9 //

50 5 0
                                    

Assim que chegaram, Colyn destrancou as portas e os dois saíram dos bancos de trás se despedindo e agradecendo a carona sem muitos floreios.
A noite não estava fria, mas um pouco fresca. Richie usava um moletom listrado, e April já estava usando um casaco quando saiu de casa, mas o levava na cintura.

Já eram oito horas da noite quando passaram pela catraca barulhenta da entrada e abriram espaço entre as pessoas para se acomodarem na segunda fileira.
Logo que tomaram seus lugares, a banda subiu ao palco. Salad Days foi a primeira a tocar, e os dois cantaram junto com a multidão. Era uma música de um dos cantores favoritos de April, e até agora ela não sabia a qual show estava indo assistir.
Richie e April dividiam um cigarro pequeno, e como garantia, ele havia nos bolsos da calça mais alguns, além de uma camisinha de posto e sete dólares. Assim que o primeiro acabou (junto com a primeira música), lembraram que não teriam como acender os outros.

O show foi tomando o rumo que todos os shows normais levam: alguns bebem demais e acabam por vomitar em cantos, outros simplesmente não bebem e cuidam daqueles que se passaram na dose. Também haviam alguns da platéia mais animados, que gritavam e dançavam as músicas como loucos. Também teve a típica hora em que o cantor se ajoelha na beira do palco e dá a mão àqueles da primeira fileira. April percebeu que Richie se lamentava por não estar entre aquelas pessoas. Ela também se lamentava por isso, mas já se sentia muito feliz pela simples oportunidade de estar ali.

Um pouco mais tarde, fizeram amizade com um latino que estava de pé logo na frente deles. Seu nome era Roberto, mas ele preferia ser chamado de Diaz. Ele disse que ao lado do banheiro masculino havia um cara conhecido que vendia isqueiros, erva da boa, e ainda fazia alguns "trabalhos pesados". Os três riram, mas Richie e April se entreolharam, esperando que este último tópico fosse uma brincadeira.
Ele saiu pra comprar o isqueiro, e voltou justamente quando primeiras notas de "My Kind of Woman" soaram. Acendendo um cigarro, April gritou:

- Eu amo essa música!

- Sério? - ele respondeu

- Sim. Por que?

- Essa é a minha música preferida!

- Então porque não me chama pra dançar - ela ergueu as sobrancelhas pra ele, esticando a mão.

Ele a puxou para junto dele é ela riu, com o cigarro entre os dentes, se aproximando.

Todos começaram a cantar:

- "My, my, my... My kind of woman..."

April colocou as mãos ao redor da nuca dele, e sentiu o suor que escorria por trás do seu cabelo escuro. As unhas compridas encostaram na sua pele e o fizeram arrepiar. As borboletas na barriga voavam soltas, e seu coração batia rápido e desregulado.

Richie colocou as mãos na cintura dela e a puxou mais para perto dele.

- "My, my, my... What a girl?"

Tirou o cigarro que estava entre seus dentes. Tragou pela última vez e o jogou no chão, depois pisando em cima. Soltou a fumaça branca, que voava pelo ar livre como uma pomba branca se dissolvendo no meio de tanta gente. Mas não descolou os olhos da sua boca. Os lábios carnudos pintados de marrom escuro e os dentes brancos que escondia por trás daquele sorriso enigmático. O sorriso fácil que ela tinha, ria de qualquer besteira que ele falasse. Era como se ele a quisesse, e ele também a queria.

- "And I down my hands and knees"

Ela o olhou nos olhos. Aqueles olhos escuros. Labirintos. Eram como aquela noite: confusa e apaixonante. Fitou sua boca por um instante. Ele titubeou em aproximar seu rosto, e parou no meio do movimento. Mas ela tomou seu rosto em suas mãos e o beijou devagar. Ele retribuiu, prendendo sua língua quente com a dele e movendo suas mãos até o quadril dela.
April baixou delicadamente os braços e os repousou sobre seus ombros, empurrado o corpo mais pra perto do dele e sentindo a respiração ficar a cada segundo mais pesada.
Os lábios que tinha efeito de borboletas, batendo suas asas leves e delicadas uma contra a outra. Se usando de leque. Piscando e voando no ar. Eles eram borboletas flamejantes.

Um grupo de garotos passou por eles com latas de cervejas fortes furadas nas mãos e um deles gritou:

- Ihhhhhhhh - ele comprimiu os olhos e sorriu, demonstrando malícia.

O outro colocou as mãos ao redor da boca e advertiu:

- Vão para um quarto!!!

Eles riram, ainda com os lábios colados. Richie a beijou com mais intensidade e descolou uma das mãos do corpo dela para mostrar o dedo do meio para todos eles, que riram, indo embora com cheiro forte de álcool e hormônios adolescentes.

- Vamos - disse ela - eles tem razão - e o puxou pelo braço.

Amor em TorontoOnde histórias criam vida. Descubra agora