— Nós não queríamos que você soubesse na escola ou pelos jornais, — Jennifer põe o último pedaço de muffin na boca. —Você tem certeza que está bem?
Abro a máquina de lavar louça e encosto-me ao vapor de água que flutua para fora dela. Gostaria de poder rastejar e me enroscar entre uma tigela e um prato. ["Minha madrasta"] Jennifer poderia trancar a porta, girar o mostrador para ESCALDAR, e pressionar ON.
O vapor congela quando chega ao meu rosto. — Estou bem, — eu minto.
Ela alcança a caixa de biscoitos de aveia com passas que está na mesa. —Isso deve ser horrível. — Ela puxa a tira da caixa. —Pior que horrível. Você pode me passar uma vasilha limpa?
Eu pego uma bacia de plástico transparente e fecho a porta do armário e a entrego a ela. — Onde está o papai?
— Ele tem uma reunião de posse.
— Quem lhe contou sobre Cassie?
Ela desintegra as bordas dos biscoitos antes de colocá-los na bacia, para fazê-los parecerem que foram assados por ela ao invés de comprados. —Sua mãe ligou noite passada, com as notícias. Ela quer que você visite a Dra. Parker imediatamente, ao invés de esperar a próxima consulta.
O que você acha? — eu pergunto.
É uma boa ideia, — diz ela. — Vou ver se podem te encaixar esta tarde.
— Não se incomode, — eu puxo a parte superior da máquina. Os vidros vibram dando pequenos gritos quando eu os toco. Se eu pegá-los, quebrarão. —Não há por que.
Ela pausa quase desmoronando. — Cassie era sua melhor amiga.
— Não mais. Eu verei a Dra. Parker na próxima semana como o planejado.
— Eu acho que a decisão é sua. Prometa-me que vai ligar para sua mãe e conversará com ela sobre isso?
— Prometo.
Jennifer olha para o relógio do micro-ondas e grita:
— Emma - quatro minutos!
["Minha meia irmã"] Emma não responde. Ela está na sala da família, hipnotizada pela televisão e uma tigela azul de cereal.
Jennifer mordiscou um biscoito. — Eu odeio falar mal dos mortos, mas estou feliz que você não vai poder mais sair com ela.
Eu empurro a parte superior de volta e puxo a parte inferior.
— Por quê?
— Cassie era uma encrenca. Ela poderia ter te levado junto com ela.
Eu pego a faca de cortar carne escondida entre as colheres. O cabo preto está quente. Quando eu a solto, a lâmina fatia o dividindo a cozinha em rodelas. Lá está Jennifer, colocando os biscoitos comprados em uma vasilha de plástico para sua filha levar para a escola. Lá está a cadeira vazia do papai, fingindo que ele não tem escolha sobre aquelas reuniões logo cedo. Lá está à sombra da minha mãe, que prefere o telefone porque o cara-a-cara toma muito tempo e geralmente acaba em gritos.
Aqui está uma garota segurando uma faca. Há gordura sobre o fogão, sangue no ar e palavras raivosas empilhadas nos cantos. Somos treinados para não ver, não ver nada disso.
... corpo encontrado em um quarto de motel, só...
Alguém arrancou as minhas pálpebras.
— Graças a Deus, você é mais forte do que ela era, — Jennifer termina o café e limpa as migalhas dos cantos da boca.
A faca desliza para o bloco açougueiro com um sussurro. — Sim. — Pego um prato, limpo, livre de sangue e cartilagem. Ele pesa quatro quilos e meio.
Ela tira a tampa da caixa de biscoitos. — Eu tenho um compromisso atrasado. Você pode levar Emma para o futebol? O treino começa as cinco.
— Aonde?
— Richland Park, um pouco depois do shopping. Aqui. — Ela me entrega a caneca pesada, uma crescente marca sangrenta de seu batom na borda. Eu a coloco em cima do balcão e guardo os pratos a tempo, os braços tremendo.
Emma entra na cozinha e coloca sua tigela de cereal, quase cheia com leite cor do céu, ao lado da pia.
Emma arrasta-se em direção a sua mochila, os cadarços dos tênis desamarrando-se. Ela ainda deveria
estar dormindo, mas a esposa do meu pai, a leva mais cedo para a escola quatro dias por semana para aulas de violino e conversação de francês. Alunos da terceira série não são muito jovens para aprimoramento, você sabe.
Jennifer se levanta. O tecido de sua saia está tão apertado em suas coxas, os bolsos escancaradamente abertos. Ela tenta suavizar as rugas. —Não deixe Emma a convencer a comprar batata frita antes do treino. Se ela ficar com fome, pode pegar uma macadamia.
— Devo ficar por perto e trazê-la para casa?
Ela balança a cabeça. Os Grant o farão. Ela pegou seu casaco das costas da cadeira, coloca os braços na manga e começa a abotoar. — Por que não comeu nenhum muffin? Comprei laranjas ontem, ou você poderia fazer torradas ou waffles congelados.
["Porque eu não posso deixar-me querê-los"] porque eu não preciso de um muffin (410){1}, eu não quero uma laranja (75) ou torradas (87), e waffles (180) me fazem vomitar.
Eu aponto para o prato vazio em cima do balcão, ao lado do amontoado de frascos de comprimidos e da caixa de Bluberridazzlepops{2}. — Eu tenho cereal.
Seus olhos disparam para o armário onde ela tinha posto meu cardápio. Ele veio com os papeis de licença quando eu me mudei há seis meses. Eu o peguei três meses atrás, no meu aniversário de dezoito anos.
—Isso é muito pouco para se alimentar, — diz ela cuidadosamente.
["Eu poderia comer a caixa inteira"] Eu provavelmente não preencherei a tigela. — Meu estômago está indisposto.
Ela abre a boca novamente. Hesitante. Um sopro azedo de café golpeia o ar matinal da cozinha e me atinge.
Não fale - não fale.
— Acredite, Lia.
Ela falou.
— Esse é o problema. Especialmente agora. Nós não queremos...
Se eu não estivesse tão cansada, eu empuxaria confiança e ligaria o triturador de lixo e o deixaria ligado o dia todo.
Eu pego uma bacia grande da lava louças e coloco sobre o balcão. —Eu. Estou. Bem. Ok?
Ela pisca duas vezes e termina de abotoar o casaco. — Ok. Eu entendo. Amarre seu tênis Emma, e vá para o carro. —Emma bocejou.
— Espere. — Eu abaixo e amarro os cadarços de Emma. Nó duplo. Eu olho para cima. — Eu não posso continuar fazendo isso, você sabe. Você já está velha demais.
Ela sorri e beija minha testa. — Sim você pode, boba —. Quando eu me levanto, Jennifer dá dois estranhos passos em minha direção. Eu espero. Ela é uma pálida, redonda mariposa, empoeirada em fragilidade, vestida para o dia com sua pasta de banqueiro, bolsa, e o controle de arranque da SUV alugada. Ela treme, nervosa.
Eu espero.
Este é o momento em que devemos nos abraçar ou beijar-nos ou fingir que o fazemos.
Ela amarra a faixa na cintura. — Olhe... apenas continue o dia. Ok? Tente não pensar muito em certas coisas.
— Certo.
— Diga tchau à sua irmã, Emma. — Jennifer sugeriu.
—Tchau, Lia. — Emma acena e me dá um pequeno sorriso deslumbrante. — O cereal está muito bom. Você pode comer o resto da caixa se quiser.
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Obs: Onde tiver essa marcação ["----"] em negrito significa que a personagem esta apenas pensando e não falando.
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A garota de vidro
RandomEssa é uma historia pulicada de verdade por uma editora. Como eu, muitas pessoas nunca conseguiram encontrar o livro para comprar. Então consegui uma copia online e vou postar a historia. Sei que o que estou fazendo é errado, mas é para o deleite de...