Vinte e quatro

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                             Kyle

A semana que se passou, foi perfeita demais para ser verdade. Cameron estava espalhada na minha cama, de bruços, nua e com os lençóis amarrotados ao seu redor. Ela era bem espaçosa, ocupava quase toda a cama com seus braços e suas lindas pernas longas esticadas.

Eu a idolatrava.

Quanto mais eu a conhecia mais um sentimento esmagador crescia dentro de mim.

Eu a amava.

Não sei como exatamente descobri isso, pode ser quando eu a vi pela primeira vez, quando minha mão estava tapando sua boca para que não gritasse e com os seus olhos cor de mel arregalados de medo, pode ter sido quando ela abriu a boca pela primeira vez para me proferir insultos, ou quando ela sorriu pra mim pela primeira vez.

Só sei que o sentimento estava lá e que crescia cada vez mais a cada dia que passava.

Eu não conseguiria dormir mais de qualquer forma.

Minha paz fora roubada, outra vez.

Eu estava fazendo de tudo para manter em segredo meu envolvimento com a gangue fora do meu relacionamento com Cameron. Tentando provar que eu não era um bandido e ser digno dela.

Mas eu era.

Sempre fui.

Esfreguei as mãos no rosto, cansado.

Johan tinha me ligado.

Tínhamos uma missão.

Eu já não aguentava mais.

Entrei para gangue quando eu tinha treze anos, mas a minha vida já era uma desgraça antes disso.

Eu comecei com serviços pequenos, como receber alguns pacotes cheios de dinheiro e entregar a Johan, avisar quando a polícia chegasse no território demarcado como "dele" e essas coisas, ganhava alguns trocados, para colocar comida dentro de casa mas esses trocados, minha mãe ou o filho da puta do meu padrasto me tomava para comprar droga.

Eram dois filhos da puta viciados.

Aos quinze anos, Johan percebeu que eu seria muito lucrativo para ele, subi um pouco na hierarquia da gangue. Até eu ser preso e ter ficado quase três anos no reformatório.

Acho que eu preferia ter ficado no reformatório, do que ter saído dele para enfrentar a vida lá fora, com Johan, com a gangue.

Pelo menos lá, eu podia estudar, aprender um ofício, para que, quando eu saísse, pudesse trabalhar mas sabia que isso não era possível, Johan jamais permitiria.

Se eu tivesse sido preso por causa de algum negócio a mando de Johan, teria sido fácil, já que ele comprava todos os policiais do estado, se fosse esse o caso, eu não teria sido preso.

Ainda bem.

Meus anos no reformatório não foram piores, do que os anos juntos com a gangue.

Mas o que eu tinha feito era imperdoável, aos olhos da justiça.

Minha mãe me odiava por isso.

E eu não me arrependia.

Fiz justiça com as minhas próprias mãos.

Faria de novo.

Sai do reformatório aos dezoito. Voltei para a gangue de Johan, claro. Com mais ódio do que quando eu entrei.

Ganhei mais dinheiro do que eu ganharia trabalhando honestamente o resto da minha vida. Mas eu não me importava, eu já não ligava para mais nada, tinha aceitado que o meu lugar era no inferno e eu não tinha salvação.

RupturaOnde histórias criam vida. Descubra agora