Trinta e dois

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Abri a porta de casa, segurando meus sapatos de salto alto nas mãos, para não acordar meu pai com o barulho. Eu estava me sentindo um caco.

Subi as escadas em direção ao meu quarto, a primeira coisa que vi foi a janela aberta e a cortina balançando com o vento.

Larguei meus sapatos no chão, fechei as janelas e as cortinas. Olhei para a minha cama e desejei apagar todas as lembranças que tinha de Kyle ali.

Ele iria quebrar a cara de viesse aqui, as janelas de agora em diante estariam fechadas para sempre para ele.

Olhei-me no espelho do banheiro e pulei de susto ao ver o meu reflexo.

Eu nunca tinha me visto tão destruída, meus cabelos estavam parecendo um ninho de passarinho de tão embaraçado, rímel e lápis de olho formaram uma trilha escura e grossa nas minhas bochechas. Os meus estavam olhos inchados e vermelhos pelo choro.

Ridícula.

Patética.

Foi o que eu pensei ao ver minha imagem refletida naquele espelho.

Entrei no chuveiro, deixando a água levar todas as lembranças ruins daquela noite, mas elas insistiam em ficar se revirando na minha cabeça o que me fez chorar e soluçar.

Como eu pude ser tão idiota? Eu estava me tornando aquilo que sempre abominei. Garotas, como a minha melhor amiga que sofriam e choravam por mentirosos.

Saí do chuveiro e decidi não passar a noite no meu quarto, me arrastei pelo corredor até o quarto de hóspedes.

Quando deitei na cama, olhando para o teto, lágrimas escorriam pelas minhas têmporas molhando o travesseiro.

Eu vou superar isso.

Sou forte o suficiente.

Eu tentava me convencer daquilo, mas naquele momento parecia impossível.

Eu daria qualquer coisa para arrancarem aquela sensação esmagadora de tristeza e angústia do peito, e também aquele sentimento que no fundo sempre neguei um pouco mas sabia que estava ali.

Queria arrancar o amor que eu sentia por ele.

...

Acordei tarde no dia seguinte, sentindo o meu rosto inchado pelo sono e pelo choro. Ainda fiquei alguns minutos deitada, tentando encontrar ânimo.

Depois de lavar o rosto e escovar os dentes me senti um pouco melhor. Desci as escadas encontrando meu pai ouvindo Bee Gees no seu toca-disco dos anos 80 e lendo seu jornal da manhã.

Ele levantou os olhos do jornal por um segundo e voltou se concentrando na leitura.

— Bom dia, dorminhoca. Já passa da hora do almoço.

— Bom dia, pai.

— A festa se Joyce foi boa? — ele perguntou.

Engoli em seco.

Uma merda, pai. Descobri que o meu namorado é um mentiroso de merda. Já te disse que ele é um criminoso?

— Foi ótima.— menti forçando um sorriso.— Bem animada...

Ele assentiu com a cabeça ainda mais concentrado na leitura do que em mim. Tudo bem, era melhor que ele não fizesse muitas perguntas ou então eu corria o risco de cair no choro.

Mais tarde naquele dia, depois de almoçar e ficar assistindo jogo de futebol com o meu pai, olhei meu celular na bancada da cozinha. Eu o tinha desligado nessa madrugada quando cheguei em casa, pois não queria receber mensagens ou ligações de Kyle.

RupturaOnde histórias criam vida. Descubra agora