Orixás

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Fundamentos

Há sempre muita curiosidade sobre o que é orixá. Os leigos e iniciantes desejam sempre saber quem é seu Orixá de cabeça. A origem da palavra Orixá é africana quer dizer: ori = cabeça: xá = força. Ou seja, a força da sua cabeça, da sua vida, do seu destino.

A Umbanda é formada por diferentes visões culturais e religiosas. A tradição africana é muito forte, por representar ancestralidade do povo brasileiro. Nossas Pretas velhas e nossos Pretos Velhos superaram a dor da escravidão louvando, cantando e invocando seus Orixás ancestrais, e por isso gerações de mulheres e homens negros afro-brasileiros permaneceram até aqui. Quando estavam no tronco, era rezando para Ogum, Iansã, Xangô e todos os demais Orixás que eles podiam força para sobreviver à escravidão.

Eles conheceram as novas divindades católicas aqui no Brasil. Esse fato gerou o mítico sincretismo, pois os assentamentos (a firmeza) dos Orixás nas senzalas eram disfarçados como altares dos santos católicos para que o senhorio não os punisse por culto pagão.

Para melhor compreender este processo, é preciso se colocar no lugar daqueles que viveram aquele tempo. Imagine-se oprimido pelo poder da chibata e vivendo em condições desumanas de subsistência, higiene, moradia, alimentação e sem nenhuma remuneração. Como você lidaria com a opressão à sua fé, à sua cultura? A sabedoria dos nossos mais velhos foi tão grande que buscaram conhecer as histórias dos santos católicos a quem os padres e proprietários de escravos lhes exigiam devoção. Assim, associaram suas histórias de mártires aos itans (lendas) Africanas dos Orixás. Por exemplo, no Sudeste, associaram a história de São Jorge às lendas de Ogum, as de Nossas Senhora da Conceição a Oxum, as de São Sebastião às lendas de Oxóssi, as de Santa Bárbara às lendas de Iansã, as de São Lázaro a Omulu, São Benedito a Obaluaê, os doze apóstolos aos doze Obás de Xangô, Jesus Cristo a Oxalá e assim por diante. Lembremos sempre que o Brasil é um país de dimensões continentais, portanto as diversidades regionais também prevaleceram neste processo. Por exemplo, na Bahia, as lendas de Ogum foram associadas a São Sebastião e Santo Antônio, e Nossa Senhora dos Navegantes a Iemanjá. Também há diferenças no Sul, no Norte e em outras regiões brasileiras. É muito importantes respeitar este processo, pois, além de não termos vivido esta realidade para defender nossa fé, não se pode esquecer que, sem esta fusão cultural e religiosa, não teríamos as " religiões brasileiras " tais como as conhecemos hoje, como a nossa querida Umbanda e o tradicional Candomblé. Aos militantes mais resistentes ao termo "religiões brasileiras" em vez de matrizes africanas, devemos ressaltar que nossas raízes são, sim, orgulhosamente africanas, mas também são indígenas e multiculturais. Alias, é importante saber que a própria Mãe África, tão diversa, não conhece nossa Umbanda e nem o Candomblé tal como é sistematizado aqui, por um processo de diáspora que, no caso do Brasil, durou quase quatrocentos anos. Muitos elementos se perderam. É claro que se encontra com muita força práticas ritualísticas, mas pouco conseguiram manter a tradição. É importante ressaltar que este registro não constitui uma crítica aos Candomblés menos tradicionais. Apenas considero que não se pode querer diminuir a própria expressão religiosa nacional, que é a Umbanda e o Candomblé com toda sua riqueza cultural e força espiritual. A beleza e a força dos Candomblés tradicionais é algo indiscutível. Além de muito bonitos, são núcleos de resistência e preservação da cultura negra afro-brasileira e oram importantíssimos para preservar o culto aos Orixás, fortalecer, alimentar e abrigar o povo negro perseguido, discriminado e tão incompreendido neste Brasil.

Escritora: Flávia Pinto

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