Meia hora depois papai abre a porta para mamãe. A voz dela na sala me chicoteia para minha cadeira com videiras espinhosas. A última vez que a vi foi em 31 de Agosto, o dia em que fiz dezoito anos.
["Eu não posso vê-la me ver agora"] forte/vazia/forte.
O rompimento com minha mãe era a mesma velha história contada um milhão de vezes. Menina nasce, menina aprende a falar e andar, menina pronuncia palavras e cai. Muitas e muitas vezes novamente. Menina esquece-se de comer, perde a adolescência, a mãe lava as mãos da Garota, esfregando com sabão cirúrgico e com uma escova durante três minutos completos, em seguida usando luvas antes de entregá-la aos especialistas e dizer para eles fazerem testes à vontade. Quando a deixam sair, a Garota se rebela.
Mamãe entra na sala de jantar, e Jennifer desaparece, puf! Isso contrai as leis da física para ela, ocupar o mesmo lugar que a primeira esposa.
— Rodadas até tarde? — papai pergunta. Mamãe o ignora e caminha em minha direção. Ela beija minha bochecha e me puxa para me estudar com sua escaneadora visão de Raios-X/MRI{13} /GATO. — Como está se sentindo?
— Otima, — eu digo.
Eu tenho sentido a sua falta, — ela me dá outro beijo, lábios frios e rachados. Quando ela senta na cadeira de Jennifer, ela estremece. Seus joelhos agem quando o tempo muda.
—Você parece cansada, — ela diz.
— Panela chamando a chaleira preta, — eu digo.
Dra. Chloe Marrigan usa seu cansaço como um terno de armadura. Para ser a melhor, você tem que dar tudo o tempo todo, e então você tem que dar um pouco mais: cem horas por semana, achatando carregamentos de pacientes, operando milagres da mesma forma que outras pessoas viram hambúrgueres. Mas, hoje a noite ela parece pior que o normal. Eu não me lembro de ver essas linhas ao redor de sua boca. Seu cabelo amarelo cor de milho está domado em uma apertada trança francesa, mas alguns fios de cabelo cinza reluzem à luz de velas. A pele no seu rosto costumava ser ajustada como uma bateria. Agora, está um pouco flácida no pescoço.
Papai tenta uma pequena conversa novamente. — Foi uma cirurgia de emergência?
Ela acena com a cabeça. —Desvio quíntuplo. O rapaz estava uma bagunça.
— Ele fará? — papai pergunta.
Ela coloca seu Pager próximo ao garfo sujo de Jennifer. — É incerto. — Ela mede as três mordidas no peru no lado esquerdo de meu prato e as migalhas de pão que eu espalhei próximo a ele. —Lia parece pálida. Ela está comendo?
— É claro que está, — papai diz.
Levou sete frases dela para me irritar. Essa é uma realização Olímpica de qualificação. Eu fecho minha boca, me levanto, pego meu prato, pego o prato de meu
pai, e saio da sala.
Jennifer e Emma estão na mesa da cozinha, uma pilha de cartões relâmpagos{14} entre elas, então o quiz sobre fatos de divisão pode continuar. Eu carrego a máquina de lavar louça tão lentamente quanto eu posso e transmito as respostas para Emma através de números desenhados no ar por trás das costas de Jennifer.
Papai me chama da sala de jantar. — Lia, volte aqui, por favor.
— Boa sorte, — Jennifer murmura enquanto eu saio da cozinha.
— Obrigada.
Eu coloco os talheres de Emma em seu prato, mas papai diz, — Não se preocupe com os pratos. Nós precisamos conversar.
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A garota de vidro
RandomEssa é uma historia pulicada de verdade por uma editora. Como eu, muitas pessoas nunca conseguiram encontrar o livro para comprar. Então consegui uma copia online e vou postar a historia. Sei que o que estou fazendo é errado, mas é para o deleite de...