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Subir as escadas leva mais tempo que o habitual. Eu durmo no final do corredor, no pequeno espaço ainda decorado como um quarto de hóspedes. Paredes brancas. Cortinas amarelas. O sofá-cama nunca é dobrado, a mesa veio de uma venda de jardim. Jennifer continua se oferecendo para me comprar móveis novos, e tinta ou colocar papel de parede. Digo a ela que ainda não sei o que quero fazer. Eu provavelmente deveria desfazer as pilhas de caixas empoeiradas em primeiro lugar.

Meu telefone estava esperando no topo da pilha de roupa suja, exatamente onde ele caiu quando eu o joguei na parede na manhã de Domingo por que o toque constante estava me deixando louca e eu estava muito cansada para desligá-lo.

... A última vez que ela me ligou, foi há seis meses, depois que eu saí do hospital pela segunda vez. Eu ligava para ela quatro ou cinco vezes por dia, mas ela não atendia ou me ligava de volta, até que finalmente, ela o fez.

Ela me pediu para ouvir e disse que não iria demorar muito.

Eu era a raiz de todo o mal, Cassie disse. Uma influência negativa, uma sombra tóxica. Enquanto eu estava trancafiada, os pais dela a arrastaram até um doutor que lavou o cérebro dela e a sobrecarregou com pílulas e palavras vazias. Ela precisava seguir com a vida dela, redefinir seus limites, afirmou. Eu fui a razão pela qual ela reduziu aulas e falhou em Francês, a causa de tudo que era desagradável e perigoso.

Eu fui o motivo que não a fez fugir no primeiro ano. Eu fui o motivo que a fez não tomar um frasco de pílulas para dormir enquanto seu namorado a traía. Eu a ouvia por horas quando seus pais gritavam e tentavam a transformar em um modelo no qual ela não se encaixava.

Eu entendia o que provocava seus surtos, a maioria deles. Eu sabia o quanto machucava ser filha de pessoas que não te enxergavam, nem mesmo se você estivesse na frente deles pisando em seus pés.

Mas, relembrar tudo era muito complicado para Cassie. Era mais fácil ela me abandonar uma última vez. Ela transformou meu verão em um deserto. Quando as aulas começaram, ela olhava através de mim nos corredores, suas novas amigas em torno de seu pescoço como colares Mardi Gras. Ela me apagou de sua vida.

Mas, algo aconteceu. No tempo morto, entre Sábado à noite e Segunda de manhã, ela me ligou.

É claro que eu não iria atender. Ela tinha discado errado, ou era um trote. Eu não a deixaria me sugar sendo sua amiga novamente apenas para que ela me desse às costas e me esmagasse mais uma vez.

... corpo encontrado em um quarto de motel, só ...

Eu não atendi. Eu não ouvi suas mensagens ontem. Eu estava zangada demais para sequer olhar para o telefone.

Ela ainda está esperando por mim.

Eu me sento no monte de calças de pijamas e moletons não lavados, e pego o telefone. O abro. Cassie me ligou 33 vezes, começando às 11h30min do Sábado à noite.

RECUPERAR CORREIO DE VOZ

—Lia? Sou eu. Ligue-me.

Cassie.

Segunda mensagem: —Onde você está? Ligue-me de volta.

Cassie.

Terceira: —Eu não estou brincando, Overbrook. Eu realmente preciso falar com você.

Cassie, dois dias atrás, Sábado.

—Ligue-me.

—Por favor, por favor, ligue-me.

—Olha, me desculpe por ter sido uma vadia. Por favor.

— Eu sei que você está recebendo estas mensagens.

— Você pode ficar com raiva de mim mais tarde, ok? Eu realmente preciso falar com você.

—Você estava certa - não foi culpa sua.

— Não há mais ninguém com quem eu possa conversar.

—Oh, Deus.

—Estou tão triste. Não posso sair.

—Ligue-me. Está uma bagunça.

Desligou mais duas vezes.

3h20, muito arrastada: —Eu não sei o que fazer.

3h27. —Sinto sua falta. Sinto sua falta.

Eu enfio o telefoneno fundo da pilha de roupas e puxo um pesado moletom antes de ir para o meucarro. O inverno chega mais cedo em Nova Hampshire.

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Obs: Onde tiver essa marcação ["----"] em negrito significa que a personagem esta apenas pensando e não falando.

A garota de vidroOnde histórias criam vida. Descubra agora