Raízes Históricas

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Na Umbanda, o culto aos Orixás é bem parcial em relação às tradições africanas. Cultuamos apenas nove dos mais de quatrocentos. Orixás, Voduns, Nksis existentes na Nigéria, em Benim e em Angola que conseguiram chegar até o Brasil, através dos navios negreiros, e manter seu culto vivo em terras brasileiras. 

    Os traficantes de escravos tinham a cruel estratégia de separar os núcleos familiares e as tribos que eram traficados, para enfraquecê-los emocionalmente e lhes dificultar a fuga. Esta separação era feita na ilha, Goreia em Dakar, Senegal. Alí  era o principal porto de tráfico negreiro da África, a chamada "Casa dos Escravos "  ( onde estive em 2009).                                                                                                         Para dificultar ainda mais, ao chegarem ao Brasil, os africanos eram deixados em regiões diferentes do país, evitando que , uma vez unidos, ficassem mais fortes e tentassem fugir. Esses homens e mulheres negros eram levados para as senzalas sem falar sequer a mesma língua. A estratégias era misturar ao máximo as etnias, e por isso foi muito difícil recriar suas práticas ritualísticas, culturais e religiosas em solo brasileiro.                                                      
Em muitos locais foram os indígenas, donos das terras brasileiras, que socorreram nossos ancestrais negros quando os mesmos precisavam invocar ou cultuar um Orixá, Vodum, ou simplesmente um ancestral, e não encontravam os elementos da sua terra para fazerem seus rituais de cura, oferendas, ebós, mandingas e mironga para se fortalecer e enfrentar a escravidão. Na ausência de folhas, favas, ervas, frutos, animais, otás e elementos na fauna e na flora brasileiras.  Foram os Pajés, Caciques, Erveiras e parteiras indígenas que lhes ensinaram os segredos das encantarias brasileiras que tinham efeito equivalente ás folhas africanas.  

     Ambas tradições são riquíssimas, mas nada se compara ao espírito de solidariedade que muitas tribos indígenas tiveram com nosso povo africano em seu momentos  de dor e padecimento nas senzalas. Como sempre nos falaram Vovó Joana D' Angola e Caboclo Ventania, os indígenas e negros aprenderam muito uns com os outros (visitei aldeias indígena em 2007 e foi rico ouvir seus relatos). Muitos quilombos foram construídos conjuntamente pelos povos indígenas e africano. Eles davam os caminhos para encontrar um local apropriado para sua instalação e os instrumentos necessários para a construção e alimentação. Este é um pedaço da história que precisa ser revivida por nós, praticante das genuínas religiões brasileiras. Os dois povos trocaram magias, feitiços, formas de lutas, estratégias de sobrevivência, culinária, amor, misturando seu sangue através da miscigenação para construir  esta nação brasileira que tem muitas culturas, mas tem a sua principal matriz no povo originário indígena que, segundo os laudos antropológicos, se encontram nesta terra há mais de 48 mil anos.  A Umbanda tem uma reinterpretação dos Orixás que se mescla com a visão indígena, dentre outras, Existem Templos que cultuam sete Orixás e outros que cultuam mais do que os nove retratos aqui. Tudo isto é decorrente da multiculturalidade presente no Brasil.

Escritora: Flávia Pinto

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