Depois de um dia perdido em um pesadelo, o carro me leva para longe do cinema, da farmácia, e do motel que tritura garotas em pedaços de tamanhos de mordidas. Nós voltamos para a estrada e para os morros, subindo para as casas McSame do Castle Pines, voltando para a casa de meu pai localizada nas nuvens.
Os três estão sentados ao redor da mesa da sala de jantar, velas saltando para a música de espineta{11} que sai dos alto falantes. O ar está úmido com jantar – sobras de peru, couve de Bruxelas fedido, salada, pães de grão integral, e batatas queijosas, as favoritas de Emma. Uma refeição familiar para lembrar-nos que somos uma família. Nós não somos um reality show (ainda), ou estranhos partilhando uma casa e dividindo as contas. Nós não somos um motel.
Há um lugar vazio através da mesa, de Emma – prato, guardanapo de papel, garfo de aço inoxidável, faca, colher. Mamãe ficou com a prata boa quando meus pais se separaram. Ela veio de Nanna Marrigan, que dizia que comida servida em utensílios baratos tinha gosto metálico. Ela estava certa.
Papai olha para cima, um pedaço de peru dependurado em seu garfo. — Você está atrasada, filha.
Sente-se.
— Eu fiquei até mais tarde para trabalhar em um projeto. Posso comer lá em cima? Estou cheia de lição de casa.
Emma quica em sua cadeira. — Eu fiz as batatas, Lia. Quase sozinha.
Jennifer concorda. — Por favor, Lia. Há um tempo que não tivemos um bom jantar.
Meu estômago aperta. Não há espaço dentro de mim para isso.
— Eu usei o descascador e uma faca, — Emma sorri tanto que o vidro cai do candelabro vibrando. —Mamãe desfiou.
— Isso é incrível, — eu puxo minha cadeira e sento. — Se você as fez, elas devem ter um gosto bom.
Papai engole e pisca para mim.
— Posso pegar a salada? — eu pergunto.
Ele me passa a caçarola cheia de molho e com sobras de peru. Eu tenho que usar as duas mãos para segurála, por que ela pesa mais que tudo na mesa, mais até que a própria mesa, mais que o candelabro e que o armário customizado que guarda a coleção de manequins de vidro de Jennifer.
Eu ponho a louça perto do meu prato. O triângulo PapaiEmmaJennifer se fixa em minha mão alcançando o garfo. Eu pego uma fatia de carne cozida cheia de gordura, molho de sangue (250), e a deixo cair em meu prato. Splat.
Eu ofereço a caçarola para Jennifer. —Quer outro pedaço?
Ela a põe no meio da mesa e conduz a conversa de volta aos problemas de Emma com divisões grandes.
Papai nem sequer tenta esconder o fato de que está olhando para meu prato.
Eu pego um pão de trigo integral (96) do cesto e duas couves de Bruxelas amanteigadas (35), apesar de eu odiá-las. Em Jenniferland, eu sou Um Exemplo e devo pegar pelo menos duas porções de tudo. Eu ponho o pão na borda do prato, as couves de Bruxelas às duas horas e quatro minutos, equidistante. Eu me levanto, assim posso alcançar as batatas queijosas e pegar uma repugnante colher de laranja (70) ao lado do peru.
Só por que eu ponho isto no prato, não quer dizer que eu tenha que engolir. Eu sou forte o suficiente para fazer isso ["as batatas cheiram tão bem"] fique forte, vazia vazia ["as batatas cheiram"] forte/vazia/forte/respire/finja/aguente.
Eu preencho o resto do espaço com salada, pegando cogumelos extras e deixando as azeitonas na tigela. Cinco cogumelos = 20. Como cinco cogumelos mágicos e bebo um grande copo de água e eles florescem em sua barriga como esponjas coloridas de alta profundidade. Forte/vazia/forte.
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A garota de vidro
RandomEssa é uma historia pulicada de verdade por uma editora. Como eu, muitas pessoas nunca conseguiram encontrar o livro para comprar. Então consegui uma copia online e vou postar a historia. Sei que o que estou fazendo é errado, mas é para o deleite de...