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(quatro anos atrás, no Brasil)
Eram quatro da tarde e April ainda não havia aparecido. Spencer estava deitada sobre a toalha poá de piquenique com um bolo guardado dentro da cesta. O perfume que ele emanava percorria o parque onde marcaram de se encontrar naquele sábado.
Spencer olhou no relógio mais uma vez, imaginando estar louca:
"Ela nunca se atrasou mais de meia hora... Marcamos às três!"
Se levantou e fitou ao redor:
Crianças correndo deixando no ar vozes e gritos histéricos; casais andando lado a lado e algumas pessoas de uniformes verdes varrendo a sujeira. Uma senhora alimentava patos no lago cristalino e outra embalava o bebê no carrinho. Mas nada de April...
Não era impossível irreconhecê-la de longe: cabelos pretos até a bunda, uma franja quase tapando os olhos, roupas escuras e meias até os joelhos; estatura alta e corpo magro. Ninguém assim havia cruzado o parque. Pelo menos não enquanto Spencer havia estado por ali.
Mesmo tendo tentado mandar mensagens ou ligar, sempre atendia a voz robótica e cansativa da caixa postal e então ela jurava desistir e ir embora... Mas tentava de novo e de novo. Até que cansou.
Eram quatro horas passadas quando se levantou, sentiu o vento desarrumar os cabelos descoloridos - ainda não pintados - e fazer o tecido da sua blusa ameaçar levantar. Pegou suas tralhas de piquenique e foi embora.

***

Assim que chegou na casa de April, quem atendeu foi Dylan, um dos garotos que costumavam sair com sua amiga.

- Hey, Spen! - Dylan cumprimentou, abrindo a porta e levantando os braços.

- Oi, Dylan... - ela se envergonhou, imaginando que talvez April estivesse com ele, mas logo depois ficou com raiva por estar sendo trocada - April está? - perguntou

- Na verdade, não sei. Ela só me mandou uma mensagem estranha e eu vim correndo. Depois que não encontrei ninguém em casa, bom... Peguei alguns pedaços de pizza da geladeira e... você sabe. Meu time está jogando hoje, então... - passou a mão pelos cabelos loiros - Aqui estou eu! - sorriu, fechando a porta atrás de si e bebendo um gole da lata de cerveja que, provavelmente, também havia pego dali.

- Que tipo de mensagem foi essa?

- Ah... Algo tipo... Soo ou Oss, tipo isso. Sei lá.

- SOS?! - Spencer gritou, fazendo Dylan tapar os ouvidos e derrubar um pouco do líquido alcoólico no chão, levantado espuma no tapete da sala de estar.

- É, é, acho que sim.

- MEU DEUS, QUAL O MOTIVO DE VOCÊ NÃO TER FEITO NADA? VOCÊ SABE QUE... - Não terminou de falar.

A pele das suas bochechas ardia e se tingia de roxo; corria pelas escadas, mas parecia caminhar em câmera lenta. Surfava no carpete com seus all star's azuis bebê e sentiu as paredes se esmpremendo ao seu redor.
Entrou no quarto. Não estava lá. Não estava na janela, na sacada, dentro do armário, embaixo da cama. Não estava. Não estava no banheiro, nem no lugar onde usava para esconder maconha embaixo do piso. ONDE ELA ESTAVA?
Ouviu um murmúrio pegajoso grudar no ar. Se estendeu até seus ouvidos. Ela estava lá.
Spencer subiu as escadas que davam para o mesanino do quarto de April. Era o closet. Abriu a primeira porta, a segunda, a terceira. Não achou na quarta, mas na quinta tentativa, um dos pés da garota aparecendo no meio de algumas roupas. Ela estava lá. A puxou e a fez cair no chão.

- Ah, Spen... Está muito cedo para sair do armário, não acha - mesmo com a voz grogue, não perdia o bom humor.

- APRIL, POR QUÊ?!

- Eu só estava tentando...

- NÃO FAÇA ISSO DE NOVO! - A mais baixa gritou, segurando a outra pelos ombros e a chachoalhando - NUNCA MAIS! OK?

- OK! - April tentou gritar, mas saiu mais parecido com um guincho.

- PROMETA PARA MIM QUE NUNCA MAIS VAI TENTAR SE MATAR!

- OK, eu prometo - ela falou

- Muito bem, agora me devolve isso - tentou tirar a faca das mãos da amiga.

- Não. Só vou te entregar no dia em que a nossa amizade estiver indo mal, quase terminando. É isso nunca vai acontecer - se levantou com dificuldade e abraçou Spencer

***

(Hoje em dia, no Campus)

Assim que chegou um casa, depois da aula, Spencer olhou para a mesa da sala e viu, brilhando, prateada, a faca daquele dia. Uma lágrima escorreu dos seus olhos, mas April nunca soube disso.

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