meu quarto, ele está sentado no sofá com um dos meus álbuns de fotografia. Chego mais próximo e vejo que ele está olhando fixamente pra foto do Jake. Me deu um nó na garganta, que me tornou incapaz de perguntar o porquê de seu olhar tão compenetrado.
- Vamos? - e ele assente com a cabeça.
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Se as estrelas falassem (Em Revisão)
RomanceNossa vida é marcada por perdas e ganhos. A única coisa que não podemos fazer é deixar o passado dominar nosso futuro, e sim viver o hoje. Acompanhe Grace, uma jovem de 21 anos, em um romance que surge inesperadamente em um momento difícil de sua vi...