Amor em Toronto

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Spencer e Will - na sala

Spencer e Will estavam na sala. Will ainda sentado sobre a mala vazia com a bombinha na mão (por precaução) e Spencer sentada em pernas de índio ao seu lado. As mãos de Will e sua testa estavam úmidas, na nuca escorria uma lágrima de suor tímida. As bochechas haviam retornado a coloração vermelha, e ele estava com quase a mesma aparência de quando havia aberto a porta, há alguns minutos atrás.

- Você não é mesmo bom com a cozinha, né? - Spencer perguntou, logo depois de ele inalar a bombinha mais uma vez.

- Não mesmo - ele deu um riso e balançou a cabeça negativamente, olhando para o chão. Não tinha conseguia olhar pra ela. Estava totalmente envergonhado e nervoso.

- E como vocês sobrevivem? Se alimentam de ar ou alguma coisa do tipo? - olhou para ele com as sobrancelhas erguidas.

- Na verdade, quase isso. - ele falou baixo, fez uma pausa e logo tornou a falar: - A gente não come muito. E quando come, é comida instantânea ou coisa do tipo. - ele fitou ela de volta, finalmente criando coragem para descolar seus olhos do chão.

- Meu Deus! Que nojo - ela fez uma careta para ele, que riu.

- É... Eu já me acostumei - ele entrelaçou os dedos da mão direita com a esquerda.

- Ah! - ela praticamente deu um pulo - O que vocês vão comer hoje a noite? - ela perguntou, fechando o zíper do casaco jeans. O ambiente esfriou de uma hora para a outra.

- Bom... Aquela carne era nosso jantar, então... Acho que vamos ter que comprar uma lasanha de microondas na loja do Campus - apontou pela janela o centro do Campus, onde ficavam algumas lojas de roupas, artigos esportivos, souvenir brega da universidade, camisetas com escritos tipo "eu amo Canadá", cafeterias retrôs e alguns centros de entretenimentos mais antigos que a maioria dos que estudavam por ali.

- Vamos fazer pizza hoje de noite. Se quiserem ir... - ela olhou pra ele - E não é das congeladas.

Os dois riram.

- Claro! Quer dizer... Só se não for incomodar vocês - ele disse, também fechando o casaco, que era de botões - Meu Deus, que frio - moveu as mãos umas contra as outras para as esquentar e depois as assoprou. O barulho que fez ecoou pela casa.

- Pois é... Não sei como. Vocês não tem aquecedor... Calefação? - ela olhou em volta a procura de um.

- Temos. Temos, sim. - se levantou e foi até o local onde aparelho estava.

Ela foi atrás dele.

- Mas está ligado - ele falou, conferindo a luz verde ao lado do botão de ligar e desligar. Ar quente escapava pelas frestas do aparelho antigo de metal, que embora estivesse enferrujado e precisando de um pouco de pintura, ainda funcionava perfeitamente.
Eles resolveram ficar ali mesmo, sentindo o corpo voltar a uma temperatura agradável.

- Qual é a bandeira de vocês? - ela perguntou, com os braços estendidos para frente, tentando aquece-los com o ar que saia dali.

- A minha é arte. Mas eu entrei mais pelos desenhos gráficos.

- A minha é medicina. - ela mordeu o lábio, que havia secado com o frio.

- Medicina? - ele ergueu as sobrancelhas, e ela assentiu com a cabeça. - Achei que fosse culinária. Você parece entender bastante do assunto.

- Na verdade, fiquei com bastante dúvida. No início da minha adolescência eu tinha certeza de que seria cozinheira, mas assim que eu vi The Flash... Ah, meu coração me disse que forense seria a profissão perfeita pra mim. E como pra isso preciso de medicina...

- The Flash?! - ele se virou completamente pra ela - Você também assistiu?!

- Sim! É a melhor série do mundo! - ela abriu um sorriso tão grande quanto o que ele mostrava agora.

- De vez em quando eu revejo alguns capítulos... Cheguei a ficar triste quando acabou. De saber que não teriam mais episódios, sabe?

- Pois é... - ele compreendia o que ela sentia.

Eles ficaram em silêncio por algum tempo.

- Ei. O que você acha de ver de novo hoje? Depois da janta.

- Boa ideia! Que horas chegamos lá? - ele perguntou

- Ah, não sei. Umas sete?

- Ótimos. Sete - ele sorriu, mas sem coragem de olhar pra ela. Fitou o chão, e sufocou uma gargalhada.

Ela também desviou o olhar, mas agora para a cozinha, onde April e Richie estavam. Ele percebeu que ela havia se virado, e olhou para Spencer. Ela estava distraída, e nem percebia que ele a estava olhando.

- É por isso que o aquecedor não está funcionando!

- Por que? - ele abriu a boca e se virou para onde ela estava olhando.

- Eles abriram a janela da cozinha - Spencer disse dando um passo a frente. Will também deu, e parou ao lado dela.

- É muita inconsequência - falaram ao mesmo tempo. Depois se viraram um para o outro e caíram na gargalhada.