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- Um dia depois daquela história com o Will - ela disse, se virando para ele -, eu passei um bom tempo sozinha em casa. Spencer estava meio de mal comigo e foi para o centro do Campus fazer alguma coisa.
Eu estava estudando inglês e ouvindo música quando, na minha playlist aleatória, começou a tocar Curly Cue da Melanie Martinez. Foi a música que eu ouvi quando eu tentei pela primeira vez.

- Tentou o quê, Aip?

- Tentei...

- O quê?

- T-tentei... - com a voz fraquejando e gotas salgadas escorrendo bochechas abaixo, April abraçou os joelhos e escondeu o rosto atrás das pernas dobradas.

- Você tentou... - ele tentou fazer com que ela falasse, tomando todo o cuidado para tentar não pressioná-la - Pode me dizer...

- Eu tentei... - ela o abraçou, soluçando.

Eles ficaram um minuto abraçados, e após um tempo, ela se recompôs e continuou:

- Quando ela chegou em casa - falou, limpando suas lágrimas e se afastando do peito magro e ossudo de Richie - me encontrou quase desmaiada e não sabia o que fazer. No começo, - April fungou - ela ficou assustada. Mas depois que tudo "se arrumou", deu um sermão e me xingou. Eu não sabia como reagir, eu só... Vim pra cá depois.

- Desmaiou?! - Richie não entendia nada, mas tinha os olhos arregalados de alguém completamente assustado - O que houve?!

- Acho que foi uma mistura de tudo... Não comer, vomitar, as dores e isso de ela ter ficado mal comigo.

- April, não comer e essa história de vomitar...

- Hã

- Merda, Aip - ele passou a mão pela cabeça e bagunçou os cabelos escuros, parecia ter acabado de acordar -Você... Tem anorexia? - sua voz saiu rouca e quase impotente.

- Bulimia nervosa - ela disse, olhando para baixo.

- Faz quanto tempo?

- Desde que eu tenho cinco anos, na verdade

- Aip, céus! Eu não sei como reagir eu só... - ele parou por um instante - As dores.

- Que?

- As dores. Você falou as dores! Que dores, Aip?!  - ele gritou, chorando também, com os cílios em cascata - Que dores!? - segurou os braços dela e puxou as mangas até os ombros.

Os band-aid's da Hello Kitty ainda estavam ali, cobrindo os cortes. Sangue insistia em escapar e escorrer.

- Puta. Que. Pariu. - Foi o que Richie consegui dizer, paralisando seus olhos sobre a pele sofrida e sangrenta. Enxugou os olhos e a boca tremeu de nervosismo.

Depois do silêncio, veio a pergunta:

- Você tentou o quê?

- Eu tentei me matar, Richie Tozier. Eu tentei.

Amor em TorontoOnde histórias criam vida. Descubra agora