... Quando eu era uma garota de verdade, minha melhor amiga se chamava Cassandra Jane Parrish. Ela se mudou no inverno da terceira série. Eu estava sentada com meu queixo no parapeito da janela e observava o outro lado da rua, enquanto descarregavam uma van móvel. Um cara carregava uma bicicleta de criança e uma casa de bonecas rosa. Eu cruzei meus dedos.
Nosso conjunto habitacional ainda estava cru, basicamente esqueletos inacabados de casas e buracos congelados de lama. Eu estava morrendo por alguém da minha idade para brincar comigo.
Minha babá me acompanhou e levou um pote de café para conhecer os novos vizinhos. A casa era exatamente como a nossa só que virada para trás, com o mesmo cheiro de tinta nova e tapetes limpos. A mãe, Sra. Parrish, parecia velha o suficiente para ser avó. Ela tinha olhos azuis que ficavam muito abertos o tempo todo, como se ela estivesse surpresa com tudo que via.
A babá me apresentou e explicou sobre meus pais e suas milhares de horas por semana de trabalho. A Sra. Parrish chamou sua filha do andar de cima. Cassandra Jane gritou de volta dizendo que nunca sairia de seu quarto.
— Suba, querida, — a Sra. Parrish me disse. — Eu sei que ela quer uma amiga.
Cassie estava desembalando uma caixa de livros de bolso. Quando ela ficou de pé, ela era uma cabeça mais alta que eu, com seus longos cabelos loiros que caíam em cachos por suas costas. A princípio, ela não falou, nem sequer me olhou nos olhos, mas ela me deixou segurar seu rato, Pinky. As batidas do coração dele vibravam contra as pontas de meu dedo.
O quarto dela era do mesmo tamanho e formato que o meu, mas cheio de coisas diferentes: uma cama de dossel circundada com cortinas de renda, a casa de bonecas marcada com rabiscos de lápis- cera preto, um espelho grande e estreito que estava sozinho no canto, e uma estante de livros que não parecia suficientemente grande para guardar todas aquelas caixas de livros. Ela me mostrou suas bonecas antigas e sua coleção de cavalos de plástico, e o melhor de tudo, um verdadeiro baú do tesouro que tinha rubis e ouro e um pedaço de vidro do mar verde nascido no coração de um vulcão. Eu disse a ela que o vidro do mar vinha do oceano.
— Este é diferente, — ela disse. —E 'ver-vidro'{6}, como ver com os seus próprios olhos. Se você olhar através dela quando as estrelas estão alinhadas direito, você pode ver o seu futuro.
— Oh, — eu disse, estendendo a mão para a pedra.
—Mas, não hoje, — ela colocou a ver-vidro longe e fechou o baú do tesouro. Eu vi onde ela escondeu a chave.
Sentamo-nos com uma caixa entre nós e começamos a desembalar. Enquanto eu a entregava livro atrás de livro, nós comparávamos séries favoritas e autores e então filmes e programas de TV e música que fingíamos ouvir mesmo que fosse velha demais para nós. Quando a Sra. Parrish e minha babá entraram, Cassie colocou o braço em volta de meu ombro.
— É o destino, — ela disse à sua mãe. —Nós fomos feitas para sermos amigas.
A Sra. Parrish sorriu. — Eu lhe disse que as coisas seriam boas aqui.
O pai de Cassie era nosso novo diretor, contratado do norte do estado depois que o antigo tinha tido um derrame. Sua mãe se tornou nossa líder da tropa Meninas Escoteiras e se voluntariou a acompanhar viagens de campo, e costurava fantasias para nossas brincadeiras escolares. Ela convidou minha mãe para jogar cartas e festas de colecionar recortes e reuniões do clube do livro, mas minha mãe estava muito ocupada transplantando corações. A Sra. Parrish não jogava squash; meu pai não jogava golfe, então, era isso.
Cassie era um pouco temperamental, mas eu me acostumei. Eu dormia na casa dela quase todo fim de semana, mas ela nunca dormiu na minha. Ela não quis falar sobre seu sonambulismo ou acessos de raiva que explodiam quando sua mãe reclamava com ela ou seu pai a fazia fazer as tarefas novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A garota de vidro
LosoweEssa é uma historia pulicada de verdade por uma editora. Como eu, muitas pessoas nunca conseguiram encontrar o livro para comprar. Então consegui uma copia online e vou postar a historia. Sei que o que estou fazendo é errado, mas é para o deleite de...