Chegada em Toronto

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5/01/18 - 11:15 a.m.

Sobrevoando algum lugar

O ar do avião estava gelado demais, e os poros da pele dilatados se exibiam nos braços de fora das duas garotas na quinta fileira. Aquele cobertor fino não adiantava de nada.
- Não tem comida nesse avião?
- Aip, nós só estamos aqui há uma hora. E outra: você comeu antes de embarcar!
- Mas parece que eu não como nada há horas! - reclamou - Ei, moça, quando chega o almoço? - se virou para a aeromoça.
- o almoço? - a mulher de uniforme azul perguntou, visivelmente segurando o riso - Faltam duas horas. Posso trazer algum lanche se quiser.
- Tem algo vegano?
- Não. Mas vegetariano...
- Pode ser.
- Só um minuto. - e deu as costas em direção ao que deveria ser a cozinha.

(Sete minutos depois)

A aeromoça surgiu com um pote nas mãos e o colocou sobre a mesinha de plástico embutida. April abriu a tampa: sanduíche de queijo, salada e mamão cortado em cubos.
- Obrigada - deu um sorrisinho sem graça e mordeu o sanduíche - Quer alguma coisa? - perguntou sem olhar para a amiga
- Não, valeu - Spencer fez cara de nojo - Você e essas suas manias estranhas. Nem é vegana, pra que queria essa comida?
- Já viu uma vegana gorda?

Não, ela não tinha visto. Mas mesmo assim franziu a testa e revirou os olhos. Ela havia descoberto há mais de um mês que a amiga vomitava tudo o que comia, mas estava mantendo em segredo para não constrangê-la. Conectou os fones de ouvido. "She know what she doing" tocava baixinho. April fez o mesmo, mas ouvindo "Where is My Mind" na versão de uma banda chamada Calpurnia, que ela havia descoberto há alguns dias. Com o volume no máximo, se desconectou de tudo e quase esqueceu de ir até o banheiro depois de terminar o lanche para devolver todas as calorias que havia ingerido.

***
(Toronto - Aeroporto)

- Então... O campus de Toronto nos espera... - Spencer deu um sorriso largo assim que passou pela porta automática do aeroporto e respirou pela primeira vez o ar das ruas do Canadá.
O dia quase neutro, um pouco fresco. As duas usavam mangas compridas, mas tecidos leves, e as pernas estavam quase todas cobertas.
April, que já fumava um cigarro amassado que havia comprado na lojinha do aeroporto, soltou a fumaça devagar, olhando em volta e analisando as pessoas que passavam apressadas e com semblantes neutros. Tudo parecia diferente. Era como uma mesma vida vista por um novo filtro.

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