Feito o registro desta indispensável memória histórica e cultura. Abordaremos agora a visão Umbandista sobre os Orixás. Entendemos os Orixás como forças da natureza que compõem o equilíbrio planetário. Oxóssi é a seiva das matas e o mentor dos caboclos. Iansã é o impulso dos ventos e tempestades, e rainha dos eguns (espíritos desencarnados). Obaluaê é o ventre da terra e o senhor da cura, aquele que preserva nossa saúde física e espiritual. Nanã é a força misteriosa e pouco acessível das profundezas das águas de lagoa, é o barro, o petróleo e único Orixá capaz de nos livrar da morte prematura. Oxum é o essência águas doces, deusa do amor e da maternidade. Xangô é o fogo montanhas, Pai da justiça, do trabalho e protetor da família. Ogum é o ferro, o aço, a tecnologia, é o senhor dos caminhos e o grande vencedor de demandas. Iemanjá é o grande mar, a grande mãe e responsável pelas transmutações energéticas. Oxalá é o sol (Tupã - em alguns casos a mitologia indígena se funde com a africana na Umbanda), o mais sábio, protetor, conselheiro, político e o grande responsável pelas decisões.
Contam as lendas que esses grandes reinos da natureza emanavam suas forças no início da vida no mundo antes mesmo da existência humana na Terra. Quando os primeiros povos africanos foram constituindo, perceberam a dependência da sua sobrevivência em relação aos fenômenos da natureza, passando, assim, a invocar essas forças para harmonizar seus efeitos sobre suas vidas. Com o decorrer do tempo, algumas pessoas passam a cultuar mais umas forças da natureza do que outras e vão gradativamente se especializando no culto daquele campo de força. vão, também, aos poucos, aumentando sua descendência e suas chances de sobrevivência no mundo, Esses grupos familiares iniciais tornam-se clãs, tribos, cidades, estados e reinos inteiros de culto a uma única força da natureza.
Os ascendentes começam a contar aos seus descendentes como seus genitores faziam para vencer as batalhas da vida pela sobrevivência. Nascem, então, os itans (Lendas) e a rica mitologia Yorubá africana. Ou seja, aquilo que os primeiros ancestrais fizeram cultuando determinada força da natureza torna-se a figura humana dos Orixás como semideuses, forças em forma de mulher/homem que têm o poder de controlar a natureza e o destino humano. A forma como se relacionaram com a sua família, com seu povo e seus amores gerou as lendas que conhecemos e formaram as famílias/clãs dos Orixás, como por exemplo família Oxóssi, família de Oxum etc. Na Nigéria muitas dessas famílias/ clãs têm o o nome de seus Orixás de sua árvore ancestral registrado civilmente, por isso no Brasil convencionou-se chamar muitas mães e pais como fulana de Iansã, fulano de Obaluaê.
Esta forma fascinante de conceder a criação do mundo torna mais fácil compreender por que algumas pessoas já nascem sentindo que são ligadas a um núcleo de pessoas e a uma força, e por que, enquanto não se reconectam como ela, sentem-se fracas, buscam caminhos para reencontrar-se consigo próprias e com sua ancestralidade.Provavelmente é porque pertencem a uma dessas tribos ou reinos. Os descendentes de cada tribo trazem na sua composição física uma influência predominante do campo da natureza ao quais seus primeiros ancestres estão ligados.
Todos temos uma raiz ancestral que se conecta com as forças da natureza, desde que o mundo é mundo. Mesmo que dentro da sua trajetória evolutiva, a pessoa tenha trilhado outros caminhos, em algum momento sentirá a lembrança inconsciente desses cultos e formas de se relacionar com o mundo e com a vida. Por isso, quando integra uma família espiritual dentro de um Terreiro, sente-se bem e em paz. Essa energia da natureza cultuada pelos seus antepassados normalmente é o que define o seu Orixá, a força natureza que rege a sua cabeça. Por exemplo, se sua família ancestral cultuava Iemanjá, ou a terá como herança em seus caminhos.
No momento do transe do Orixá, o que se manifesta na cabeça do médium são esses primeiros ancestrais que cultuavam aquele Orixá. Não Acreditamos que o próprio Orixá possa descer na pessoa, pois isto levaria à morte. Ninguém conseguiria receber, por exemplo, toda a força de uma cachoeira de mãe Oxum em sua cabeça: isso simplesmente causaria um efeito fulminante. Este exemplo é válido para todos os outros Orixás possa ser na pessoa, pois isto levaria à morte. Ninguém conseguiria receber, por exemplo, toda a força de uma cachoeira de mãe Oxum em sua cabeça: isso simplesmente causaria um efeito fulminante. Este exemplo é válido para todos os outros Orixás. Quando a pessoa sente este chamado para cuidar da sua cabeça e para melhorar seu bem- estar, é importante saber qual o Templo/Terreiro e qual a tradição a que você deve se vincular. Umbanda ou Candomblé. Em ambos os casos, escolha um lugar sério e passe a conhecer mais a religião.
Na Umbanda, a melhor forma de cuidar da sua cabeça, ou seja, se fortalecer espiritualmente, é praticando a caridade espiritual através do exercício mediúnico bem-orientado e disciplinado. A prática das oferendas ocorre em alguns Templos de Umbanda e em outros, não; mas mesmo os que realizam estas práticas não substituem o exercício mediúnico por elas. É isso que ativará essa força ancestral que o médium traz, mas ainda não sabe usar em favor de si próprio e de toda a coletividade, como fazem as aldeias africanas e indígenas. nelas predomina a sabedoria de que, para manter-se vivo e em equilíbrio, um deve cuidar do outro. É exatamente este costume tradicional que devemos resgatar, voltarmos a cuidar uns dos outros, e assim estaremos cuidando da nossa cabeça, partilhando a força que o Orixá nos dá. Esta é a maior caridade da nossa religião, cuidarmos uns dos outros.
Sugiro àqueles que gostam das lendas que as pesquisem em literaturas sérias. Existe muito material falando sobre lenda indígena e africanas. Aqui preferimos cumprir o papel informativo a que o livro se destina: apresentar a Umbanda ao leigos e responder às perguntas mais frequentes dos médiuns iniciantes. Então, fizemos uma pequena síntese das principais características das energias Orixás e como elas agem, normalmente, na personalidades e se refletem na vida das pessoas. A seguir, um pouco das características dos Orixás, de acordo com a herança que sobreviveu na Umbanda. Não se trata das lendas, que são lindíssimas, mas sim de como estas energias, que são Orixás, de acordo com o que foi explicado anteriormente, se manisfestam junto à personalidade daqueles que os carregam por familiaridade ancestral.
Escritora: Flávia Pinto