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- Spen eu... Ah, esquece. - Will cancelou o recado de voz pela última vez.

Estava há mais de uma hora falando sozinho, criando discursos mentalmente e tentando memorizar tudo o que queria dizer para ela. Era difícil e quase impossível, tentava não chorar ao telefone, não queria parecer fraco, apenas arrependido (por mais que não houvesse acontecido nada). Mas no final era sempre a mesma coisa: quando o 'pi' soava no telefone, após cair na caixa postal - talvez até de propósito, pela parte dela -, ele dizia o nome da garota e então parava, pois estava sem voz e sem palavras. Tinha a garganta pesada e olhos marejados. Apenas não conseguia, mas tentava de novo.
Com todas as frases pensadas, o que havia decorado, o que estava ali segundos atrás; simplesmente sumia e ele clicava no botão vermelho mais uma vez. Já era hora de desistir.

"Ela não vai responder, de qualquer jeito" sua cabeça dizia, latejando.

Então ele bloqueou a tela e foi até a sala. Parte da mobília já havia chegado: Sofá, mesa de jantar e o aparador, além de prateleiras escuras que ainda não haviam sido colocadas na parede. Se sentou. Parou por um segundo e levantou de novo. O telefone tocou e apareceu um nome na tela. Era Spencer.

O coração dele bateu acelerado e pela barriga subiu a sensação gelada de quem se afoga no oceano. Tontura, amargo na língua e entre os dentes. Caminhou com as pernas meio dormentes e chegou até a mesa. E então o telefone parou de tocar. Depois de algum tempo veio o recado:

"- Will, aqui é a Spen. Preciso falar com você... Se é que você quer. Quer dizer... Olha, vou estar hoje naquele lugar. Então... É isso."

Ele ouviu quieto, e quando a voz dela parou de ecoar na cabeça dele, tudo pareceu turbulento. Seus pés pesando sobre o chão, o ar ao seu redor. Parecia que o teto esmagava a sua cabeça e ele estava se expandindo como um balão. Ia explodir a qualquer momento.

Resolveu cozinhar. Isso. Cozinhar acalmaria as coisas.

Amor em TorontoOnde histórias criam vida. Descubra agora