Spencer

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02/01/18 - 8:00 a.m

Casa da Spencer

A casa estava parada.
Cheiro de bolo ainda perfumava a cozinha e parte da sala. Deitada no sofá, Spencer dormia e sonhava com coisas que preferia nunca ter sonhado. Já faziam dois dias que ela acordava assim: apavorada, com medo de que tudo aquilo fosse verdade.
O que a despertou foi Fredo, o Buldogue francês que grunhia freneticamente do outro lado do cômodo. Era impossível voltar a dormir.
Foi até a cozinha ainda de olhos semicerrados, com a visão turva e afetada pela luz do dia que já havia nascido. Abriu o saco de pães "bisnaguinha". Comeu duas amassadas com Nutella em cima e voltou para sala com passos pesados de quem ainda está com muito sono.
Ao chegar lá, o telefone apita. Mais uma mensagem. Ao todo são três: duas de April e uma de... Não interessa quem. Essa pessoa ficou pra trás.
Abriu a mensagem que importava:
- oiii, Spen!! Tô com saudadeees.
- Estou precisando de umas roupas novas... Vai comigo no shopping?? Aproveitamos e passamos naquela confeitaria que a gente ama! Xoxo.

April era melhor amiga de Spencer desde muito tempo atrás...
Ela parou para lembrar da história que seus pais sempre contavam para elas:

As mães das duas começaram a trabalhar juntas em uma empresa americana de jóias chamada Byers Ring Company quando tinham apenas 22 anos e, desde então, se tornaram melhores amigas. Assim que completaram 28 anos, e por grande coincidência engravidaram mais ou menos ao mesmo tempo no ano de 2000 (tendo apenas a diferença de três meses o término da gestação); resolveram que as filhas deveriam ser amigas.
Foram praticamente criadas juntas.
April, filha de pais separados, achava no pai de Spencer a figura paterna que nunca teve presente. E Spencer dizia que a mãe de sua melhor amiga era como sua segunda mãe ("só que morena", dizia ela).


Spencer mal percebeu o sorriso que vertia do seu rosto e as lágrimas que lhe escorriam aos poucos pela face. Lembrar de tudo aquilo: os sorvetes de máquina que elas tomavam na loja de doces da esquina, as pedras que ela atiravam no rio e ficavam sentadas observando-as trepidar sobre a água, os segredos que contavam umas para as outras, sempre confiando cegamente.
Agora April não seria apenas sua vizinha, e sim sua colega de quarto. Era um sonho realizado para as duas: faculdade de Toronto, no Canadá. Faltavam apenas três dias para embarcarem em um avião juntas e viverem a vida de estudantes canadenses que sempre esperaram ter.

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