Vinte e um

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Quando cheguei em casa, meu pai já me esperava na poltrona da sala. Sua expressão estava dura e rígida, assim como seu olhar.

— Eu sinto muito, pai.— falei antes de dar da chance de ele falar algo.

Seus óculos de leitura deslizaram para a ponta de seu nariz enquanto ele me analisava de cima a baixo.

— Onde você estava?— ele perguntou.

— Na casa de Joyce.— menti.

— E porque não voltou no horário?

— Eu me distrai e acabei pegando no sono no apartamento dela.— menti outra vez.

Meu pai não pareceu nem um pouco convencido com a minha explicação. Eu me considerava boa em mentir, mas fazer isso para o meu pai era sempre uma tarefa difícil. Ele sentia o cheiro de mentira a quilômetros de distância.

Nem ousei piscar.

Então, meu pai acenou com a cabeça mas percebi que ele não acreditou em mim. Papai sempre confiou em mim.

— Tudo bem.— suspirei de alívio.

— Agora diga a verdade.— ele disse e meus ombros caíram em derrota.

Abri a boca descaradamente.

Não sei se foi por ter sido pega de surpresa ou se foi por que eu ainda queria que ele acreditasse no que eu disse.

— Essa é a verdade.

Não podia lhe dizer a verdade.

O que eu diria ao meu pai? Estou transando com um cara papai, ah! E ele é um bandido, sabia?

Eu não podia dizer a verdade, nem meia verdade. Se eu dissesse a ele que estava saindo com um cara qualquer, meu pai certamente iria querer saber quem é e conhecê-lo.

E conhecê-lo eu digo, querer puxar sua ficha de antecedentes criminais na polícia.

Sua expressão reprovadora e meio decepcionada pela minha mentira me deixou com um pouco de peso na consciência.

— Tudo bem, então. Você está proibida de sair, seja para encontrar Joyce ou qualquer outra pessoa, enquanto continuar mentindo para mim.

— Pai!— exclamei desesperada.

Ele estava irredutível, sabia que não conseguiria provar ao contrário. Revirei os olhos derrotada e com raiva sai batendo o pé até chegar ao meu quarto.

Merda.

...

Mais tarde naquele mesmo dia, liguei para Joyce e ficamos conversando.

— Foi incrível.— eu disse me referindo à noite passada.

— Uau! Eu sabia que no fundo vocês dois se entenderiam. Ele apareceu desesperado no meu apartamento e me implorou para te encontrar no pub. E eu deixei, em nome do amor, é claro.— Joyce suspirou toda romântica.

Revirei os olhos.

Às vezes ela era tão brega.

RupturaOnde histórias criam vida. Descubra agora