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Com Spencer e Will saindo para almoçar em uma lancheria barata, e April ficando na casa de uma colega para fazer algum trabalho em grupo, Richie ficou sozinho em casa. Fumava um cigarro, via a fumaça ser levada janela afora pelo vento. O dia estava ameno, mas usava o moletom cor de mel que adorava.
A sala permanecia quieta, e a cabeça dele a milhão. Pareceu prever o toque estridente do telefone. "Steve" a tela apresentava. Era o pai de Richie. Seu coração batia descompassado e a cabeça girava em uma mistura esquisita de ódio e dúvida.
"O que esse merda quer?"

O telefone chamou três ou quatro vezes. Cinco ou seis e então desligou.
Tudo parou, e ele voltou a tragar o cigarro. Névoa branca e solitária flutuando pelo jardim pisado do Campus.
Voltou a chamar. Duas, três, e enfim, na quarta, atendeu.

- O que você quer? - se ouviu dizer, quebrando o silêncio da sala mal decorada.

- Quero te contar uma coisa - a voz de Steve soou jovem do outro lado da linha. Trinta anos apitando nos lábios.

Richie manteve silêncio.

- Não tenho mais dinheiro pra pagar o Campus e então você vai...

- O QUÊ?! - Richie gritou, espantando um grupo de pássaros que havia pousado sobre o batente da janela e interrompendo o pai.

- Você nunca quis estudar mesmo! Seja livre, moleque, vamos. Vai pegar umas putas e fumar qualquer bagulho. Esquece esse lugar, então.

- Mas e a grana que a gente tinha guardada? Não era pra isso que ela servia?!

- Eu... Investi em um campo novo.

- VOCÊ GASTOU O MEU DINHEIRO... COM MACONHA?!

- Rich...

- SEU MERDA, QUE PORRA! - Desligou pensando no que seria dele se voltasse a morar com o pai e deixasse April para trás. Também não veria mais Will, seu melhor amigo, e Spencer, a quem tinha se aproximado. Teria que esquecer os almoços ruins no refeitório, a calefação barulhenta do apartamento e as noites em claro tocando guitarra, ouvindo Will reclamar que queria dormir em paz. Iria voltar para a merda de sempre, com gente que ele não gostava em um lugar que ele não gostava. Acordar cedo com os caras batendo palma na sua porta pra comprar droga, saber que o pai estava no quarto do lado com meia dúzia de prostitutas nojentas de batom babado.
Ele pensava em tudo o que teria que aturar, e o que mais o sufocava, fazia a garganta fechar e o ar faltar:
Ele perderia April, e não havia nada a fazer.

Amor em TorontoOnde histórias criam vida. Descubra agora