Meus pelos se eriçam devido ao frio. Minhas mãos tremem levemente, e Jake percebe isso. Ele tira seu moletom e joga pra mim, e instintivamente estendo as mãos para pegá-lo. Agradeço com um sorriso.
- Até que o filme foi legal – diz Jake, com uma expressão radiante e o entusiasmo de sempre.
Dou de ombros e faço uma careta. Nunca gostei muito de romances. Sempre achei tudo muito surreal, apenas uma fantasia. Sou do tipo de pessoa que mantém sempre os pés no chão, ao contrário de Jake, que tem romance como seu tipo de filme favorito. Esse é um dos aspectos que demonstra que os opostos realmente se atraem. Minha amizade com Jake sempre foi bem equilibrada. Ele é uma das raras pessoas que encontram prazer tanto em coisas pequenas quanto grandes, e tem um alto-astral incontível.
- Você sabe que não curto muito. Prefiro coisas mais reais - ele faz uma expressão afetada - Foi bom ter ido com você, mas da próxima vez, eu escolho o filme.
Os sons de nossas risadas se misturam de forma agradável. Observo Jake de soslaio, ele encara o chão, pensativo. Caminhamos bem perto, ao lado um do outo, devido ao frio, em silêncio, até chegarmos à frente da minha casa. Jake me encara nos olhos, abre a boca para me dizer alguma coisa, mas perde a coragem.
- O que foi? Precisa dizer alguma coisa? - Digo com uma voz suave.
- Nada importante Grace - ele esboça um sorriso.
Tento pressionar um pouco.
- Fique a vontade para falar. Você sabe, sem segredos entre a gente.
- É só que...
De repente escuto um barulho alto. Identifico como disparos e automaticamente me lanço ao chão. Os barulhos cessam rapidamente, e me ajoelho ao lado de Jake, com a intenção de ajudá-lo a se levantar. Nesse momento percebo Jake imóvel no meio de uma poça cada vez maior de sangue que se esvaí do seu corpo. Desesperadamente, disco o número da emergência.
Em menos de cinco minutos vejo a ambulância dobrando a esquina.
- Me ajudem, me ajudem! - grito para os paramédicos.
Eles são rápidos ao colocar Jake na ambulância. Sigo atrás deles e me ajoelho ao lado de Jake. A porta se fecha.
Vai ficar tudo bem, repito para mim mesma mentalmente, como um mantra, mesmo desconfiando que isso esteja longe de ser verdade.
Com a sirene ligada, o paramédico entra em contato com o hospital, mas não consigo escutar o que ele diz. Meus ouvidos latejam. Seguro forte a mão de Jake e observo seu rosto. Ele está extremamente pálido, e há enormes sombras escuras embaixo de seus olhos fechados, como se tivesse passado semanas sem dormir. Me seguro enquanto a ambulância faz curvas a toda velocidade.
Debruçada sobre Jake, sujo toda minha calça com seu sangue. Ele abre e fecha os olhos algumas vezes, o que me faz segurar sua mão ainda mais forte.
- Vai ficar tudo bem Jake. Consegue me ouvir? Vai ficar tudo bem!
Eu parecia estar falando isso mais para mim do que para ele.
- Jake. Fique comigo! - meus soluços se tornam ainda mais altos - Não se atreva a me deixar Jake. Por favor, eu imploro!
Estava tremendo violentamente quando a porta da ambulância se abriu. Nunca senti tanto medo. Surgem paramédicos que pegam Jake com cuidado e o levam para fora.
Olho para o chão para o chão abaixo de mim, que está sujo de sangue. Um gosto metálico invade minha boca. Ouço uma instrução que foi expressa com a devida urgência: "Direto para a cirurgia." Fico parada entre as portas da ambulância, incapaz de dar o próximo passo, observando Jake ser levado dali as pressas. As portas do hospital se abrem e ele some de minha vista. Quando se fecham novamente, me encontro sozinha naquele estacionamento.
Me encontro sentada na desconfortável cadeira do hospital, com os olhos fixos no chão, sem saber ao certo a quanto tempo estou aqui. Não consigo sentir nenhuma parte do meu corpo, meus pensamentos estão longe e encontram-se confusos.
As paredes brancas do hospital se transformam em um tom encardido de amarelo devido à iluminação. A cada vez que fecho os olhos, toda a cena - que não deve ter durado mais que três minutos -, se passa novamente diante de meus olhos.
Não consigo me mover. Nesse momento a sensação é de que nunca fizera isso de fato. Imagino se Jake estaria no fim daquele corredor, com uma equipe de médicos suspirando de alívio por terem salvado mais uma vida, ou se...
Tento afastar esse pensamento.
Apoio a cabeça em minhas mãos fervorosamente trêmulas. Não consigo me acalmar, principalmente por não saber a gravidade da situação. Minha preocupação se transforma em soluços em menos de cinco segundos. Fecho meus olhos e começo a orar.
O movimento das portas de vaivém faz-me levantar num salto. Minha mente tenta convencer meu coração de que tudo estava bem, mas no fundo, já sabia a verdade.
A presença do médico ali, cabisbaixo, balançando a cabeça, serviu apenas para confirmar minhas intuições. O chão parece simplesmente se abrir em um imenso buraco negro, me sugando para dentro dele, me desafiando a dar o próximo passo e me perder na escuridão. Sento-me novamente, soluçando mais alto do que pensara ser capaz.
Eu não podia fazer mais nada. Acabou.
Escuto ruídos - máquinas monitorando batimentos cardíacos, vozes baixas, o trânsito lá fora - mas os sons soam distantes, abafados. Em minha mente, uma simples pergunta martelava:
Por quê?
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Se as estrelas falassem (Em Revisão)
RomanceNossa vida é marcada por perdas e ganhos. A única coisa que não podemos fazer é deixar o passado dominar nosso futuro, e sim viver o hoje. Acompanhe Grace, uma jovem de 21 anos, em um romance que surge inesperadamente em um momento difícil de sua vi...