7 //

52 6 0
                                    

Às sete e quinze, April subiu. Bateu com os nós dos dedos na porta, ignorando a existência da campainha, e esperou o garoto. Ela ouviu seus passos se aproximando, então a porta deu um estalo e abriu:

- Oi! - ele atendeu, a abraçando logo em seguida.

- Oi! - ela também o cumprimentou, retribuindo o abraço, que era apertado porém rápido. Ela sentiu o cheiro de perfume masculino enjoativo que ele exalava.

Ela entrou e olhou em volta. As malas já não estavam mais no chão da sala, e a cozinha estava mais organizada que há algumas horas atrás.

- Will - ele disse, percebendo que a menina observava as pequenas mudanças no ambiente - Ele é o nosso faxineiro. Cozinheiro também... Mas não dos melhores.

Ela riu, mas não disse nada a respeito. Apenas mudou de assunto, após um instante de quase silêncio:

- Então... Me fale mais sobre o show que vamos assistir, senhor.

- Ok. Visualiza: Segunda fileira, multidão animada em volta cantando todas as músicas, duas das melhores bandas que você vai ouvir na vida e... - ele levantou o dedo indicador para cima, e depois buscou algo no bolso direito.
Não havia nada lá. Procurou no bolso esquerdo e tirou três cigarros.

April riu:

- Parece que pensamos igual - colocou a mão dentro da blusa curta e tirou de lá mais dois cigarros compridos e finos.

- O taxista te forneceu uma boa fornada - ele olhou para as mãos dela e os dedos que seguravam aquela droga que eles tanto amavam.

- Na verdade... - ela espremeu os olhos - Esses fui eu que fiz. O garoto da torre cinco? Um cara que vende de tudo. Consegui algumas coisas com ele. - ela abriu o zíper da bolsa e pegou uma garrafa de plástico de 250 ml de vodka pura. Tinha um lacre azul escuro e a marca desconhecida estava escrito em dourado. Podia não ser das melhores, mas com certeza causaria um efeito parecido.

April já bebia há algum tempo. Há quatro anos, para ser mais exata. Tudo havia começado quando tinha apenas doze anos, na casa da prima. Aos treze, estava praticamente em estado alcoólatra. Spencer, que sabia o quão grave estava se tornando a situação, a ajudou a melhorar. Levaram mais de quatro meses para ela aprender a ingerir bebidas moderadamente, mas até hoje ela às vezes toma uma quantidade maior do que a adequada e acaba cometendo muitos erros que gostaria de apagar. Mas este não era o caso.

O celular de Richie apitou duas vezes. Colin, aquele que daria carona para os dois, havia chegado. Richie e April pularam a janela, desrespeitando o toque de recolher, e se dirigiram correndo de mãos dadas - esse fato ocorreu de modo extremamente natural - a uma falha nas grades da ala B, que cercavam a parte de trás do Campus. Escaparam por este buraco e avistaram o Pálio vermelho rebaixado estacionado ali perto, no lugar combinado. Os dois entraram no banco de trás do carro - ainda de mãos entrelaçadas - e cumprimentaram Colin com um sorriso.

- E aí, Tozier? E aí, namoradinha do Tozier? - Colin disse, sorrindo pelo espelho que dava ao retrovisor.

Seguiram viagem até a cidade ao lado, onde seria o show. Richie e April de mãos dadas no banco de trás, trocando olhares de canto de olho, de vem em quando, sem que o outro percebesse.

Amor em TorontoOnde histórias criam vida. Descubra agora