Quarenta e Três

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É incrível como tudo pode mudar em questão de minutos e se transformar no cenário em que você mais teme. Não há nenhuma vida totalmente tranquila e livre de problemas o que temos são apenas momentos de tranquilidade.

O pior está sempre à espreita, só esperando você pensar que está tudo perfeito e derrubar tudo.

Era tarde da noite. Eu estava morta depois de ficar o dia inteiro na faculdade terminando mais um trabalho e estudando para as provas. Kyle estava fora da cidade o que colaborou para que eu conseguisse ser mais produtiva.

Cheguei em casa e todas as luzes estavam apagadas. Ia subir as escadas quando escuto a voz do meu pai na sala.

— Cameron.

Pulei com o susto, colando a mão no peito. Tentando acalmar as batidas do meu coração. Pensei que ele já estaria na cama há esse horário.

— Nossa, pai! Você me assustou.

Meu pai tinha uma expressão séria e sombria.

— O que tá fazendo no escuro? — perguntei.

Ele permaneceu calado. Meu coração batia muito forte, tanto que parecia que o som estava saindo para fora.

— Pai? — chamei-o.

— Sente-se aqui, Cameron — ele apontou com a cabeça para o sofá na sua frente.

Engoli em seco.

Sentei no sofá.

Meu pai mexeu nos óculos de leitura e, eu nem tinha visto, ao seu lado uma pilha de papéis, da qual ele jogou na mesa de centro. Entendi que ele queria que eu visse do que se tratava aquela pilha de documentos.

Peguei aqueles papéis com a mão trêmula, eram sobre Kyle. Sua ficha de antecedentes criminais, fotos que incriminavam-o e provava o tipo de trabalho que ele fazia. Fotos dele na companhia de criminosos bastante conhecidos pela polícia. Fotos dele na companhia de Hunter.

Apontava naqueles documentos que ele traficava drogas e armas, mas a sua especialidade era roubo de carros de luxo, e que ele era muito bom naquilo.

Haviam também, fotos dele no tempo em que ele foi parar no reformatório de adolescentes.

Mas nada, absolutamente nada me preparou para o que eu vi a seguir: uma reportagem de uma cidade pequena, onde um garoto de apenas quinze anos que matou o padrasto. A mãe do garoto tinha sido morta pelo companheiro minutos antes.

O garoto era Kyle.

Ele estava mais jovem na foto, seu cabelo estava grudado na testa, ele tinha um corte no supercílio, seus olhos eram fundos, como se ele não dormisse há dias... aquele menino estava em sofrimento. Sua expressão era ódio puro mas também de cansaço.

Passei as folhas e estremeci com a imagem de um cara gordo no chão, morto. Havia tanto sangue em volta, foi a pior coisa que já vi na minha vida. A pior imagem foi na folha seguinte, uma mulher extremamente magra, desnutrida e também morta.

Sua cabeça estava aberta no chão. Era tanto sangue. O pior pesadelo possível. O nome da mulher no laudo médico era Liliana Rose Reeves.

Lily.

Kyle tinha me dito que o nome de sua mãe era aquele.

O laudo médico apontava a causa da morte, uma série de causas e também dizia que ela havia sido estuprada antes de ter seu crânio esmagado contra o concreto.

Larguei os papéis não suportando ler mais nada e nem ver mais nenhuma foto. Meu pai suspirou, uma das poucas reações que ele esboçou até agora.

Eu queria chorar. Chorar pelo menino e a mulher da foto. Por tudo... aquilo era horrível.

RupturaOnde histórias criam vida. Descubra agora