Vinte e sete

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                                Kyle.
                             Antes.
Aos dez anos de idade.

Hoje era dia vinte e um de fevereiro.

Era meu aniversário de dez anos.

Mas esta manhã, minha mamãe não lembrou, porque ela ficou deitada o dia inteiro dormindo. Ela sempre dormia muito depois enfiar aquela agulha grande e fina em seu braço.

Abri a porta da minha casa.

Eu não gostava daquele lugar.

Preferia ficar na escola ou na rua brincando com meus amigos, mas a mãe deles sempre os chamavam de volta para casa para jantar.

Mamãe nunca havia me chamado para jantar depois de eu ter brincado na rua com outras crianças.

Mas eu ainda tinha esperanças de que um dia no meu aniversário, eu chegaria em casa e minha mãe teria feito um bolo de chocolate com velinhas para eu assoprar e fazer um pedido, como nos filmes da televisão.

Mas estava tudo do mesmo jeito.

Estava tudo escuro, uma bagunça, cheirava muito mal, havia roupas sujas, latas de cerveja por toda parte e restos de comida podre espalhadas.

Senti meus ombros caírem em decepção.

Mamãe continuava deitada do mesmo jeito que de manhã no sofá velho e rasgado.

Senti minha barriga roncar.

Andei pela pequena casa e percebi que estava sozinho com minha mãe.

Ainda bem.

Porque quando o monstro chegasse, nossa paz seria perturbada e o silêncio não existiria mais.

Ouvi o miado do gatinho de dentro do meu quarto.

Minha empolgação voltou.

A gatinha!

Eu tinha achado a filhotinha de gato em uma caixa velha abandonada na rua, há alguns dias atrás. Então eu a trouxe comigo.

Corri até o meu quarto que tinha apenas um colchão velho no chão onde eu dormia. A gatinha permancia dentro da caixa de papelão que eu havia a encontrado, e ela não parava de miar. Peguei a pequena gatinha com as mãos.

Quando a encontrei na rua com os meninos, eles disseram que ela era uma "garota", eu não sabia se era realmente, mas não tinha problema, assim eu poderia chamá-la de Lily, o mesmo nome de minha mamãe.

— O que foi, gatinha?— perguntei baixinho acariciando seu pelo negro como carvão, seus olhinhos eram dourados cor-de-mel e pequeninos.

Ela miava sem parar.

— Acho que você está com fome.— constatei.

Eu também estava com fome, eu entendia completamente.

Fui até a cozinha na ponta dos pés com a gatinha em meus braços e abri a geladeira velha e amassada por um chute dado pelo monstro, não havia muita coisa. Apenas umas latas de cerveja e uma caixa de leite.

RupturaOnde histórias criam vida. Descubra agora